Como é possivel definir saudade? Como podemos transcrever elementos emocionais em uma coleção de elementos racionais? Talvez esta tenha sido a minha maior dificuldade com Proteus, o primeiro e aguardado game de Ed Key. Sua premissa é simples, você acorda em uma ilha e seu objetivo (se é que podemos chama-lo disso), é explorá-la.
Não, não existem forças maléficas querendo destruir a ilha. Não é uma reflexão sobre a morte como Dear Esther. Muito menos algum segredo escondido (ok, talvez haja). É só você e a ilha.
O que me fez tão interessante conhecer esta ilha? A forma a qual se apresenta para você. Tanto o seu cenário como os sons emitidos pelo vento, animais e o barulho da chuva são gerados proceduralmente. Ou seja, nem todas as visitas serão iguais.
Eu não sou uma pessoa de “passear”, não faço trilhas, raramente vou a parques. Mas havia algo em Proteus que me deixou incrivelmente tranquilo. Acho que o grande contribuinte nesse caso foi a sua trilha sonora. Houveram momentos que eu andava um pouco pela ilha e simplesmente para só para aproveitar o som.
Imagine como se os sprites do ATARI ganhassem vida em 3D, se movimentassem nesse plano e emitissem as suas próprias notas. A cada momento uma nova música é criada por tais elementos. As ondas do mar com as gotas de chuva vão resultar em uma música assim como caminhar dentre as árvores com a aurora.
A diversão ou não diversão tem um caráter extremamente subjetivo neste caso. Algumas vezes o tom pode lhe agradar, o cenário pode lhe agradar, assim como talvez lembrar de algum momento de sua vida, enfim, diversas variáveis.
Proteus não é algo para se jogar correndo. É um game para sentar, conhecer um pouco a ilha, ver o pôr do sol, as nuvens se aglomerando, a chuva, os pequenos “animaizinhos” andando pelos campos e quando achar o suficiente, ir embora.
Como eu falei no início deste texto, eu simplesmente não tenho a capacidade de converter uma viagem completamente emocional em algo racional. Não posso falar “A exploração deste jogo merece uma nota 8 de 10”, métodos que poderíamos usar para qualificar um jogo não necessariamente se aplicam a Proteus.
Proteus é como um grande processo de reflexão pessoal. Você não encontrará o sentido da vida, tampouco a solução de todos os seus problemas. Mas se em algum momento, ele te fizer refletir sobre escolhas, o receio do desconhecido, lugares em comum ou a sua vida de maneira geral, creio que cumpriu o seu propósito.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Twisted Tree