Apesar de ter recebido um título bem abaixo do esperado em 2014, Thief foi uma série que sempre me cativou muito pela maneira que ela trabalha com o stealth como mecânica principal.
Lançado pela primeira vez em 1998 Thief: The Dark Project oferecia coisas que poucos outros jogos faziam, como a capacidade de se apagar tochas com flechas de água, um sistema baseado em se esconder nas sombras para que os inimigos não o vissem, objetivos não lineares e diferentes maneiras de se completar uma fase.
É importante lembrar como era o cenário dos games em 1998 no PC. Começávamos a ver os primeiros experimentos em uma estrutura mais aberta e melhor desenvolvida nos shooters. Half Life apresentou uma narrativa mais envolvente enquanto Unreal e Quake moldavam a experiência online na plataforma.
Tivemos também Metal Gear Solid para PlayStation, outro marco importante a ser lembrado pelos elementos stealth e o grande foco na história.
Thief, no entanto, foi uma experiência sem igual. Nada de setas que apontavam para objetivos, nada de inimigos que deixavam fácil para você passar da missão. Com alguns toques sobrenaturais em certas fases, conhecer o cenário, descobrir caminhos e estar sempre atento eram cruciais.
Thief II: The Metal Project solidificou as mecânicas da franquia, com melhorias na inteligência artificial dos inimigos, novos apetrechos para Garret, o protagonista, vencer os desafios.
Um mérito da Looking Glass Studios em Thief, talvez não feito novamente em System Shock foi a experimentação. O jogo oferece as ferramentas para o jogador mas não necessariamente os obriga a usa-las.
Enquanto somos forçados hoje em dia a fazer certas missões sem matar ninguém ou apenas com um ou dois equipamentos específicos, Thief deixa isso a critério do jogador.
Claro que, nem tudo são flores e a franquia infelizmente perdeu sua força com o lançamento de Thief: Deadly Shadows, que ao ser comparado com a versão de 2014 é um jogo espetacular. Assim como foi com Deus Ex: Insivible War, a Ion Storm parecia ter perdido o foco não só na história como o que fazia Thief ser…. Bem… Thief.
Seria muito fácil jogar a culpa e falar que o problema de ambos os jogos foi o desenvolvimento de uma versão para consoles. Deadly Shadows deixou de lado o polimento e foi oferecido ao jogador um produto bem abaixo do esperado, o que é uma pena.
A comunidade deu o seu máximo para tornar Thief Deadly Shadows uma experiência mais agradável com o Thief 3 Gold. Esse, um mod que não só melhora a inteligência artificial, remoção de zonas de loading dentro de missões e correções de bugs. Se você em algum momento cogitou jogar Thief: Deadly Shadows, o mod é essencial.
A influência de Thief em outros jogos
A existência de Thief ajudou a moldar muitas das mecânicas que vemos em jogos stealth hoje em dia. Ele foi o primeiro a usar uma mecânica onde o jogador tinha de se manter nas sombras se não quisesse ser visto.
Hoje em dia games como Splinter Cell usam isso como um dos pilares para que as mecânicas stealth funcionem. Foi graças a Thief que também tivemos o surgimento de games como Hitman, Dishonored e muitos outros jogos. Apenas ao jogar Thief que vemos claramente o quanto outros jogos pegaram suas ideias “emprestadas”.
Jogos puramente stealth são escassos no mercado, as mecânicas diluídas em outros gêneros, o público alvo reduzido fazem dele uma aposta arriscada para as grandes empresas. Quando tentam, temos resultados como Thief 2014.
E o Thief 2014, vale a pena jogar?
Caso tenha ciência que Thief 2014 é o mais longe possível do conceito criado pelo original, sim. Como um jogo com elementos de stealth, uma história meia boca, uma IA simples e sem desafio ele não se dá tão mal.
Por outro lado, Dishonored parece muito mais uma versão moderna de Thief do que o título criado pela Eidos-Montreal. A Arkane Studios já havia incorporado alguns elementos de stealth em games anteriores, como Arx Fatalis e Dishonored é o amadurecimento dos mesmos pela desenvolvedora.
Caminhos não lineares, uma história interessante, magias e formas letais e não letais para dar cabo de seus oponentes. Se você tem um dinheiro sobrando, recomendo pegar a versão Game of The Year que está no Steam por R$ 55,99.
Como jogar Thief em computadores modernos
Se tem algo que irrita é fazer a Dark Engine rodar de maneira satisfatória em PCs com Windows 7 ou Windows 8.
Antes do lançamento de System Shock 2 no Steam, só faltava você preparar uma reza braba em uma encruzilhada para fazer as cutscenes funcionarem, os controles não ficarem desconfigurados e a resolução compatível com a do seu monitor.
Felizmente, graças a comunidade esse processo foi simplificado ao máximo. Thief está disponível tanto no Steam como no GOG. Para ele você precisará do Thief Gold Unnoficial Patch.
Já o Thief 2, a venda em ambas as plataformas digitais, deve ser usado com o Tafferpatcher, outro mod que atualiza o game para suporte em computadores mais recentes e corrige alguns bugs.
Felizmente Thief: Deadly Shadows não oferece tantos problemas em relação a incompatibilidades com sistemas operacionais mais recentes. Como apontado antes, Thief 3 gold é um mod essencial para tornar a experiência mais agradável.
O maior problema de Thief em 2014 não está ligado aos bugs, mas sim por ser um jogo que não envelheceu tão bem quanto eu gostaria. Os controles são estranhos para quem não jogou na época e precisará se adaptar um pouco.
Dado a sua não-linearidade, aqueles que esperam uma solução fácil para completar a fase se verão frustrados rapidamente. Seja por seu legado ou por amar jogos stealth, Thief é uma série que merece ser jogada e rejogada. Dê uma chance a ela.