Escrever sobre jogos free-to-play me dá uma sensação de “isto é bom para os meus leitores? Vale a pena o esforço? ”. Eu tenho uma grande relação de amor e ódio com o gênero e os sistemas de lucratividade presentes neles. Mas, dentre os poucos, Tiger Knight: Empire War, disponível no acesso antecipado do Steam, me faz esquece-los, mesmo que brevemente.
A melhor forma de descrevê-lo a um leigo é “A mistura entre Dynasty Warriors e Mount & Blade que você jamais imaginou que iria querer”. O sistema de combate de Mount & Blade — onde o ângulo do golpe é definido com os movimentos do mouse — aliado a uma maneira cômica de tentar contar a história da China antiga e a batalha entre as dinastias Han, Shu e Wei — as três facções jogáveis no momento.
O sistema escolhido pela NetDragon é menos exagerado do que o da Koei Tecmo, com personagens menos e mais pé no chão. Mas, convenhamos, um soldado correr a cavalo e derrubar 300 homens é algo que não soa nada realista.
Isto é o que difere Tiger Knight de outros jogos Free-To-Play como World of Warhsips e World of Tanks. Ambos retêm a mesma estrutura de controle de mapa, mas os games da Wargaming.net tentam desengonçadamente se prender a estereótipos onde o realismo impera sem que ele realmente seja verdade. “Ah agora que o tanque tem proteção X ele vai ficar menos vulnerável” e parece mais um grind do que outra coisa.
Bastante variados, os mapas são divididos em quatro modos: PVE, PVP, Duel e Siege. PVE até então é a parte mais fraca, com problemas sérios de tradução do chinês para o inglês, mas uma interessante e distorcida visão sobre algumas das batalhas do período.
Só a presença de um componente PVE já me daria motivos o suficiente para recomendá-lo para muitas pessoas, principalmente aqueles que sofrem com a pressão e ansiedade de um modo online. Faça algumas batalhas, conquiste castelos, aproveite a (mal traduzida) história. Diverte e dá para gastar algumas horas de “bobeira” nele.
Mas o grosso de Tiger Knight fica no PVP e no Siege. Com a maior contagem de mapas, cada jogador é encarregado de um grupo de soldados que deve conquistar territórios, ou dominar o castelo no modo Siege.
Percebe-se que um jogador mais doze soldados só pode ter um resultado: A mais completa zona e é isto que a maioria das partidas de Tiger Knight se resumem. Lá no fundo existe um teor tático que é controlar pontos de suprimento e recrutamento de soldados, mas boa parte dos jogadores prefere se enfrentar no meio do mapa e se estapearem até a morte. A ausência de um mecanismo que promova caminhos melhor definidos no mapa é uma das principais causas do problema.
Este, que é mitigado nas partidas de Siege já que o objetivo é claro e trabalho em equipe é essencial para conseguir invadir o castelo. E pode ter certeza que tem todo apoio de equipamento de certo, divertidos de serem usados, além de uma maior quantidade de soldados.
O design destes mapas ainda é muito baseado em forçar o jogador a se enfrentar em chokepoints, que é o conceito básico de defesa de um castelo. Mas nas partidas que eu joguei, sinto que eu contribuí mais para a vitória da minha equipe.
Para quem prefere um combate mais metódico e compassado, o resultado vai ser ficar no modo de Duel, de longe o meu menos preferido. Parte disso em minha ineficácia em acertar os golpes nos oponentes e ter a sensação de que o sistema me colocava contra os melhores jogadores do servidor.
Por incrível que pareça, ainda mais com jogos que usam o sistema de Mount & Blade, não vi tantos problemas em “conectar” golpes com um ping alto. Os outros problemas do sistema, como dificuldade em perceber qual a distância está do oponente, permanecem, mas é algo que quem jogou a franquia da TalesWorld ou outros jogos como War of The Roses aprende a conviver.
Mas, no fundo, Tiger Knight: Empire War ainda é um jogo free-to-play distribuído pela Ocean Games, então qual é a pegadinha da vez? O que vai fazer você desistir de jogar com algum elemento pay-to-win?
No atual estágio, nada. O sistema de progressão é dividido entre o seu personagem principal, os exércitos e um aliado. A interface em si não é das mais amigáveis, sendo metade da culpa pela tradução parcial e a outra metade um confuso sistema de melhoria de equipamentos e habilidades passivas. Imagine pegar a árvore de tecnologia de World of Tanks e torná-la ainda mais confusa, pronto, agora você já tem ideia do quanto eu sofri.
A partir do momento que libera um novo equipamento de um exército, você também pode usar no personagem principal, mas Tiger Knight não avisa isso de forma clara. Acho que passei trinta minutos “namorando” uma nova lança até perceber que podia usá-la no momento que a comprasse também para o personagem.
O segundo passo foi descobrir como equipá-la e como alterar o meu aliado. Para mim era o processo de clicar duas vezes em cima do personagem para editá-lo. Muito pelo contrário, você tem de ir até a opção “armazenamento” para aí ter acesso a todo o equipamento e trocar os sets tanto do personagem como do aliado. Não tinha como deixar isso mais confuso não?
Estes pedacinhos inacabados são bem irritantes para alguém que não tem tempo ou paciência para lutar contra interfaces que deveriam ser intuitivas. Indica uma interface que funcionava com o público oriental, o qual o jogo já está em fase alpha e beta há alguns meses, mas não com o ocidente.
A Ocean Games me ofereceu um código para um mês de acesso VIP mas optei por não o usar para garantir que minhas partidas fossem mais próximas com as de um jogador que não vai gastar um centavo com Tiger Knight. Para minha surpresa eu nunca senti que não recebia pontos o suficiente para subir de nível.
O jogo provê uma quantidade boa de “missões” — como matar X soldados em Y horas — para que você não fique na mão ou tenha a medonha sensação de grind. Dado o curto tempo que o joguei, não posso falar sobre os níveis mais altos, mas nada me pareceu sequer perto do que eu sofri para liberar um mísero tanque no World of Tanks.
Um dos fatores que mais me impulsionou a escrever sobre Tiger Knight: Empire War é a chance de finalmente termos um jogo com um combate nos moldes de Mount & Blade em uma ambientação fora da Europa medieval. O constante reuso dos locais me fez afastar de muitos jogos do estilo, entretanto este rejuvenesceu o meu interesse.
Ainda há um longo, mas muito longo caminho pela frente na vida de Tiger Knight: Empire War. Apenas três facções estão disponíveis, legiões Romanas vão aparecer no jogo e muitas outras melhorias começam a engatinhar. É um jogo free-to-play, então vale a pena gastar algumas horas para ver se é do seu estilo. Agora só me resta ficar na torcida que ele não caia no mesmo buraco de tentar monetizar tudo possível como tantos outros fazem.