Como muitos outros jogos próximos do lançamento, The Division me enchia de dúvidas. Gostava do que via, mas ao mesmo tempo não sabia muito bem se cairia no meu gosto. Após quinze longas horas no Beta encontrei um jogo sensacional, mas que talvez não vai cair no meu gosto.
Com uma criação limitada de personagem no momento, o Beta coloca o jogador em um helicóptero a caminho de Nova York onde um vírus assolou a cidade, a fazendo ficar em estado de quarentena. O jogador é um dos membros da organização obviamente chamada de “The Division” que juntamente com a guarda nacional devem restaurar a ordem na cidade e descobrir as origens do vírus.
Convenhamos, não é uma história muito encorajadora para explorar Nova York, já perdi a conta das as inúmeras vezes que um vírus destruiu uma cidade ou que a cidade entrou em caos. As duas primeiras missões me inspiram pouca confiança no shooter. Primeiro era necessário limpar uma área de inimigos para que uma base de operações avançadas fosse ativada, após isso entrar em um hospital, resgatar alguns reféns e liberar o heliporto que estava sob domínio de alguma facção que pelo visto só conhece uma loja para comprar roupa e bonés.
Nada do que via até então me inspirava motivos para continuar a jogá-lo, principalmente devido à limitação dos eventos que podiam ser completados. Foi só depois de quatro ou cinco horas de jogo que finalmente comecei a jogar da maneira “certa”. Não que exista uma, apenas aquela que me agrada melhor. Juntei alguns amigos, fizemos a missão do hospital em modo “Hard”. O grande legal de The Division é o Loot, equipamentos, modificações para as armas ou roupas que dão alguma vantagem no combate.
The Division usa um sistema de classes maleável, você pode alterá-las de acordo com a necessidade. Em momentos usava a minha habilidade de cura nos meus amigos enquanto em outros optava por usar uma granada capaz de se acoplar em superfícies e causar um impressionante dano em área. Sistemas como esses caem muito bem a calhar não apenas na hora de achar partidas, mas de não me preocupar tanto em ter escolhido a “classe certa” na hora da criação do personagem.
Após jogar mais um pouco da missão principal, assim como algumas sidequests que mais envolviam vá até X e colete Y, decidi finalmente entrar de cabeça na Dark Zone. A Dark Zone é o suposto conteúdo PVP de The Division, pense nele como um survival sem os típicos elementos de survival — como água e alimento — mas com as chances de alguém te trair bem altas. Estas são áreas contaminadas, separadas da área base e com um sistema de progressão e de valores diferentes. É meio que um cada um por si, não dá para confiar em ninguém e você fica tenso do primeiro momento que a acessa.
Foram alguns dos momentos mais divertidos e ao mesmo tempo mais frustrantes de The Division. Cada equipamento ou armamento coletado tem de ser levado a um ponto de extração e preso a uma corda de um helicóptero. Como eu esperava, essas zonas de extração pareciam mais zonas de guerra, com outros jogadores escondidos atrás de coberturas na espera do primeiro descuidado aparecer para arrancar todo e qualquer “loot” que tenha obtido da Dark Zone.
Cedo ou tarde chegou a minha vez, onde durante um breve momento de desatenção fez com que eu fosse atacado por dois jogadores, meu rifle e alguns outros equipamentos estavam no chão. Toda vez que se morre na Dark Zone você perde um pouco de experiência e Dark Money, o nome da moeda usada exclusivamente nessa área. É punitivo, mas pouco se comparado ao loot. Voltei outras vezes a Dark Zone, apenas para dar uma chance que se fosse gostar e nada disso acontecer. O que me leva a outra preocupação, o endgame.
Os melhores equipamentos do beta estavam justamente na Dark Zone. Risco vs recompensa, um dos designs mais tradicionais a serem aplicados em jogos, que não vejo problemas para quem joga, apenas não é para mim. Perder esses equipamentos é o equivalente de perder horas de jogo, horas que poderiam ser gastas em outros jogos ou em modos onde a frustração seja menor.
Não me leve a mal, eu não me importo em perder, eu me importo quando a derrota me rouba de algo que poderia ter sido meu. Imagina ter um ótimo equipamento apenas para perdê-lo para alguém que decidiu te atacar a troco de nada. Outra preocupação minha vem da comunidade do PC, plataforma a qual optei para jogar o beta. Tenho minhas dúvidas se não vi um ou outro hacker que atirava pelas paredes ou que era praticamente invencível na Dark Zone. Decepcionante e preocupante.
Agora, se a Massive deseja transformar essa Dark Zone no único conteúdo “endgame” para The Division, conteúdo que ainda não foi bem revelado pela desenvolvedora, não sei se vou gastar mais horas nele. Isso só piora a situação pois gostei bastante do sistema de loot, personalização de armas e equipamentos. Apesar de nem sempre receber o melhor item fora da Dark zone, algo esperado essa dependência de ter de lidar com outros jogadores nessa constante batalha pelo melhor não é algo que estou disposto a lidar.
Saindo um pouco do assunto jogabilidade, não há como não ficar impressionado com a Nova York criada pela Massive. Não, não é da mesma qualidade do trailer mostrado durante a E3 2013 e sinceramente não importa no momento. A pequena área jogável mostra uma incrível atenção aos detalhes, seja a iluminação a interação do jogador com os objetos nele. Pequenos toques como lâmpadas que queimam ao receberem balas, pneus dos carros que furam ou até mesmo as pegadas do meu e de outros personagens trazem um ar de credibilidade e de atenção que muitas vezes passsa despercebido.
Enquanto boa parte do meu tempo foi gasta na versão PC, que sem dúvidas é um dos melhores ports da Ubisoft recentemente, a versão Xbox One não fica atrás. De início já esperava problemas na taxa de quadros, texturas fracas ou uma iluminação abaixo do esperado. Nada disso, Nova York estava tão bonita quanto no PC, uma ótima notícia para aqueles que preferem jogar no console.
No futuro, The Division receberá um conteúdo adicional por meio do passe de temporada. Sendo um deles um suposto modo de sobrevivência, a expansão Underground e o Last Stand. Detalhes sobre os mesmos ainda são escassos.
Independentemente se a versão final irá cair ou não no meu gosto, o trabalho feito pela Massive em The Division é louvável. É um jogo com mecânicas bem elaboradas, um sistema de loot intrigante e com uma ambientação sensacional. Aguardo cautelosamente para que a versão final chegue em minhas mãos e volte a explorar Nova York mais uma vez.