Eu não sei lidar com despedidas; acho que nunca saberei como as pessoas lidam com isso. Foi só abrir a tela inicial de The Banner Saga 3, previsto para 26 de julho no PC e consoles, que já veio aquele nó na garganta. Seis anos desde que o vi pela primeira vez no Kickstarter meio sem esperança de que o projeto recebesse a atenção devida. Agora cá estou eu, nas etapas finais dessa saga que, não posso descrever além de “épica”.
A versão usada para essas primeiras impressões me permitiu apreciar os primeiros três capítulos dos momentos finais da saga, que são, no mínimo, desesperadores. A jornada está quase no fim, e ao invés do início tradicional dos outros dois games – com situações políticas em destaque ou no preparo para uma longa viagem – The Banner Saga 3 já te coloca no caldeirão borbulhante.
Os capítulos se dividem entre Aberrang – a última cidade humana ainda de pé depois do ataque dos Dredges — e a viagem de Juno para dentro da escuridão que está consumindo o mundo. Mesmo totalizando quase quatro horas de jogo, eles ainda deixam muitas questões no ar.
Rook, que está com sua caravana em Aberrang, precisa enfrentar dois grandes desafios: a invasão dos Dredges e questões políticas. O rei de Aberrang está prestes a falecer, e Rugga — ex-governador de Boersgard e sedento para usurpar o trono de Aberrang — quer se beneficiar de toda essa confusão para finalmente concretizar seu plano e fechar a cidade para todos aqueles que não são “nativos” ou “clãs” que considera inimigos.
Dentre batalhas, derrotas e vitórias, o tom dos capítulos de Rook em The Banner Saga 3 criam uma pintura mais detalhada sobre a convivência entre os humanos, os Varl e os Horseborn – mais especificamente a intolerância das duas raças “humanoides” com a mistura entre centauros e humanos. Em dado ponto, Canary, uma Horseborn assume ter assassinado humanos. Eu poderia a ter perdoado, a insultada, ou até expulsá-la da minha caravana. Manterei a questão em aberto, pois quero que você decida o destino dela. Mas é bom ver a Stoic apresentar – pela sua sempre espetacular narrativa – que mesmo antes da escuridão tomar conta; antes mesmos dos Dredges, nem tudo eram flores no mundo de The Banner Saga. Espero que outros capítulos tragam mais detalhes sobre a instável relação entre as raças.
Todavia, o que manteve os meus olhos grudados na tela foi o capítulo de Juno que, junto com um pequeno grupo de guerreiros, adentrou a escuridão na tentativa de derrotá-la. Pela primeira vez na saga consigo perceber o poder devastador da escuridão ao passar pela cidade de Strand; destruída, desfigurada, repleta de perigos, ela é agora apenas uma memória da minha primeira caravana rumo ao desconhecido. Esse capítulo dá poucos indícios sobre a atuação da escuridão, ou qual é exatamente o propósito dela. Me apresenta novos inimigos, e me deixa mais confuso, e preocupado se Juno vai sobreviver a esta caminhada.
Mas, o que eu não esperava mesmo eram novos elementos no combate de The Banner Saga, e The Banner Saga 3 mais uma vez me surpreende. Mantendo o estilo de combate em turnos dos outros games, pode se preparar para alguns dos combates mais difíceis da franquia. E não falo isso com nenhum tom de ironia.
Inicialmente planejei jogá-lo na dificuldade mais alta – que adiciona ainda mais peso em minhas decisões dentro e fora do combate. Apanhei tanto que achei melhor reduzir a dificuldade com o objetivo de completar esse texto. Em sua essência, o combate retém as mecânicas do primeiro The Banner Saga: você começa cada batalha definindo o posicionamento da personagem e designando os movimentos iniciais, nada muito diferente de um jogo por turnos mais tradicional. Cada unidade tem uma barra de vida e uma barra de armadura; quanto menor a armadura, mais dano de vida essa unidade recebe, sendo então necessário equilibrar que tipos de ataque realizar a cada turno. A inteligência artificial, dessa vez bem mais sorrateira, vai se aproveitar de cada oportunidade – cada brecha que você deixar na sua linha de combate para infligir o máximo de dano. Quem jogou The Banner Saga 2 e sentiu falta das armadilhas naturais, que não é o meu caso, pode ficar calmo; elas estão de volta, em maior número, e prontas para te fazer arrancar os cabelos, olhar para a tela e falar “Céus, como eu fui idiota, como eu deixei essa unidade ali?!”.
Mas o palco central é reservado para o novo tipo de combate, chamado de “waves combat”. O conceito é: sobreviva o quanto conseguir e, caso chegue no final, derrote um chefão e ganhe um item poderoso. Esse conceito já havia sido apresentado no modo “survival” de The Banner Saga 2; todavia, o fato que esse combate acontece especialmente nos capítulos de Juno – onde os inimigos da “escuridão” podem ser ressuscitados por um feiticeiro ou uma feiticeira – e a prioridade de eliminar tais oponentes o quanto antes, aliado as armadilhas, deixa o combate assustadoramente mais intenso.
Outra mudança considerável quando se luta contra a escuridão é a remoção dos pontos de ação extras – que eram ativados ao tocar um chifre – e podiam ser usados para aumentar o dano causado pelo seu personagem em favor da lança de Valka. Vista pela primeira vez em The Banner Saga 2, a lança permite causar um ataque em área que atinge todos que estiverem no alcance dela, inclusive aliados. Coisa que aprendi quando vi três dos meus personagens morrerem.
Uma pena o capítulo de Juno ser tão curto, mal senti o gostinho e já me vi de volta para Rook e Aberrang salva – por ora. As decisões que tomei para fazer isso? Prefiro não comentar, mas posso te dizer que não me orgulho delas.
Os primeiros três capítulos de The Banner Saga 3 são uma mistura de intimismo e caos. É doloroso ver alguns dos seus personagens favoritos serem feridos em batalha, ter que tomar medidas drásticas para um suposto bem maior sem a certeza de que esse tal “bem maior” vai chegar.
A essa altura eu nem me importo mais se o final vai ser satisfatório ou não; por ora já estou contente com a jornada, os incríveis personagens que encontrei no caminho, com a belíssima arte da Stoic e como eles foram capazes de desenvolver algo tão fantástico ao longo desses últimos seis anos.
A espera até 26 de julho vai ser um tanto dolorosa.