“Lucas, parece que você é do contra. Ama o que todo mundo odeia, odeia o que todo mundo ama”, disse uma pessoa após discutirmos por um bom tempo sobre o novo Immersion Pack de Europa Universalis IV, Origins (Steam). A verdade é que se eu passo o meu tempo escrevendo algo, significa que no mínimo eu gosto. E, navegando um pouco contra a maré, eu digo que Origins até então tem sido a volta por cima que eu queria que Europa Universalis tivesse dado no começo do ano.
Para quem está caindo de paraquedas nos últimos desenvolvimentos de Europa Universalis IV, Origins é o mais novo Immersion Pack para o game. De acordo com a editora, Immersion Packs são um meio termo entre uma expansão e um DLC cosmético. Aos meus olhos, eles são como um tempero extra misturado com umas ou duas mecânicas possivelmente interessantes para quem é entusiasta de uma região específica do mapa.
No início eu os abominava. “Quem vai querer meia dúzia de novas mecânicas ou árvores de missões para um ou dois países?”. Os últimos, focados nas tradicionais nações europeias (inserir nome aqui deles), me cativaram por duas partidas e eu já os deixei de lado. Origins, no contrário, me faz querer continuar a jogar Europa Universalis IV, um sentimento que eu nem lembro quando foi a última vez que tive.
O novo Immersion Pack faz algo tão drástico assim para eu mudar bruscamente de opinião? Não muito, para ser sincero, além da atualização que a acompanha (mais sobre em breve). Entretanto, eu sempre vi — e devo continuar a ver — a região da África como uma das mais negligenciadas pela Paradox. Nessas horas, até uma meia dúzia de migalhas vale mais a pena do que as árvores de missões genéricas que elas possuíam até então.
O que o torna imediatamente interessante é o choque que você toma quando inicia uma partida com Origins. Para a minha primeira investida eu fui com Mali, uma nação com que eu de certa forma já tinha alguma experiência. Tomei um belo de um tapa na cara com a quantidade de eventos que se desenrolaram nos primeiros anos do meu reinado. Digo, do reinado do meu quase que imediatamente falecido líder, cujo sucessor tinha habilidades tão fracas que a ideia de tentar um avanço territorial seria terrível.
Ainda que a “queda” de Mali seja um evento ligeiramente previsível durante 1444 e que já tinha sido expandido por vários DLCs (se você, como eu, tem todos eles), Origins vem com aquele sabor extra que faz com que não seja mais um menu onde você vai clicar em qualquer botão só para começar a planejar o seu próximo movimento. Mas isso ainda é só a ponta do iceberg que compõe Origins.
Partidas com Songhai, Etiópia e Congo me mostraram os novos privilégios dos Estates, que agora combinam com a temática africana e têm profundas repercussões ao longo da partida. A forma de interação ainda é a mesma do que a com outros países. É um Immersion Pack e não um pacote milagre, mas ver que os benefícios e os malefícios trazidos por eles condizem mais com o que ocorria na região durante o período já me abre um sorrisão na cara.
Por mais que Europa Universalis IV nunca vá deixar de ser sobre pintar mapas, ter a oportunidade de parar e refletir sobre uma ação antes de clicar em uma decisão é o que me leva a voltar a jogá-lo. Ver as novas árvores de missões (12 no total) com objetivos que vão de básicos até dolorosamente específicos quase me obriga a liberar espaço na minha tumultuada agenda só para tentá-los. Sei que não vou conseguir antes de 2022, mas nada me impede de tentar.
Queria que as nações menores não tivessem recebido missões genéricas sobre a região africana. Mas, dada a quantidade de problemas que precisavam ser corrigidos pela atualização que acompanha Origins e o fato de que vivemos em uma sociedade capitalista, o que dá espaço para a Paradox revisitar a região no futuro, é melhor do que o que tínhamos no passado.
Debaixo dos panos você ainda está jogando uma partida de Europa Universalis IV; isso é irrefutável e não existe Immersion Pack que o transforme em “África Universalis IV”. O máximo que eu posso recomendar é jogar em um país da região em Crusader Kings III se o seu interesse é na parte de religião e um maior foco em interação entre personagens. Mas aí já é o ponto de eu comparar um bife com uma salada vegana – o que tem sido o ponto de tensão de muitos jogadores de Europa Universalis IV com a recepção “morna” de Origins.
Em parte eu não os culpo, já que a última tentativa de corrigir problemas mais enraizados de Europa Universalis resultou na terrível expansão Leviathan, quiçá a única com que eu sequer perdi tempo, mesmo depois de dezenas de atualizações, para escrever uma mísera crítica. Eu estava cansado e sem a menor paciência para enfrentar o desastre que era Europa Universalis naquela época.
Por outro lado, fico confuso com a comunidade. Como disse acima, Europa Universalis IV é sobre pintar mapas, até mesmo os mods mais “famosos” só adicionam sabor e textura. O mais “popular” de 2020 e 2021 — Anbennar — se passa em um mundo fantasioso com orcs, elfos e outras raças. E nele você continua a pintar mapas, só que de um jeito diferente. O único que eu vejo realmente mudar Europa Universalis IV é MEIOU and Taxes 3.0, que está em fase de testes e requer não só uma longa curva de aprendizado como um computador decente para que a engine do jogo não engasgue nos primeiros anos. Esperar esse esforço da Paradox é impossível.
Independente do lado que você está nessa discussão toda, é por causa de Leviathan e algumas de suas mecânicas – agora propriamente corrigidas, mesmo que no momento da publicação deste artigo haja uma longa discussão sobre o poder dos monumentos e formação de coalizões na Europa, mas que já estão sendo acertadas em uma atualização beta – que boa parte de Origins também brilha. Afinal, a própria Paradox recomenda que você tenha o Leviathan para aproveitar o máximo do Immersion Pack.
Por consequência, não dá para falar sobre Origins sem falar sobre Leviathan e a atualização 1.32 “Songhai”. Para a maioria dos fãs de Europa Universalis, ela vai ser mais do que o suficiente, pois ela adiciona novas nações que podem ser formadas como Israel, monumentos para quem tem o DLC Leviathan, e até algumas reformas para Mali e Etiópia que muito bem poderiam ter entrado no Immersion Pack.
Em outra época eu diria que a atualização 1.32 teve o mesmo impacto que a atualização 2.0 que acompanhou Stellaris: Apocalypse; onde a atualização tinha mais “conteúdo” do que a expansão em si. Todavia, o caso de Stellaris era (e ainda é) muito mais grave do que o de Europa Universalis IV. Origins é, como falei, aquele DLC para quem tem mesmo interesse em mais eventos na região da África e está cansado de batalhar nos campos da Europa.
Agora, meu sonho é que a Paradox viesse com um novo sistema de missões mais próximo do que ela mostrou ser capaz no finado Imperator: Rome, e depois desse uma gigantesca repaginada em Europa Universalis IV da forma correta — ao invés do trágico Leviathan. Sei que isso não vai acontecer, ainda mais com um jogo tão “antigo” para a desenvolvedora e que já está mais inchado do que eu depois de bater um prato de massa. O que tenho de consolo é que pelo menos os problemas de lentidão no late game foram bem melhorados na atualização 1.32.
Se serve de algo, Origins demonstra que a mudança de produção da equipe interna para a Paradox Tinto foi finalizada. Como alguém que tem um grande interesse pela África em jogos de estratégia e pela própria cultura em si, Origins é a minha desculpa para mais uma dezena de partidas de Europa Universalis IV.
Europa Universalis IV: Origins
Total - 9
9
Como outros Immersion Packs, Origins não é um pacote essencial para Europa Universalis IV, a não ser que você tenha um profundo interesse na região da África. Muitos vão ficar mais do que contentes com a dezena de correções trazidas pela atualização 1.32. Para mim, Origins é o que revitalizou meu interesse pelo Grand Strategy da Paradox e o colocou de volta no mapa (sem trocadilhos) para futuras partidas. Esteja você vindo de um longo hiato ou frustrado com o que aconteceu no começo de 2021 e Leviathan, agora é uma boa hora de jogá-lo.