Quando a Deep Silver / Prime Matter me convidou para o evento a portas fechadas de Saints Row, eu não sabia muito o que esperar. Como a Volition iria dar sequência à franquia depois dos acontecimentos de Saints Row 4? Melhor, como ela iria revitalizá-la? A resposta foi um reboot — previsto para fevereiro de 2022 para o PC, Xbox One / Series S e X, PlayStation 4 e 5, a existência dele não me pegou tanto de surpresa, mas o que ele representa para a franquia no geral, sim.
Pelo que pude notar no evento — onde uma versão pré-alpha foi mostrada pela imprensa — o DNA base de Saints Row ainda está presente, porém mais consciente acerca dos problemas atuais da sociedade, se colocado sob uma lente dos EUA. Isso já se nota com os personagens coadjuvantes da história — Eli, Neenah e Kevin.
Embora os três —junto com o protagonista que ainda é um personagem criado pelo jogador — acabem criando uma gangue, a motivação de cada um deles para entrar nos Saints é muito mais próxima do desejo de se livrar de dívidas da faculdade ou ter mais liberdade para criar sua própria “arte”. É o caso de Eli, que é formado em MBA e vai para Santo Ileso, a nova cidade do game, para tentar a sorte ao criar a sua própria empresa. Neenah é apaixonada por arte mas, por não ter conseguido um trabalho em um museu, acaba se juntando inicialmente aos Los Panteros, uma das gangues rivais da cidade.
Jeremy Bernstein, diretor de narrativa do reboot, explicou durante o evento que essa nova “história de origem” para os Saints é a “oportunidade” deles reverem alguns conceitos do jogo em si e explorar novas maneiras de torná-lo mais atraente e dinâmico. Jim Boone, o CCO da Volition, completou dizendo que esse já era um desejo da empresa há um bom tempo.
Se o parágrafo acima te assustou, pode ficar tranquilo, pois Saints Row ainda é Saints Row. Isso dito, o reboot não vem com toda a insanidade de Saints Row 3 ou 4. Não espere super-poderes, muito menos o retorno do famoso dildo gigante, mas espere novas opções de locomoção — como hoverboards, karts e outros veículos peculiares — e o retorno de algumas atividades dos jogos anteriores. E antes que perguntem, sim, o minigame de fraude de seguro está confirmado.
Santo Ileso em si, a nova cidade criada para o jogo, e inspirada no sudoeste dos EUA, já é mais visualmente distinta do que Steelport. Cada distrito tem sua “assinatura” e há uma variedade maior de “biomas” para serem explorados.
Pessoalmente eu fiquei bem impressionado com a verticalidade dela. Saints Row sempre teve cidades grandes, todavia Steelport raramente oferecia mecânicas que justificassem você explorar mais do que os arredores dos principais prédios. A nova cidade do reboot não só vem com áreas bem mais distintas, como essa verticalidade que pode ser usada tanto como um elemento de gameplay – como ganhar vantagem sobre o inimigo – como ter missões que ocorram em diferentes planos.
Vale apontar que essa não é a primeira vez que a Volition trabalha com a ideia, já que ela foi também bastante presente em Agents of Mayhem. Portanto, vejo isso apenas como uma evolução natural das mecânicas da desenvolvedora.
Falando nelas, o reboot de Saints Row apresenta uma jogabilidade – tanto no quesito de locomoção como no combate em si – muito mais refinada do que todos os outros jogos da Volition. Eu não precisei jogar para bater o olho e comentar comigo mesmo “nossa, o combate está mais dinâmico e bem preciso”. Essa era uma grande crítica que tinha sobre Saints Row e fico feliz ao ver que, ao que tudo indica, o reboot irá trazer uma tão aguardada melhora nessa área.
Ainda falando em melhorias consideráveis, uma das que estou mais ansioso para conferir pessoalmente são as alterações no sistema de conquista territorial entre gangues e a nova mecânica de compra de imóveis.
Stephen Quirk explicou durante a apresentação que Santo Ileso é composta por três facções. Los Panteros são os tradicionais “força bruta acima de tudo”, a Marshall Defense Industries é voltada para tecnologia e forte poderio bélico. Por fim os Idols são a facção cujo poderio está nos seus números. Ou seja, lutar contra eles significa enfrentar dezenas de oponentes ao mesmo tempo.
Embora Quirk não tenha entrado em detalhes sobre como a conquista territorial será representada no reboot, os imóveis que você pode obter após tomar conta de uma área agora trazem muito mais impacto para o jogo de forma geral. Eles agora deixam de ser uma fonte passiva de renda e se tornam uma suíte de novos modos de jogo. Agora é o jogador que decide onde os imóveis ficarão situados e quais benefícios eles trarão. Alguns dos exemplos dados são uma loja de armas, uma frente de lavagem de dinheiro disfarçada de hamburgueria, ou um esquema de proteção para os outros comércios locais.
Detalhes sobre os novos modos de jogo ficaram um pouco no ar, mas ao que deu a entender, o intuito da Volition é que cada jogador tenha uma cidade “personalizada”. A meu ver é uma ótima jogada; afinal, o reboot de Saints Row contará com o retorno do modo coop — que funciona na base do drop-in, drop-out, permitindo que você entre em uma nova partida quando bem desejar —, e explorar cidades distintas soa interessante.
Podem me jogar pedra, mas por um longo tempo eu senti que Saints Row, mesmo no seu auge, ainda vivia muito às sombras de GTA. O seu humor tinha parado no tempo e as suas piadas já não tinham o impacto de antes. Isso ficou bem claro para mim quando eu joguei o remaster de Saints Row The Third.
Sei que muitos de vocês não deram uma chance para Agents of Mayhem, mas foi nele que eu vi a Volition amadurecer no quesito construção de personagens. Ao que tudo indica, o reboot de Saints Row tem tudo para ser um grande passo para a desenvolvedora. Agora o que falta é uma cópia em minhas mãos — pena que fevereiro de 2022 ainda está longe.