“Ok, se eu colocar essa usina eólica nessa posição eu talvez consiga ganhar mais pontos e avançar a partida. Agora vamos ver….droga! Errei. Perdi a partida!”. Quem lê pensa que é um daqueles jogos de estratégia super complexos, mas na verdade não se passa do fantástico Terra Nil da Free Lives (Steam).
O jogo parte estratégia, parte gerenciamento, parte quebra-cabeça é mais um na linha do que eu considero um “subgênero” de estratégia onde você pega um conceito-base e a distila para a sua mais pura essência. No caso de Terra Nil, a recuperação de uma região destruída pelas ações climáticas até que ela se recupere e volte aos belos campos verdes e rios limpos que deveriam estar lá desde o começo. Em suma, é um jogo de “engenharia reversa”.
Caso tenha jogado Slipways, Dorfromantik ou Islanders sabe bem o que esperar de Terra Nil: Você “ganha” uma série de objetos – de usinas eólicas até diferentes tipos de equipamentos de terraplanagem ou edifícios que transformam o que antes eram rios secos em grandes rios cheios de vida – e deve aprender a colocá-los de maneira eficaz em mapas gerados proceduralmente. A chave para a vitória é saber posicionar tais objetos de forma que eles não se sobreponham. Quando essas edificações não se sobrepõem – ou seja, não ocupam a mesma área usada por outra edificação – você ganha pontos. Caso se sobreponham, você perde pontos.
Para um jogo com uma temática que eu consideraria tão “pesada”, Terra Nil é incrivelmente relaxante. A versão demo – nos enviada previamente pela Devolver Digital – me fez gastar algumas horas extras a mais após o trabalho, umas noites durante o final de semana ou até uma partidinha após o café da manhã.
Leve em conta, é claro, que eu sou o público alvo desse tipo de jogo – vide meus textos sobre Dorfromantik e Cloud Gardens. Toda vez que eu me sentia um pouco parado ou entediado eu pensava “Quer saber? Vou jogar uma partida de Terra Nil”. E não digo isso de uma forma que é um jogo “viciante” – palavra a qual evito usar sempre que possível –, mas a intersecção entre seus diferentes sistemas e diferentes edificações criam um loop de gameplay igualmente agradável e um que te empurra para tentar novas estratégias e combinações.
Onde Terra Nil vai além dos jogos citados é a presença de diferentes biomas e, por consequência, um número maior de combinações de edificações de diferentes graus de “tecnologia”. Mesmo na demo – um tanto quanto limitada em termos de conteúdo, o que era de se esperar – dava para sentir um belo gostinho do que vem por aí. E se for algum indicador, atingir uma pontuação alta requer entender a correlação entre tais biomas e as edificações. Colocar “fábricas de limpeza” ou usinas eólicas a esmo é a garantia de perder uma partida.
Porém, o que pode ser a minha fase favorita é a última etapa do processo de “limpeza”, a criação de uma airship e drones para remover as edificações usadas para retornar o mapa a sua beleza natural e finalmente amarrar a temática de restaurar a terra. A demo apresentou tais mecânicas com uma certa “simplicidade” em comparação ao posicionamento das edificações. Espero que esta seja uma das áreas que a Free Lives planeje expandir na versão final.
Independentemente do resultado da versão final, como alguém que jogou o protótipo – ainda disponível no itchio – eu fico muito feliz de ver Terra Nil evoluir para um jogo igualmente complexo e relaxante. Se algo, mostra que ainda há muito espaço e criatividade para jogos de estratégia que não visam a competição. Não fique surpreso se eu desaparecer por alguns dias quando ele sair. “Me perdoe, estava jogando Terra Nil e não atingi a minha pontuação máxima, preciso melhorar a minha estratégia”, será a minha frase padrão para toda tentativa de me contatar.
Se você tem o mínimo de interesse em explorar as diferentes facetas de estratégia, como ela vem evoluindo ao longo dos anos e incorporando diferentes estilos para ser mais acessível e interessante, Terra Nil é um dos jogos que precisa estar no seu horizonte.