Este era o meu terceiro gladiador. Quantas lutas eu fiz? Já nem sabia mais, mas tinha esperança de que essa seria a minha chance de subir na escada “social” dos gladiadores. Meu adversário, no entanto, discordou. A batalha começou com golpes mal calculados, e em segundos minha espada quebrou. O que a plateia jogou? Uma frigideira. Pera, por que há frigideiras em Roma? Não pensei muito no assunto e parti para um ataque final. Fui cortado no meio. Hora de criar outro personagem em “We Who Are About to Die” (Steam)
Eu já tinha ouvido falar do projeto encabeçado por Jordy Lakiere, mas não botei muita fé. Esse papo de “seja um gladiador” foi tentado por muitos das mais diferentes formas, mas a maioria foi um fracasso. Entretanto, Lakiere vem com uma carta na manga que me fez cair de amores em segundos: seu sistema de combate.
“We Who Are About to Die” usa um sistema de combate onde você pode acertar o oponente em até 9 direções diferentes — tal sistema também pode ser visto em Kingdom Come Deliverance e, em partes, Mordhau — com uma movimentação determinada pela física. Ou seja, seu personagem pode tropeçar em um barril ou perder o equilíbrio e cair no chão depois de um golpe forte.
“Lucas, isso parece horrível de se jogar!”. Acredite, não é. Pelo contrário, é fantástico. A curva de aprendizado é mais alta do que em outros jogos de ação, mas assim que você pega o jeito da coisa, estará decepando cabeças, cortando braços, ou… morrendo.
Para ser sincero, é bem provável que você vai morrer mais do que vencer. Quando o inevitável ocorre, você tem que recomeçar da estaca zero. Sim, você sentiu o cheirinho de elementos de um roguelite, e é isso que “We Who are About to Die é”. Ao menos em partes.
O jogo não possui uma tela de criação de personagem em si, mas sim um gerador de personagem com pontos fortes e fracos. Assim que você o escolhe, você é levado para a tela de “gerenciamento”, onde pode escolher que tipo de equipamento usar para batalha, gastar dinheiro treinando atributos específicos, ou investir dinheiro no seu próximo personagem. Ao perder o personagem atual, o próximo personagem começará com mais dinheiro e potencialmente com chance de obter equipamentos melhores de cara.
Mas nada é tão simples assim em “We Who Are About to Die”; além do dinheiro, você tem pontos de fama. Estes pontos podem ser usados para mudar os tipos de batalhas disponíveis no próximo round, tentar subornar um dos patronos para aumentar a sua reputação com eles, ou gastar promovendo o evento para atrair um público ainda maior e, consequentemente, mais dinheiro.
Eu adoraria dizer que eu explorei mais do sistema de patronos — composto por 5 personagens que oferecem bônus específicos como mais fama ou menos custo no treinamento e manutenção de equipamento — mas a maior parte do meu dinheiro se esgotou consertando meu equipamento e cuidando dos meus ferimentos. Eu já sou uma pessoa desastrada na vida real; como gladiador, então, nem se fala. Houve uma batalha onde eu saí com um pingadinho de vida e não sei como eu sobrevivi a tantos golpes de machado.
A razão para tantos ferimentos foi uma “Pit Fight”, que é mais ou menos um “todos contra todos”, uma das tantas variedades de batalha presentes na versão atual de “We Who Are About to Die”. Outras variações incluem você e uma equipe contra um mero gladiador ou você contra um grupo de gladiadores. Pessoalmente eu não recomendo jogar a última se você é um novato.
Até então tudo soa simples e bem “direto”, certo? Aí é que vem a segunda pegadinha de Lakiere. Cada decisão que você toma dentro e fora do campo de batalha, no que diz respeito ao seu equipamento, tem um impacto profundo nas suas lutas.
Primeiro vem o conceito da “loja de equipamentos”, onde você tem que gastar dinheiro para revelar quais armas estarão disponíveis para ser compradas. Talvez você seja premiado com uma espada excelente e com durabilidade altíssima, ou com uma espada de treinamento que vai quebrar no primeiro golpe.
Mas vamos dizer que você deu sorte, conseguiu um ótimo conjunto de equipamentos, e agora está equipado da cabeça aos pés com armaduras médias ou pesadas e ainda uma espada de duas mãos.Boa sorte tentando acertar um golpe. Cada peça de equipamento diminui a sua regeneração de stamina e, a não ser que você tenha treinado esse atributo, vai ficar sem fôlego em instantes.
Como o restante de “We Who Are About to Die”, ele não é tão difícil de aprender, mas é competente para me fazer parar na tela de administração do personagem e ficar “Hmm, será que eu uso esta armadura ou não? Eu posso ser mais ágil sem ela. Mas, e se eu tomar um golpe certeiro? Eu não sei quem é meu oponente!”.
São essas surpresas que me fazem começar outro personagem, tentar subir de rank, treinar diferentes habilidades e aprender cada vez mais o seu sistema de combate. Desenvolvedores, por favor, me deixem com a pulga atrás da orelha, me deem mais surpresas como “We Who Are About to Die” faz!
Outro ponto impossível de não mencionar é o próprio humor do jogo. Não pegue-o com a expectativa de ter alguma “autenticidade histórica” ou com a intenção de replicar as lutas entre gladiadores de Roma (até porque haviam crucificações no intervalo e não creio que um jogo vá querer adicionar isso). Mesmo nos momentos de maior tensão é engraçado ver a plateia jogar armas para você — como a frigideira que mencionei no início do texto — ou pedaços de madeira. E, acredite se quiser, um desses pedaços de madeira me salvou.
A batalha ocorria em uma arena bem pequena, minha espada tinha quebrado depois de defender um ataque. Para mim eu estava morto, mas a plateia jogou um pedaço de madeira na arena. Imediatamente pensei: “Como vocês esperam que eu derrote meu oponente com isto?!”. Acredite se quiser, eu dei um golpe certeiro na cabeça dele que fez ele ser nocauteado. Só faltou o barulhinho de “bonk” para fechar a batalha. Lágrimas escorriam dos meus olhos de tanto que eu estava passando mal de rir.
Mas, por ser um jogo que está em acesso antecipado, é inevitável que certas arestas ainda estejam um tanto pontiagudas. Pra começar, ele só tem um dos três modos de jogo que estarão presentes na versão final. Por mais que ele seja excelente e recheado de conteúdo, você ainda não pode, por exemplo, criar uma batalha personalizada no modo Sandbox.
Outra questão importante está no próprio sistema de combate, que às vezes falha em registrar golpes dependendo do ângulo; outros golpes parecem não surtir o efeito desejado ou você pode perder a sua arma caso ela decida ficar “presa” no inimigo. Ainda não sei se isto é um bug ou uma funcionalidade do jogo.
As próprias “Pit Fights” que eu mencionei antes na matéria me causaram uma pequena dor de cabeça, quando o jogo decidiu que todos eram meus inimigos ao invés de lutarem entre si e eu fiquei correndo em círculos na arena. Ao menos foi engraçado ver um gladiador que me perseguia dar de cara com uma pilastra, e sem querer cair em espinhos e morrer. Ah, jogos cuja movimentação é baseada em física, vocês sempre vão arrancar um sorriso do meu rosto.
Se fosse em outros jogos eu teria dado uns 10 passos para trás. Mas, considerando que a base do combate de “We Who Are About to Die” mostrou para mim que Jordy Lakiere sabe o que está fazendo, eu fico mais aliviado.
É assim que vejo “We Who Are About to Die”: um jogo que, embora tenha só um modo de jogo, já está com fundamentos bastante sólidos para crescer e muito — seja ainda em 2022, em 2023, ou sabe lá quando ele for lançado. Eu não duvido que vou continuar a jogá-lo ao menos nas próximas semanas, nem que seja para descobrir todos os equipamentos disponíveis.
Se você já quer participar das lutas, ser decapitado ou tentar sair vitorioso de uma “run” e ser “coroado” o melhor de todos os gladiadores, “We Who Are About to Die” já está mais do que pronto para te receber de braços abertos e uma paulada na sua cabeça. Mas já aviso: a jornada vai ser difícil, muito difícil.