Eu não sei como sobrevivi a 2020. Não sei se realmente sobrevivi ou quem escreve este texto é apenas uma carcaça, uma parte que ainda luta para se manter em pé. Uma parte que pensa “Gastar meu tempo com uma lista de ‘favoritos do ano’ é pura frustração”.
Do esperançoso começo em janeiro, onde tudo parecia correr bem – até mesmo tive tempo de comprar um novo monitor – chegamos ao ponto onde vimos tudo fechar, forçados a, no meio de uma pandemia, ver a completa apatia da sociedade diante das pessoas pobres, eu perder o conceito do que é viver em sociedade e ainda aguentar olhar para fora da janela em um Brasil que finge “que está tudo normal”.
Até este ano, a minha tendência em escolher os meus favoritos do ano vinha sempre de um conceito de design inusitado, um avanço – mesmo que minúsculo – dentro de um gênero. 2020 foi diferente, tudo muito diferente.
Aquela pessoa que devorou livros e filmes em 2019 se recolheu para áudio dramas como Old Gods of Appalachia, Knifepoint Horror e alguns episódios especiais do No Sleep Podcast. Eu estava muito cansado para leituras, estava muito cansado para filmes. Minhas noites viraram manhãs e as minhas tardes eram o horário de dormir.
Não nego que houve muitos meses que eu acordava mais uma segunda, via mais um acontecimento aterrorizante sobre a indústria de jogos – sejam os casos de assédio na Ubisoft ou em outras desenvolvedoras, a dizimação de desenvolvedores independentes pelos malditos algoritmos ou mais uma pessoa desempregada — e a vontade era jogar tudo para o alto, desistir.
“O que eu faço não tem sentido algum. O mundo está acabando lá fora e eu aqui escrevendo sobre jogo?” é um pensamento com que eu lutei, e contra o qual ainda luto, desde março. Maldito demônio que sussurra no meu ouvido, maldito demônio que às vezes parece que fala mais alto que até a minha própria voz.
Não posso também deixar de levantar a questão de que, para muitos, o que eu descrevi acima é nada. Reconheço mais do que nunca o meu privilégio de poder, apesar dos pesares, continuar a tocar o site sem necessitar de me desesperar por fontes de renda externas, mantê-lo no ar aqui nem que seja como uma fonte de descoberta para jogos independentes, jogos de estratégia em geral ou para saciar a sede dos fãs de Total War (amo vocês!). E, quando possível, soltar algumas entrevistas interessantes, como foi o papo sobre The Signifier e o K-Project da Slitherine.
E, por mais que eu soe como um exército de um homem só, eu não sou. O Hu3Br não teria metade dos artigos se não fosse pela ajuda incrível do sempre presente Roberto Amorim com sua edição afiada e a colaboração na tradução das entrevistas da Flora Pinheiro. Obrigado mais uma vez, de coração, por estarem comigo em mais um ano.
Com isto tudo dito, não preciso dizer que muitos dos meus favoritos do ano estão fortemente conectados a tudo o que eu passei. Sejam os momentos de dor e sofrimento, os momentos em que precisei de alento, de explorar minha criatividade de outras formas. Enfim, os jogos que me fizeram sobreviver em 2020.
Serious Sam 4
Ainda que concorde com outros críticos que, em termos de design, Doom Eternal tem mais “mecânicas envolventes” do que Serious Sam 4, o shooter da Croteam permaneceu no meu computador desde o lançamento pela sua simplicidade e honestidade. A desenvolvedora soube evoluir nas partes necessárias, manter o estilo da franquia, e ainda trazer uma história com uma mensagem muito mais positiva do que se vê em shooters.
Com o modo horda / sobrevivência lançado e um robusto sistema de mods previsto para 2021, as piadas e o exagero de Serious Sam 4 ainda vão ter muito a me oferecer.
Paradise Killer
Meu receio de escrever sobre Paradise Killer se resume a uma única palavra: spoilers. Se eu falar qualquer coisa além do resumo que está na página oficial do jogo eu vou estragar a maravilhosa surpresa que foi ter degustado esse jogo.
A trilha sonora arrebatadora, que foi comentada muito no Twitter seja por mim ou por outras pessoas, é só o começo de uma incrível jornada com reviravoltas fantásticas, personagens excêntricos e uma narrativa que consegue combinar exploração em um mundo aberto com as nuances de uma história como em Phoenix Wright e Danganronpa e te deixar em dúvidas sobre quem é o verdadeiro culpado até o último segundo. O melhor? Quem tem que apontar o culpado é você.
Paradise Killer é ambicioso em sua história, em sua descrição de seus personagens, e até agora eu fico boquiaberto com a maneira como ele conseguiu acertar todos esses objetivos sem deixar a peteca cair. Quiçá um jogo tão impactante quanto Disco Elysium.
“May The Silent Goat Walk with You”.
Paper Beast Folded Edition
O novo projeto de Eric Chai (Another World, From Dust, Heart of Darkness) e da equipe da Pixel Reef, agora finalmente solto das amarras do mundo da realidade virtual, demorou a ressoar comigo. Paper Beast é mais um experimento em criatividade e surrealismo do que qualquer outra coisa.
Se lançado há 9 anos atrás, seria muito mais impactante do que foi agora — especialmente com a proeminência de desenvolvedores independentes no itch.io com tantos projetos tão interessantes quanto.
Mas o que faz com que Paper Beast se destaque diante desses projetos é a peculiar natureza dele, como ele estabelece um diálogo silencioso entre os diversos seres que habitam o seu peculiar mundo. Um ecossistema onde você às vezes se sente como um mero observador, mesmo ciente de que pode influenciá-lo quando quiser.
Acabou por se tornar mais um reduto da minha paz interior nos piores momentos de 2020. Certos dias eu abria o jogo só para ver os seres andarem, interagir com eles, esquecer um pouco da dor que me incomodava tanto naquele momento.
SnowRunner
Eu sei, eu critiquei SnowRunner bastante durante o lançamento, mencionei meus receios sobre a falta de mods, sobre a carência de um sistema de mapas, e se o jogo não tinha caído demais para o aspecto comercial e menos autoral da coisa que era tão vista em Spintires e MudRunner.
Agora no final do ano a Saber Interactive mais do que me provou o contrário com uma série absurda de atualizações, novos mapas, e uma capacidade incrível de entender a comunidade com a qual ela interage. Revigorou o espírito do jogo e o colocou nas mãos da comunidade para eles fazerem o que bem entenderem, aleluia por isto.
Se Spintires / MudRunner trouxe uma visão mais autoral de uma região pouco explorada no mundo dos jogos, SnowRunner traça um baita de um paralelo com 2020. Árduo, muitas vezes desmotivador, mas assim que você vê a menor luz do fim do túnel, pensa “é, pode ser que algo de bom saia daqui”. Ele permanece uma das propostas mais “únicas” no mundo jogos, e uma que eu não pretendo largar tão cedo.
Umurangi Generation
De todos os jogos aqui listados, Umurangi Generation é um dos poucos que chega como um soco no estômago para não te deixar esquecer do que 2020 – e os últimos 10 anos no cenário geopolítico — criaram para a sociedade.
Tendo você um conhecimento da Cultura Maori ou não, a representação até mesmo um pouco surreal de suas fases compõem um cenário de angústia e sofrimento para minorias cujos paralelos não estão muito longe da realidade brasileira. O uso de forças armadas para controlar regiões – ainda mais se estas são do interesse “global” – contrasta com os efeitos nas pessoas envolvidas no conflito, queiram elas ou não. Tudo isso captado pela sua câmera analógica.
Na mesma medida, é um jogo capaz de humanizar e trazer pequenos pedaços de alegria em frente a cenários que podem ser definidos como “catastróficos”. Ver que, apesar de tudo, somos fortes o suficiente para aguentar o que der e vier. Quando nossa mente cansa, nosso corpo segue em frente e diz “só mais um pouco, você consegue”. É emocionalmente carregado e imensamente recompensador e maravilhoso.
Microsoft Flight Simulator
Com mais de 90 horas de voo, dezenas de reais gastos em aeroportos personalizados e uma série de melhorias introduzidas pela Asobo desde o seu lançamento em agosto, Microsoft Flight Simulator está lentamente começando a se tornar o simulador definitivo no tocante à aviação civil.
Embora o caminho para projetos de maior porte — como um possível 737 da PMDG ou uma simulação ainda mais realista de certos sistemas — esteja a alguns meses de distância, Microsoft Flight Simulator não merece estar nesta lista só pelos incríveis visuais, ou pela fidelidade com o qual o mundo foi recriado.
Ele merece estar aqui por ter finalmente democratizado um subgênero que até então era limitado a entusiastas ou pessoas com mundos e fundos para gastar nos seus aviões favoritos. A inclusão da versão Standard no Gamepass e o fato dos requisitos mínimos ainda manterem um grau de fidelidade impressionante mostram o quanto a Asobo Studio — conhecida pelo seu trabalho em Fuel e The Crew 2 — evoluiu nos últimos anos. Se depender de mim, Microsoft Flight Simulator vai continuar nesta lista em 2021, 2022, 2023 e quem sabe até quando… talvez quando a próxima versão for lançada.
Project Wingman
A minha primeira preocupação com Project Wingman era que ele não me prenderia ou me cativaria como aconteceu com Ace Combat 7. Esperava missões simplistas, uma história que poderia ser mais, e um jogo que tinha parado no tempo. O esforço incrível da dupla da Sector D2 me mostrou justamente o contrário.
Project Wingman pega tudo o que havia de bom em Ace Combat 4, 5 e Zero — as diferentes aplicações de aviões, como eles controlavam e tinham designações específicas ao invés da homogeneização de Ace Combat 7 devido ao seu modo multiplayer — te joga em uma história que já começa com uma explosão nuclear e só tende a aumentar a partir daí e faz com que cada batalha aérea seja épica.
Coloque em cima disso um modo conquista que eu ainda estou para ver quando eu vou me cansar de fazer pontuação (ainda bem que não há tabela de liderança online) e Project Wingman é definitivamente o Ace Combat que eu precisava na minha vida.
Shadow Empire
Só um megalomaníaco como Victor Reijkersz da VR para criar algo como Shadow Empires, uma mistura de wargame em turnos, 4X, cartas e geração procedural de planetas. Essa mistureba pode não fazer o menor sentido no papel, e não fazia mesmo — levando em conta que eu fui uma das pessoas que editou o manual em inglês do jogo.
Foi só depois de tê-lo jogado que percebi a ousadia do seu design. Shadow Empire coloca o mesmo peso da importância de logística para as relações com outras facções e a fauna local que varia de acordo com o planeta gerado.
É um jogo que não tem medo de falar “tudo bem se esta mecânica não está tão bem implementada, vamos colocar assim mesmo pois o resto sustenta”. Claro que há tropeços ao longo do caminho, como a necessidade crucial de ler o manual — um trambolho de mais de 400 páginas — e uma interface que até para mim é “arcaica”, com uma estética horrenda.
A versão mais recente, disponível via Steam, chega a corrigir uma parte dos tropeços, mas continuará sendo um jogo para poucos. Aqueles que tiverem paciência para lidar com suas falhas e peculiaridades e ler o manual vão encontrar um dos poucos jogos de estratégia em grande escala que decidiu sair da zona de conforto.
Jet Lancer
Jet Lancer entrou na minha vida como “só mais um shooter 2D” e acabou virando o que eu queria de Luftrausers da Vlambeer. Ele abraça o seu estilão arcade descompromissado com uma história que inclui um gato falante e chefões tirados dos animes mais excêntricos já feitos.
De quebra você ainda leva uma trilha sonora atraente e um modo arcade que continua a ser jogado por mim pelo menos uma vez por semana, e me sinto muito longe de cansar dele. Fica acolhido no meu recanto de caos junto de Serious Sam 4.
Crusader Kings 3
Eu gosto muito dos jogos da Paradox; acho que dá para notar pela quantidade de cobertura que fazemos deles, não é? Crusader Kings 2 era um dos meus favoritos, mas sempre o olhei pelo lado “sistêmico”. Como as mecânicas se interligavam, como uma interagia com a outra, etc.
Foi só com a bela guinada de Crusader Kings 3 (crítica) para o aspecto roleplay, além de uma camada extra que facilita o aprendizado de suas mecânicas mais complexas, que eu comecei a me investir mais em “ser um personagem” em um mundo borbulhando de mudanças radicais.
Essas sementes, plantadas já por Imperator: Rome — que ainda bato o pé e digo que é um ótimo jogo — floresceram com o que considero um dos mais refinados e recheados jogos da Paradox pós-Europa Universalis IV. Com duas grandes atualizações que o melhoraram ainda mais, uma comunidade de mods vibrante e mais conteúdo vindo por aí, não duvido que volte para ele mais e mais vezes.
Desperados III
Eu sou contra ressuscitar franquias, sou avesso a remakes e remasters. Desperados III é uma daquelas exceções que aparecem uma vez a cada dez anos. A combinação da Mimimi Games, já experiente com Shadow Tactics: Blades of the Shogun, revitalizou Desperados de maneiras que eu não acreditava que era possível.
Desperados III não é só o melhor de todos da franquia, ele é o mais acessível, o mais divertido, o mais envolvente e de longe o mais complexo em termos de táticas. Acompanhado a isto vem um suporte pós-lançamento com DLCs que transformaram fases clássicas da série em algo especial e até mesmo um mini-editor de mapas, algo que eu imaginava ser impossível de sair do papel. Ainda permanece firme e forte no meu HD até eu terminar todos os desafios. Quando isso vai acontecer? Sei lá, mas eu ainda não desisti.
Risk of Rain 2
É tão estranho pensar que Risk of Rain 2 foi lançado em 2020; o jogo teve seu início no acesso antecipado e nisto já se vai mais de um ano. Apesar disso, as atualizações finais feitas pela Hopoo Games só ajudaram a defini-lo de vez como o roguelite do ano.
Da diversidade de classes aos diferentes upgrades, o sistema de relíquias, runs diárias e um dos chefões mais absurdamente difíceis e complexos que já vi em qualquer dos jogos do gênero, Risk of Rain 2 é como retornar a uma casa na qual já conheço cada canto, mas ainda assim continuo a apreciar como ela é gostosa de visitar.
Cloud Gardens
Como muito bem coloquei em minha crítica sobre a liberdade de criar o que você bem entende sem uma pressão externa, Cloud Gardens virou um dos meus passatempos favoritos. Quase toda vez que eu sentia uma pressão, uma angústia do ano que me consumia, eu parava, abria o jogo, criava alguma coisa sem nenhum propósito, me sentia ligeiramente feliz e sentia que a minha mente se acalmava.
O jogo da Noio pode ainda estar em acesso antecipado — a única e raríssima exceção que eu faço para um dos jogos do estilo — mas ele, ao longo do agradabilíssimo Townscaper e Fuser (que quase entrou na lista) são algumas das melhores ferramentas de criatividade para iniciantes que já vi por aí. Espero que isso comece a se tornar mais e mais uma tendência da indústria, nem que seja no espaço indie.
Möbius Front ’83
Como um jogo de estratégia, Möbius Front ’83 pode ser uma das opções mais “sem graça” de 2020. O jogo não tem múltiplas facções, as unidades são as mesmas para ambos os lados já que o mesmo conta uma história de um EUA que se engole contra um outro EUA devido a uma falha no tempo-espaço.
Entretanto, Mobius Front 83 se destaca por elaborar, na própria jogabilidade, o estado mental da sociedade nos EUA na Guerra Fria, particularmente o medo de que seu equipamento bélico, especialmente tanques — na época, componentes chaves de grandes operações militares — se tornariam obsoletos com a ascensão de equipamentos como o ATGM (Anti-Tank Guided Missle).
Sendo assim, a maioria das missões de Möbius Front ’83 não só reforça este medo, como também expõe as fraquezas, ainda que diluídas ao extremo, de um possível contato com tropas de grande porte durante o final dos anos 80. Um feito incrível da Zachtronics que infelizmente requer uma camada grossa de história e uma boa investida nos recheados manuais que acompanham o jogo.
Fae Tactics
Tal como Mobius Front 83, Fae Tactics seria em qualquer outro ano “só mais um jogo de estratégia em turnos ligeiramente inspirado por Final Fantasy Tactics”. Em 2020 Fae Tactics serviu como uma formidável âncora para os meus dias mais banais, os dias de sofrimento em que eu me sentia improdutivo.
A Endlessfluff Games pode não ter a ambição de jogos como Fell Seal: Arbiter’s Mark, nem a imaginação cativante da Ice Water Games com o também fantástico Tenderfoot Tactics, mas a forma como a história é contada, os cenários e as variedade de combos o tornaram aquele jogo em turnos delicioso de degustar.
É o típico jogo que vai te acompanhar ao longo do ano, seja por meio das centenas de cenários opcionais, pela vontade de voltar e tentar outros tipos de combos, ou só por apreciar a agradabilíssima trilha sonora. E, céus, eu precisei muito disso em 2020.
Kentucky Route Zero
Kentucky Route Zero é menos sobre ter a experiência de finalmente ter o jogo completo em mãos, mas sim ver a conclusão da longa e árdua história da Cardboard Computer em mãos.
O ato V, lançado em conjunto com a TV Edition para consoles, cria fortes paralelos com o que é visto em Umurangi Generation. O resultado de anos de inadimplência, de corporativismo, da corrosão do capitalismo e o monopólio de várias indústrias e como elas afetam a nossa sociedade. Ele não mede esforços em te esgotar mentalmente, não deixar você virar o rosto para o que você evita ver. “Olhe, este é o caminho que estamos seguindo, este é o resultado de anos de destruição. Este é o resultado da falta de ação”.
Mas, tal como Umurangi, traz um pouco de paz — do seu próprio jeito — permitindo escolhas inusitadas e até mesmo uma boa dose de reflexão sobre o que você quer para o seu futuro, o futuro de quem está próximo de você, e da sociedade em geral.
Sakuna: Of Rice and Ruin
A primeira vez que eu ouvi falar de Sakuna: Of Rice and Ruin foi com uma frase “É parecido com Harvest Moon mas -”, o que já me fez torcer o nariz bem feio. Não tenho a mínima paciência para Harvest Moon ou similares (isto inclui Stardew Valley, desculpem fãs da Concerned Ape). Ainda assim fui em frente por estar curioso.
O que eu encontrei foi um jogo sobre plantar arroz que pode não ter a variedade de Harvest Moon, mas certamente tem o dobro da complexidade e, para alguém que é tão interessado na intersecção entre diversos sistemas, é maravilhoso. De quebra ainda vem acompanhado de uma história um pouco clichê sobre humildade, mas com personagens que a carregam nas costas como heróis.
Isso sem contar os aspectos de dungeon crawling e o incrível sistema de combos, a receita exata para me fazer apaixonar por um jogo. Se você é um desses que não se alinhou com Stardew Valley, Sakuna: Of Rice and Ruin pode ser a sua escapatória para pastos mais verdes.
Mixolumia
Não nego; esperava que Fuser, Tetris Effect Connected ou até Puyo Puyo Tetris 2 entrassem na lista ao invés de Mixolumia. O que o projeto de davemakes tem de tão especial? A capacidade de quebrar barreiras em relação a como nós interagimos, enxergamos e consumimos jogos de quebra-cabeça rítmicos.
Se feito por uma grande empresa, Mixolumia estaria recheado de DLCs que iriam variar de US$2,99 a US$5,99 com novas músicas, efeitos especiais, novos modos de jogo e provavelmente a necessidade de estar conectado a algum servidor que seria desligado no minuto em que ele deixasse de dar lucro. Ao invés disso, o humilde projeto criou uma fantástica comunidade dentro e fora do itch.io que não só divide conhecimento, mas também compartilha criações — pagas ou não — e o dinheiro vai diretamente para o bolso dos desenvolvedores.
Isto sem contar que é um dos jogos rítmicos / puzzle games mais criativos e cativantes que joguei em muitos anos. E olha que para alguém que já é calejado de tantas tentativas feitas por aí, é um feito e tanto.
Necrobarista
Em um ano onde a contagem de mortos pela COVID não para de crescer (estamos na segunda, terceira, quarta onda? Saímos da primeira?), Necrobarista — um jogo que trata de temas como morte — não é algo que eu esperava colocar nesta lista.
Mas, apesar de toda a aflição que eu passei este ano, vendo amigos e amigas sendo infectadas por esse maldito vírus, receoso se eles iam ficar bem ou não, Necrobarista tem sucesso na difícil missão de apresentar uma visual novel que trata a morte como dolorosa, mas ao mesmo tempo subliminar e até mesmo engraçada.
Os seus personagens simpáticos, outros que ressoavam um tanto comigo e como eu interajo com as pessoas à minha volta, o clima relaxante de um café no fim da tarde com um jazz ao fundo é o ambiente perfeito em um plano pós-morte. Ao menos é assim que eu quero ser levado.
Art of rally
Às vezes eu acho que já gastei o meu dedo de tanto escrever sobre o quanto eu amo art of rally. Seja na minha crítica, na recente atualização que adicionou ainda mais conteúdo, incluindo algo que eu mais temia — uma tabela de lideranças mais coerente — ou “irritando” os meus amigos a darem uma chance a ele.
O projeto da Funselektor é o rally na mais pura forma. Ele não apenas não se omite de apontar os perigos do esporte, do seu humilde início até o famosíssimo group b, mas também te desafia a cada segundo em ser o melhor na pista. Nada de RallyCross, isso ou aquilo. Aqui é você e a pista, você e a natureza. Uma arrancada, uma curva errada e tudo pode ir para o espaço. É um jogo de travar os músculos de tamanha tensão, mas quando você atravessa a linha de chegada intacto, o seu corpo relaxa e você está no paraíso.
Se eu não pude estar tão em contato com a natureza quanto eu queria em 2020, Art of Rally supriu um pouco dessa necessidade. Mesmo que tenha sido dentro de um carro virtual a 150km/h prestes a acertar uma árvore.
E aqui acaba a nossa cobertura de 2020. Obrigado, mais uma vez, a todos que acompanham o site, a todos que comentam, a todos que criticam – seja positivamente ou não –, a todos que fazem esse site existir. Por me darem forças pra continuar a escrever, pra continuar a buscar novos jogos, a tentar me conectar com vocês em um ano onde todo mundo queria viver na sua bolha.
Obrigado por deixarem eu fazer parte da vida de vocês.