“Ok, eu consegui sobreviver as outras 10 ondas de inimigos, minhas defesas estão bem posicionadas e eu tenho ouro suficiente para melhorar minhas muralhas. Vou só apertar a barra de espaço para começar a próxima e… perdi de novo. Opa, mas subi na tabela de liderança!” É isso que digo a mim mesmo quase todas as manhãs desde que eu coloquei as mãos em “Thronefall” (Steam), o mais novo game da equipe por trás de Islanders e Superflight.
O histórico da dupla Jonas e Paul (GrizzlyGames) não me faria pensar que depois de dois jogos minimalistas sobre exploração e construção de cidades, eles iriam dar uma guinada total e seguir para o mercado de jogos de estratégia. E não só ir para esse gênero, como também dar uma bela de uma rejuvenescida nele. Bom, mas não sem uma base extremamente sólida para começar esse processo. Quem iniciar uma partida de “Thronefall” vai se deparar com um jogo que pegou bastante inspiração de “Kingdom”, criado por Noio em 2015.
Cada partida começa da seguinte forma: Após escolher um mapa no “mapa-mundi”, você assume o controle de um rei. Seu objetivo é sobreviver a 12 ondas de ataques inimigos dos mais variados tipos. Soldados armados com espadas, lanças, monstros, catapultas e muito mais. É você quem decide onde colocar a sua base principal, quais defesas e quais construções que geram dinheiro devem ser construídas primeiro. Entretanto, é aí que as similaridades acabam.
“Thronefall”, a meu ver, é a tão sonhada evolução que eu queria da franquia Kingdom. A GrizzlyGames pega esse conceito base e o expande de forma fantástica. O rei que você controla é um participante ativo da batalha; além de possuir três armamentos diferentes — arco, lança, espada — você pode guiar as tropas para determinado local ao fazê-las seguirem você. Cada estrutura tem uma linha de melhorias que são liberadas gradativamente à medida que você sobe de nível no perfil ou avança nos mapas.
O que me fascina é o quão intuitivo “Thronefall” é para iniciantes. “Kingdom” gostava muito de esconder mecânicas para surpreender o jogador, e muitas vezes eu senti que essa tentativa era mais frustrante do que outra coisa. “Para que servem essas gemas? Ah, eu não sei e nem tenho tempo de pensar nisso pois uma nova horda de inimigos está vindo para destruir a minha cidade”. Tudo o que você vê no mapa de batalha de “Thronefall” é aquilo a que você tem acesso; não há mecânicas absurdas ou algo que não fique explicitamente claro nos primeiros 10 minutos de jogo — um feito e tanto, considerando que falo de um jogo de estratégia, um gênero que tende a ter múltiplas camadas e táticas variadas. A principal peça do quebra-cabeça é priorizar os tipos de construção e como você vai defender o seu pequeno castelo dos inimigos.
A minha tática favorita até então é “segurar todo o dinheiro possível na construção de defesas e usar meu personagem para destruir os inimigos”. Ela é bastante útil nas primeiras 3 ondas, dependendo do mapa, mas depois disso, se eu ao menos não possuir uma torre de defesa — ou, no caso do terceiro mapa, quatro — é derrota na certa. Claro que, como tudo na vida, aprendi isto de forma bastante amargurada — batendo a minha cabeça contra a parede e sendo teimoso. “Mas eu sei que essa tática vai funcionar, eu só preciso entender quais inimigos são mais letais”. Imagine eu pensar isso enquanto meu rei estava sendo envolto por dezenas de pequenos soldadinhos e arqueiros. Patético, não?
Mas essa é a graça de “Thronefall”: pegar uma tática absurda e ver se ela funciona ou até onde ela funciona. Independente de ganhar ou perder, você vai ganhar pontos, subir de nível e liberar novas melhorias para o seu perfil. Isto, é claro, sem contar na chance de subir de posição na tabela de liderança.
Ah, tabelas de liderança, elas são a minha fraqueza e quem acompanha o site há bastante tempo sabe muito bem disso. Eu paro tudo quando vejo que uma das minhas pessoas da lista de amizades no Steam bateu a minha pontuação. “Maldito, como ele conseguiu?”. Obviamente,Thronefall não conta com um sistema de replay para não estragar a surpresa, restando a mim quebrar a cabeça e pensar como derrotar os inimigos mais rápido, gastar menos dinheiro ou aplicar modificadores de dificuldade — alguns dos elementos que aumentam a sua pontuação.
Eu já devo ter gastado mais tempo no segundo mapa, “Nordfels” — um dos cinco mapas da versão de acesso antecipado — do que eu gastei em jogos de estratégia inteiros, só para aumentar a minha pontuação em “Thronefall”. No momento ela senta confortavelmente em 7000 pontos, com a última onda de inimigos sendo ainda a mais complexa de segurar quase 100% do seu reino intacto. Mas, eu sinto que ainda vou encontrar a solução para aumentar ainda mais a minha pontuação.
E não deixe que a “pequena” quantidade de mapas presentes no momento em “Thronefall” o dissuade de pegá-lo. Esta é a primeira vez que a GrizzlyGames não está usando geração procedural em seus jogos e de cara eles já ganharam o meu imenso respeito. Cada um dos mapas tem o tamanho certo — grande o suficiente para você não se tornar um exército de um homem só, mas pequeno o suficiente para não te desgastar como outros jogos de defesa que estão por aí, como “Diplomacy is Not an Option”. Os visuais claros e vibrantes — marca registrada da desenvolvedora — são outro grande destaque e fazem com que cada mapa tenha a sua identidade. Como falei acima, já gastei boas horas em apenas um e não estou nem um pouco enjoado de vê-lo mais e mais vezes.
“Todo mundo tem que começar em algum lugar”, é uma frase que eu vejo sendo jogada por todos os cantos da internet. E, quando se trata de jogos de estratégia, o simples fato de começar a entender o básico do básico já é uma tarefa muito difícil nos dias de hoje. Minha preferência sempre vai ser jogos mais complexos, mas é com “Thronefall” e outros jogos desse tipo que o gênero pode alcançar um novo público, e não prometer o mundo e entregar quase nada (Sim, estou olhando para você, “Company of Heroes 3”)
Sinto que estou presenciando mais um clássico da GrizzlyGames sendo criado na minha frente, um que irá impactar o mercado de jogos de estratégia e servirá como inspiração para tantos outros desenvolvedores futuros. Compacto, elegante, preciso, “Thronefall” já virou um companheiro de manhãs, tardes e noites, ao lado de “Islanders” e “Superflight”. Que a desenvolvedora abra cada vez mais as asas e explore novos territórios; eu vou estar lá para acompanhar, assim como vou estar ao lado de cada atualização de “Thronefall”.