Computer RPGs / RPGs ocidentais tem sido muito pouco representados nos games pelo menos nos últimos doze anos, desde o lançamento de Baldur’s Gate 2.
Ainda tivemos grandes clássicos como NeverWinter Nights 1 e 2 (ok o 2 nem tanto), mas nada conseguiu trazer a magia deles de volta. Divinity Original Sin finalmente alcança esse objetivo.
Desenvolvido pela Larian Studios e lançado no Steam Original Sin é tudo o que gostaríamos de ver em um computer RPG. Um mundo interessante para se explorar, ótimas mecânicas de combate, personagens engraçados e uma trama no mínimo aceitável.
Ele funciona como um misto de Ultima VII com Baldur’s Gate com outros clássicos. É praticamente uma mistura de tudo que funciona no gênero e com a exclusão de certas partes chatas.
Divinity Original Sin, um dos melhores RPGs de 2014?
Ao contrário de RPGs onde você cria um grupo de jogadores ou até um único personagem, Divinity Original Sin faz com que o jogador controle primariamente dois personagens, criados por ele mesmo. Encontramos então um de seus primeiros trunfos, o co-op.
Claro, já tinhamos co-op em RPGs há tempos, mas não da maneira perspicaz que a Larian fez em Original Sin. Ele dá a liberdade para cada um fazer o que bem entender durante o jogo.
Por exemplo, enquanto um personagem fala com um NPC, o outro pode vasculhar a casa dele e roubar itens. Outro pode ser furtivo e preparar armadilhas enquanto outro começa o combate e por aí vai.
Existem também diálogos que permitirão com que cada jogador expresse sua opinião, ou a do personagem ao menos.
Não se preocupe caso não tenha um amigo para jogar, o game ainda é ótimo em single-player.
Além dos personagens principais, temos outros NPCs que ajudarão durante a sua jornada, alguns por motivação própria, outros que podem ser contratados. Apesar de interessantes nenhum chega aos pés dos companheiros de Baldur’s Gate como Minsc ou Jaheera.
A trama não é nada de inovadora, aliás ela começa bem similar ao Ultima VII. Com um assassinato. O jogador entra na pele de um source Hunter, um especialista em desvendar casos onde magia pode ter sido usada de maneira maléfica.
Em questão de algumas horas tudo fica muito mais complicado do que parece, como se espera de um RPG clássico.
Não vou dizer que a história em si é o ponto forte, mas sim como ela se desenrola e os personagens que você encontra ao longo da jornada. Para um RPG, eles são muito bem escritos e cheios de personalidade.
É aquele tipo de jogo que você se diverte esperando o próximo personagem engraçado ou inusitado aparecer. Quem não conhece a Larian, eles sempre buscam adicionar uma pitada de humor em seus games. Divinity Original Sin não é diferente, então pode se preparar para alguns personagens peculiares.
Outro ponto forte é o combate. Não deixe as imagens te enganarem, Divinity Original Sin é 100% um RPG por turnos. Nada de Real-time paused ou real time. Ele mistura um pouco do sistema de Action Points de Fallout com a liberdade de movimentação de um RPG real time.
Quem já jogou Might & Magic, ou até mesmo Baldur’s Gate, sabe que são games que não são focados no grind. Ou seja, cada ponto de XP conta e isso também se vê em Original Sin. Ao matar um inimigo no mundo ele não renasce, ou seja, pode desistir de tentar matar uns 100 inimigos para passar de um chefão difícil.
Ele força o jogador a pensar, a aprender usar o cenário a seu redor para sua vantagem. Muitas das batalhas envolvem saber qual é o posicionamento correto de cada personagem, onde estão as fraquezas do inimigo e como aproveitar a distancia entre você e ele.
Para essa review eu mantive uma party com um Fighter, uma Wizard, um ranger e uma Enchanter. Tanto o meu Fighter quanto a minha Enchanter “tankavam” os inimigos. O Fighter na força bruta e a Enchanter com as suas invocações.
Enquanto minha ranger congelava os inimigos e o chão, isso dava a oportunidade para que a minha Wizard soltasse magias elétricas. Outras coisas que precisam ser lembradas são efeitos da natureza. Por exemplo, caso em alguma parte do jogo chova, o seu personagem tem mais chance de ser congelado ou toma mais dando de magias elétricas. Você precisa ter uma sinergia gigante com o outro jogador para que o combate funcione no coop. Caso não tenha, as coisas podem ficar feias rápido.
Um turno é tudo que precisa para você perder todos os seus personagens, uma posição errada, um inimigo que não parecia ser uma grande ameaça e por aí vai. Faça muito o uso do quicksave e quickload. Eles são essenciais.
Quem não tem paciência de aprender e saber que não vai ser possível ganhar todo o combate na primeira tentativa vai se frustrar demais com Divinity Original Sin. No geral ele está na média no quesito dificuldade quando comparado com outros RPGs mais focados no PC.
Eu queria chegar e poder falar que Divinity Original Sin é um RPG que todo mundo deveria jogar, mas na verdade não é. Ele é para quem tem vontade, paciência e tempo de aprender.
Além do tutorial inicial, o jogo não segura a sua mão em momento algum. Você vai ter que aprender muitas coisas sozinhos. Em parte eu aprovo isso, mas muitos vao ficar perdidos até mesmo na primeira cidade.
Algumas quests envolvem falar com pessoas e mais pessoas até encontrar alguma pista. Outras não possuem waypoints nem nada. Você tem que usar algumas referências para encontrar locais e por aí vai.
Isso resulta em umas boas 100 horas de jogo. Não falo aquelas 100 horas que você enrola pela cidade, conversa com todos os NPCs, rouba umas coisas, faz um grind básico e aí você termina o jogo. Eu falo daquelas que se você não investir esse tempo no jogo, não verás 1/3 do que ele oferece.
Apesar dessa barreira de entrada, como apontei anteriormente, fazia tempo que não sentia tanta liberdade como senti em Original Sin. Se eu quisesse tacar fogo em um NPC, eu poderia. Roubar a casa dele? Sem problema, trocar os moveis de lugar? Também pode.
Isso também se expande para quests e o combate. Você pode ser criativo, o jogo te permite isso. Não existe apenas uma maneira de resolver uma quest, tampouco uma maneira de derrotar um inimigo.
Comparei algumas quests com outras pessoas que jogaram Divinity Original Sin. Apesar do resultado ter sido igual, o método que foi usado para resolver as quests foi completamente diferente.
Tecnicamente pode se dizer que Divinity Original Sin está impecável. Para quem acompanha o trabalho da Larian, sabe que no passado eles não tiveram a melhor sorte em relação a bugs. Divinity II no lançamento foi um pequeno desastre, com muitos bugs e falta de desempenho.
Não tenha medo dessa vez, desde Dragon Commander a empresa deu um pulo gigante na qualidade geral. Original Sin é a prova disso. O jogo em si já foi lançado com pouquíssimos problemas, os existentes foram ajeitados em questão de dias.
No geral ele não precisa de um computador potente e consegue ser ajustado para as diversas configurações do mercado. Se você não tem um top de linha, ainda vai conseguir se divertir.
Algo que merece parabéns é a sua interface. Apesar de um deslize ou outro no gerenciamento de inventário, que torna arrumar tudo um pouco chato, você nota claramente que ela foi feita 100% para o PC. Ela possui muitos atalhos, consegue ser aprendida e absorvida rapidamente pelo jogador.
Essa foi sempre uma pequena birra minha com CRPGs, ou a interface era bela, mas pouco funcional, ou horrível mas fácil de entender. Original Sin junta o melhor de ambos.
Claro que, não poderia deixar de falar da estética do jogo, apesar de não se encaixar exatamente na parte 100% técnica. O jogo é belíssimo, as cidades, as dungeons, o estilo usado para os monstros e personagens, tudo foi feito com muito cuidado.
Você não parece jogar algum daqueles RPGs com crise de identidade que tenta ser tudo ao mesmo tempo, juntar 30 gêneros diferentes para tentar agradar a todos. Um destaque especial vai para os efeitos das magias.
A parte sonora é outro show a parte. Do início até o fim não teve uma música que me fez enjoar. Nem todos os personagens possuem voz em Divinity Original Sin, apenas alguns. Não deixe que isso atrapalhe, os diálogos valem muito a pena.
Divinity Original Sin é um jogo espetacular em diversos aspectos. Posso não ter me agradado tanto quanto queria com alguns problemas na interface, mas ainda sim recomendo a todos que desejam um bom computer RPG. Tenha em mente que se esse for o seu primeiro jogo do estilo, precisarás de muita paciência para aprender cada detalhe.
Com certeza merece estar entre os clássicos, junto com Icewind Dale, PlaneScape Torment, Baldur’s Gate, entre outros.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Larian Studios