Eu não sei as regras de Hockey. As partidas que eu assisti na TV podem ser resumidas em comentários como: “ok, então tem que acertar o golzinho?”. Minha experiência com jogos também não foi muito além disso. Tentei gostar da franquia NHL mas seu foco em “realismo” não me apeteceu. Mas, depois de jogar “Tape to Tape” (Steam), está na hora de aprender mais sobre o esporte. Pena que não vai ser tão caótico quanto o jogo da Excellent Rectangle.
Mesmo depois de testar a versão demo no início de 2023 e escrever sobre “Tape to Tape”, eu ainda estava hesitante sobre o conceito do jogo. Como diabos a Excellent Rectangle irá criar um jogo de hockey com metaprogressão e “elementos roguelite”? A resposta é mais simples do que parece: comece fazendo um jogo de hockey competente.
Mesmo se não possuísse todas as mecânicas extras como habilidades especiais ou jogadores “estrela” — falarei mais a fundo sobre isso em breve — “Tape to Tape” é simplesmente divertidíssimo de se jogar. Os seus controles são simples o suficiente para até quem não possui a menor familiaridade com hockey começar uma partida e em menos de 5 minutos já saber os comandos básicos.
Claro que, se você espera algum grau de realismo em “Tape to Tape”, pode abandonar qualquer esperança. O intuito da Excellent Rectangle são partidas rápidas, personagens caricatos e pouco interesse em seguir todas as regras do esporte. Outro jogo que me trouxe essa sensação é o igualmente fantástico “Pixel Cup Soccer”. Eu não queria saber quantos movimentos do analógico eu tinha que fazer para driblar, eu só queria chutar para o gol ou quem sabe marcar um gol de escanteio.
Junto a essa base sólida a Excellent Rectangle ainda traz uma IA competente que vai te desafiar em diferentes graus. Para quem não tem a menor ideia de como jogar hockey, recomendo começar pelo “easy”, mas os experientes vão ter que se desdobrar para furar o bloqueio do inimigo. Isto é, ao menos no modo “tradicional”, que está muito longe de ser o que faz “Tape to Tape” ser tão especial.
Pois, como tinha mencionado antes, “Tape to Tape” não é só um mero jogo de hockey. A melhor descrição que eu posso dar no momento é o de um simulador de caos embalado em um sistema de metaprogressão e runs cada vez mais desafiadoras.
No início de cada run você escolhe um jogador “estrela”. Ele atua como o “titular” da sua equipe, acompanhado de outros quatro pobres coitados que servirão ao menos nas partidas iniciais de saco de pancada para a equipe oponente.
A verdade é que até o meu jogador “estrela” virou saco de pancada nas minhas primeiras runs. Bastou eu encontrar uma equipe “Elite” — consideradas as mais fortes do jogo — que eu perdia em questão de segundos. Antes de pensar que isso é uma desculpa para a inclusão do sistema de metaprogressão, a culpa é minha em não saber mirar o puck.
Minha sorte começou a melhorar a partir da 5ª run; já tinha pegado o jeito de controlar o campo, minha estrela estava começando a mostrar o porquê de ele ser uma estrela, graças a sua incrível habilidade de… tacar o taco na cabeça do oponente e deixá-lo atordoado por mais tempo.
Ué, esperava o quê de um jogo que não está nem aí para as regras oficiais de Hockey? Um aumento mísero de habilidade passiva como tantos outros jogos por aí? Nada disso, em Tape to Tape as habilidades podem mudar o rumo de uma partida.
Só a leva inicial de habilidades já mostram a criatividade da Excellent Rectangle. Acelere os seus jogadores, diminua o tamanho dos seus oponentes para atordoá-los por mais tempo ou acerte o juiz e deixe-o no chão até o final da partida para que você possa moer o oponente na porrada.
O que me deixa mais feliz é que esse sistema de habilidades — incluindo as futuras que você libera via metaprogressão — são uma ajudinha extra e não a base de “Tape to Tape”. A sua habilidade com o taco é que decidirá quem vai sair vencedor, o que é um tremendo alívio para mim.
Por anos eu reclamei de como sistemas de metaprogressão “estendem” de forma desnecessária um jogo. Pelo visto muito disso tem mudado, primeiro com “Wall World” e agora com “Tape to Tape” sendo mais um ótimo exemplo. Eu não saía frustrado ao perder uma run, apenas refletia sobre os meus erros durante as partidas e ficava entusiasmado para ver quais novas habilidades seriam liberadas para mim.
Mas, como todo jogo em acesso antecipado — e um que não tem sequer um ano desde que deu as caras no Steam, ao menos na data da publicação desta matéria — “Tape to Tape” ainda tem muitas arestas a serem aparadas. Pelo lado bom, a maioria delas não diz respeito a sua estrutura ou jogabilidade.
Um dos maiores problemas que vi está ligado à IA dos goleiros e de seus companheiros de equipe. Os goleiros às vezes atuam como muralhas impenetráveis, outras vezes deixam a tacada mais patética entrar; não chega a atrapalhar tanto, mas algumas runs me pareceram fáceis demais para o meu gosto. Embora não saiba qual o motivo disso, posso especular que tem algo a ver com um misto do modelo do goleiro e a atribuição de IA fáceis demais para partidas que devem ser difíceis.
Agora os seus companheiros e a movimentação deles é uma questão bem mais séria. Eu os chamei de “saco de pancada” no começo do texto, mas assim como seu jogador principal, eles evoluem consideravelmente com atributos e habilidades ativas e passivas. No entanto, alguns deles aparentavam não ter a tal evolução aplicada na hora da partida. Houve momentos em que vi jogadores que atuaram super bem em uma rodada serem horríveis em outra.
Outra área em que “Tape to Tape” requer um tanto de trabalho adicional é o posicionamento dos jogadores no campo, que também é errático. Tudo bem que ele quer ser mais caótico do que sério, mas há um limite entre “vamos colocar jogadores na defensiva” e “vamos colocar jogadores que não fazem nada em campo”.
Não tenho a menor dúvida de que a maioria dessas questões irão ser resolvidas nas próximas semanas ou até no próximo mês. Só no tempo que me levou para escrever e publicar essa matéria, quatro grandes atualizações já foram publicadas para “Tape to Tape”, o que demonstra um imenso comprometimento da Excellent Rectangle com a qualidade do game.
É bem raro eu dizer isso, mas, “Tape to Tape” é um daqueles jogos que você pode pegar em acesso antecipado sem pestanejar. Ele já está mais recheado de conteúdo do que eu sequer imaginava, praticamente livre de bugs muito sérios, e dá um banho em muito “AAA” que saiu em 2023. Para falar a verdade, se me tivessem dito que este já é o lançamento final, eu acreditaria.
Só de saber que mais habilidades, mais atos e mais jogadores estão vindo aí me deixa muito entusiasmado para o futuro de “Tape to Tape”. Acho que encontrei mais um jogo para a minha rotação semanal, nem que seja para lançar um taco na cabeça dos outros.