Revolução francesa, melhorias gráficas, novo protagonista. Assassin’s Creed Unity parecia ter tudo para dar certo, não é mesmo? Bem… vem cá, se ajeita na cadeira aí que não é bem assim.
A ideia de se passar na revolução francesa de início me parecia interessante, mas Assassin’s Creed Unity não faz um bom uso disso.
Compreendo um game de ação / aventura ter de se limitar em muitos aspectos históricos e se aproveitar apenas dos principais eventos. O problema é que se removessem as bandeiras da França e não me falassem que aquilo era Paris, eu nunca imaginaria que estava na revolução francesa.
A Bastilha, estrutura previamente usada como prisão por reis franceses aparece em uma missão e parece ter a sua importância histórica esquecida.
É mais estranho ainda ver tal discrepância entre os variados estúdios da Ubisoft, ainda mais com Unity que foi um esforço conjunto de vários. Basta olhar para Valiant Hearts, lançado também esse ano, que não só envolve um período histórico pouco abordado em jogos como também oferece detalhes sobre o conflito por meio de objetos que você encontra para passar dos puzzles.
Ainda achei a história de Assassin’s Creed Unity até certo ponto interessante, mas por ter jogado os outros games da franquia e querer saber qual é o próximo passo da Ubisoft na trama. Arno é um protagonista deveras carismático, comparável até com Ezio, um dos favoritos dos fãs da série. Após dois Assassin’s Creed com personagens que não dava a mínima, ao menos o principal eles acertaram a mão. Por outro lado, os personagens secundários deixam a desejar.
Sem entrar em muitos detalhes, você continuará a encontrar figuras históricas, conhecer mais sobre o que a Abstergo está desenvolvendo para o futuro e ainda ter que aguentar as cenas que se passam na atualidade.
Essas, ainda são um tanto quanto forçadas e espero que sejam melhor desenvolvidas nos próximos jogos. Parece que desde Assassin’s Creed III o esforço na área caiu consideravelmente.
Se comparado com Black Flag, Assassin’s Creed Unity remove atividades como navegação, o que já era esperado, mas adiciona outras muito pedidas pelos fãs, como o coop.
O coop em si é muito bom, isso é, quando funciona. Em boa parte das missões enfrentei problemas de desconexão ou lag constante, onde um ataque meu demorava de cinco a dez segundos para ser registrado. De início acreditei que estaria relacionado ao fato de jogar com jogadores dos Estados Unidos, fato que se provou falso após sofrer do mesmo problema ao tentar com brasileiros.
Felizmente nenhuma das missões coop são atreladas ao modo campanha, então não se preocupe em ficar frustrado com isso caso não queira.
Como praticamente todo jogo da Ubisoft, Assassin’s Creed Unity está repleto de colecionáveis, enigmas e pequenas coisas para se fazer na cidade. Você pode coletar baús, insígnias, ajudar pessoas e por aí vai. Além disso, uma nova modalidade, as anomalias, está disponível. Nele você tem de obter uma quantidade específica de fragmentos do Animus e escapar antes que o tempo acabe.
Basear as atividades secundárias apenas em colecionáveis é um dos meus problemas com o jogo. Eu gosto de colecionáveis, me incentiva a explorar a cidade mas nem sempre atende a todos os gostos, principalmente por parecer que todo jogador tem um pouco de DDA e precisa de algo para seguir em frente.
Além do que não são todos esses colecionáveis que dão alguma informação adicional sobre o período. Por exemplo, em Dragon Age Inquisition, outro game recém lançado, apesar de você ter muito do que se chama “fetch quests”, aquelas quests que se resumem em ir a ponto X e matar Y pessoas, mas ainda assim oferecem uma breve história para te motivar.
Uma das promessas da Ubisoft na nova geração era resolver o problema do Parkour, que muitas vezes era impreciso. Quem já jogou um Assassin’s Creed sabe o quão frustrante pode ser tentar se mover para um local e acabar em outro porque o sistema não funciona.
Isso foi consertado? Pois bem, em partes. Em Assassin’s Creed Unity você possui um botão para subir e para descer. Por exemplo, agora para escalar um prédio você usa o R2 + o X para subir e o R2 + o círculo para descer.
Dá mais controle ao jogador, porém continua impreciso e muitas vezes nos vimos pulando para lugares que não gostaríamos. O mais frustrante foi tentar pular de um prédio a outro, o personagem decidir que seria mais interessante para ele se tacar no chão e morrer.
Também vi alguns glitches, que a essa altura já são marca registrada da franquia, como o personagem atravessar o cenário, NPCs aparecerem do nada e por aí vai.
Nesse aspecto nem me impressiono mais, Black Flag, III, Revelations, Brotherhood, qualquer outro Assassin’s Creed está repleto disso. É algo que sim a Ubisoft deveria ver, ainda mais quando temos jogos como Watch Dogs ou Far Cry para provar que nem todo jogo que ela desenvolve é uma festa de bugs assim.
Nem tudo é problema, ao menos não em parte. Personalização finalmente foi adicionada. Agora Arno pode se vestir da maneira que o jogador desejar e ainda ganhar bônus em furtividade, saúde, proteção e muito mais.
Você consegue ganhar esses equipamentos de várias maneiras, por meio das missões coop, comprando-os com Florins ou moedas Helix.Helix são uma das novas moedas de Assassin’s Creed Unity , obtidas ao completar as anomalias ou por meio de dinheiro real.
É aquele sistema de “se está com pressa, pague”, de games Free-To-Play e não posso dizer que estou feliz em o ver ser implementado no Unity.
Os melhores equipamentos custam uma fortuna e dependerão de um bom tempo de grind para achar os baús e ganhar os Florins ou completar anomalias até que os pontos Helix sejam obtidos.
Não tenho problema algum quando mecânicas de jogos free-to-play são colocados em um jogo pago, seja por compra ou meio de assinatura. O erro está em prejudicar a obtenção dos mesmos por meios não rentáveis para empresa e fazer com que o jogador gaste horas à toa só por uma nova espada. Esperava ao menos um pouco menos de grind dessa parte.
Um dos grandes trunfos de Assassin’s Creed Unity são seus gráficos, isso é inegável. A versão usada para esse review foi a de PC, sendo assim não verifiquei como estava tanto o blur quanto o desempenho de ambas as versões consoles. Se levar relatos em consideração e os mais recentes anúncios da Ubisoft, sim, existe um problema de desempenho nos consoles e a empresa busca resolver isso.
O problema de desempenho no PC vai depender muito da sua máquina. Definitivamente é um título pesado para rodar a 60 quadros por segundo. Nem mesmo uma 780Ti consegue fazer isso de maneira satisfatória e acaba por ficar na faixa dos 25 aos 30fps com tudo no máximo ou no médio.
Em partes, entendo todo o esforço da Ubisoft ao usar técnicas novas de iluminação e texturas. Dentre elas estão o PBR (Physicaly Based Rendering) e o SSS (Subsurface Scattering Shader). Sem entrar em muita tecnicalidade, são duas funções que não só aumentam a fidelidade da cena como oferecem soluções de iluminação mais reais.
Paris está gigante e belíssima de se visitar. Os personagens ganham vida, mostram variadas animações, porém ainda sem uma rotina pré-definida. Apesar de mais real, a cidade continua um pouco estática em comparação com games como Skyrim, onde cada NPC tem a sua rotina. Compreensível dado o escopo de Assassin’s Creed Unity.
Como um “Simulador de Paris do século XVIII”, Assassin’s Creed Unity é um ótimo jogo. O problema é que a Ubisoft colocou empenho demais nos gráficos e empenho de menos em apresentar soluções para defeitos persistentes de outros games da série.
Quem ama a franquia ainda vai encontrar um ótimo mundo, toneladas de colecionáveis e uma história que apesar de rasa prende o jogador. Aqueles que nunca jogaram previamente se verão frustrados em um game que poderia ser muito mais. Ainda há chance de melhorar, consertar boa parte dessas coisas com patches e a Ubisoft aparentemente busca fazer isso.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Ubisoft