Eu talvez pague R$500,00 para não ter que lutar contra outro “Senhor das mudanças”. Um dos chefões que dá a cara no jogo base do shooter “Warhammer 40K: Boltgun” é o mais puro suco da dor de cabeça. Múltiplos tipos de ataques – alguns impossíveis de esquivar – e altas chances de reduzir a sua vida para zero em segundos. Bom, eu não devia estar surpreso que ele daria as caras em “Forges of Corruption” (Steam / PlayStation / Xbox)— só não esperava que ele estaria acompanhado de praticamente todos os outros inimigos do jogo em uma única arena.
O primeiro — e até então único — DLC do shooter desenvolvido pela Auroch Digital faz exatamente o que ele propõe desde o anúncio: “Você gostou de Boltgun? Então tome mais Boltgun para te fazer feliz”. Não espere que ele conserte quaisquer problemas drásticos que a campanha original tinha, mas a ênfase em uma campanha separada dá uma liberdade extra para a desenvolvedora.
Eu tenho um limite de paciência com a duração de uma fase em um shooter. Curta demais e eu sinto que não aproveitei ou explorei bem o cenário, longa demais e eu fico exausto. Até agora eu estou para completar o último episódio de “Turbo Overkill” por ele ter uma duração média de uma hora por fase. Uma hora quase ininterrupta de tiroteio, arenas, plataformas. Sei que é o ápice do projeto da Trigger Happy Interactive, mas os visuais cansam. A campanha original de “Boltgun” vinha com problemas similares: Arenas atrás de arenas, ou um backtracking que é mais para os fãs de Warhammer 40K pela incrível atenção aos detalhes do que uma exploração competente.
Lembro-me muito bem de ter chegado na última campanha de “Boltgun” e falado para mim “Ok, já é o suficiente, eu preciso parar um pouco, respirar e depois eu volto para ela”. Não é exatamente comum eu falar isso em shooters.
Apontei muito bem as minhas críticas do momento final no texto sobre o jogo base. Nele eu pontuei: “Diria até que a própria batalha final é a culminação de todas essas oportunidades perdidas. A arena em si em que ela ocorre é excelente e mostra o incrível design da equipe da Auroch Digital e o quão bem eles sabem desenvolver arenas de combate. Mas, foi a minha exaustão com a quantidade delas e o chefão em si que prejudicou um bocado os minutos finais.” Essa sensação de exaustão bate menos forte em “Forges of Corruption” por duas mudanças cruciais em nível micro e macro.
Por ser uma campanha à parte, a Auroch Digital teve mais oportunidades de misturar os tipos de inimigos presentes em uma fase. Acabou aquela história chata e cansativa de “essa é a fase dos Nurgle” para depois “Essa é a arena dos Tzeentch”, e colocar Chaos Space Marines para “preencher buraco”.
Os cinco mapas que compõem a expansão são de certa forma uma condensação de toda a campanha de “Boltgun” de forma maravilhosa. Uma hora eu estava batalhando as forças do Chaos, outra eu estava em meio a um esgoto tomado por Nurglings – que continuam a ser as unidades que eu mais odeio nesse jogo – para sair no meio de uma indústria gigante cercado de tropas e um Hellbrute dos Chaos que me fez picadinho em instantes.
Sim, picadinho, isso na dificuldade média. Se a campanha original de “Boltgun” não te desafiou o suficiente, “Forges of Corruption” melhora isso. Infelizmente o sistema que a Auroch Digital utiliza para forçar você a trocar de armas – atribuindo níveis para os diferentes tipos de inimigos – não me desce muito bem, mas ao menos agora há mais motivos para trocar. Afinal, você não vai querer usar uma metralhadora simples contra um Exalted Flamer, unidade que cospe fogo e detona sua armadura, enquanto corre para se esquivar dos mísseis do Chaos Havoc – uma variante do Chaos Marine munido de um lança-mísseis.
Por consequência, as arenas que eu tanto critiquei no jogo base se tornam mais divertidas por essa mistureba de inimigos e também por estarem mais bem cadenciadas. Eu fiquei com a sensação de entrar em uma área e pensar “ah, ok, isso vai se tornar uma arena”, mas eu não tinha saído de uma cinco minutos atrás.
Misturar mais tipos de inimigos mostra até quão boa é a verticalidade e movimentação de “Boltgun”, um aspecto que eu nunca dei muita importância até jogar “Forges of Corruption”. Saltava de plataforma em plataforma com uma precisão que eu não esperava, lançava um míssil, corria para pegar mais munição, me protegia em uma plataforma de cuspes gosmentos dos Nurgle ou preparava uma granada para dar um “basta” numa concentração de Chaos Marine que estava me atormentando.
Sim, o “Senhor das mudanças” aparece e é intragável de chato, e foi a arena menos divertida em que eu batalhei nas missões de “Forge of Corruption”, mas, como apontei acima, a adição de plataformas e mais chances de esquivar de seus ataques – ao menos aqueles possíveis – é menos doloroso.
Quando eu não estava priorizando eliminar esse maldito inimigo dos Tzeentch, eu estava saltando e acertando barris que transformavam meia dúzia de inimigos em poeira. Um dos pontos fortes do DLC é a Auroch Digital instigar você a usar mais o cenário como um elemento que pode te ajudar na destruição. Foi-se embora a era em que eu olhava para um barril e me perguntava “Tá bom, o que eu vou fazer com você se você sequer está próximo da arena?” Estava feliz como um porco na lama, a desenvolvedora abraçou bem o retorno e as críticas da comunidade.
Apesar da felicidade, ainda há muitas áreas em que a Auroch Digital tem como expandir em uma possível sequência de “Boltgun”. “Forges of Corruption” trouxe míseras duas novas armas, sendo uma delas uma variante de um flamer. Quanto mais destruição melhor, e se encaixa muito bem com um Ultramarine, mas por outro lado, o jogo ainda não oferece formas mais interessantes de modificar as armas.
Pegue por exemplo um dos “segredos” encontrados na fase. Ele adiciona um novo tipo de cartucho para a arma. Por que não o tornar uma melhoria permanente? Ou então fazer com que ele dure mais do que uma missão? Parte de mim entende que isso tudo é questão de balanceamento, para que o jogo não fique “fácil demais”, mas eu sou um Ultramarine, me deixe destruir tudo pela frente como eu bem entender!
Mas quem sou eu para criticar o balanceamento? O último shooter que eu joguei decente de Warhammer 40K foi “Necromunda: Hired Gun” e, entre o sistema de melhorias e “loot” dele e o que “Boltgun” usa, eu prefiro a proposta da Auroch Digital.
Eu sei que no fim das contas eu vou fechar essa matéria e vou partir para completar as minhas conquistas do novo modo horda, ou cogitar recomeçar a campanha em uma dificuldade mais alta. Dessa vez com ainda mais pausas para não me sentir exausto. “Boltgun” é o melhor shooter de Warhammer 40K atualmente, e “Forges of Corruption” só ajuda a demonstrar ainda mais isso.
Warhammer 40K:Boltgun - Forges of Corruption
Total - 9
9
“Forges of Corruption” pega as melhores partes da campanha original de “Boltgun” e as condensa em cinco missões fantásticas. A Auroch Digital mostra o seu aprendizado com arenas melhores, maior variedade de inimigos por mapa, e explora ainda mais a verticalidade e movimentação que o jogo oferece. As novas armas não são lá um espetáculo, mas ao menos são muito úteis no novo modo horda – no qual tenho certeza de que irei gastar horas da minha vida. Que isso abra caminho para um “Boltgun 2”