Se você os lançamentos de jogos de estratégia este ano, então sabe que o calendário está lotado. Master of Orion já foi lançado, Civilization VI vem aí, ainda gasto um tempo com Hearts of Iron IV. Stars in Shadow chega sorrateiramente para tentar ocupar um espaço no meu tempo de jogo. Disponível no acesso antecipado do Steam, tenho minhas dúvidas se irá conseguir este feito.
Não gosto de pensar que jogos 4X no espaço são do tipo “jogou um, jogou todos”, mas a cada ano que passa isso é mais a regra do que a exceção. Stars in Shadow é definitivamente inspirado pelo clássico Master of Orion, do combate a navegação, mas tenta dar um estilo próprio para algumas mecânicas e definitivamente na parte estética.
Comecei a minha primeira campanha como o Yoral Khaganate, uma das cinco raças disponíveis na escrita deste texto, e cuja principal diferença em relação as outras é um bônus de produção para construtores.
Como de costume, eu tenho a maior sorte do mundo em começar o mapa com todos os sistemas solares mais próximos compostos por planetas desérticos (deve ser alguma onda de azar minha, eu juro que tive de recomeçar cinco vezes uma campanha do novo Master of Orion por causa disso). Os primeiros vinte ou trinta turnos foram de pura monotonia, ajuste uma coisa ali, aguarde uma produção ficar pronta, aguarde outra produção ser iniciada e uma pesquisa finalizada.
Diferente de Master of Orion, você não pode alocar parte da civilização de um planeta para um estilo, apenas construir uma quantidade específica de construções-base. Um planeta pode ter, por exemplo, até quatro fazendas, ou quatro zonas industriais ou quatro áreas de pesquisa. Por ser um tanto quanto rígido em relação ao que estou acostumado no gênero, tive de dar uma dose extra de atenção para os sistemas para que ou um planeta não morresse de fome (aconteceu mais de uma vez), ou que não tivesse a sua produção interrompida pela falta de mão de obra.
Quando cheguei ao ponto de encontrar um planeta que valesse o mínimo de esforço possível para colonizar…. Obviamente estava repleto de piratas. Lá vamos para a primeira e tão “esperada” batalha.
Olha, eu não vou fazer firulas e dizer que sou um fã de sistemas de combate tático em qualquer jogo de estratégia 4X. Na verdade, o quanto menos me fazer perder tempo com isso, melhor. Sim, eu sou uma daquelas pessoas que desativa as animações das unidades em Civilization. Dito isso, o combate de Stars in Shadow não me impressionou, mas ao menos já está bem implementado. Feito por turnos, o posicionamento da nave e algumas opções extras — como auto destruir uma nave ou capturar uma nave inimiga — faz ele mais interessante a curto prazo. A longo prazo ainda é uma questão de força bruta misturada com o design correto da nave.
Enfim, voltando a história que contava, foi o design da minha nave que fez com que eu perdesse a minha primeira batalha. Você realmente não acreditava que eu teria a ganho de cara né? Aparentemente meus lasers não eram suficientemente fortes para os canhões balísticos do inimigo. “Ah, droga, ok, é só eu atualizar automaticamente os meus designs e fazer com qu-“, fiquei em silencio.
Não havia como atualizar automaticamente os designs das naves. “Respira fundo Lucas, vai ficar tudo bem, são só quinze modelos diferentes”, tentei me reconfortar com a ideia de teria que lidar com a segunda parte mais chata de quase todo game de estratégia no espaço, o maldito design das naves. Eu ainda tento entender qual o prazer que as pessoas sentem e eu sou incapaz de sentir em ficar trinta horas na busca de um modelo “ideal” que me dará um ganho marginal de dano. “Agora eu só preciso achar o botão de-“, mais alguns minutos de silêncio. Nada na tela realmente indicava um designer de naves, ou talvez eu seja estúpido demais para reparar que o ícone na parte superior era de fato ele. Provavelmente é a segunda opção.
Passados trinta minutos, minhas naves estavam devidamente atualizadas para combater a frota inimiga e a batalha vencida. Uma pena que eu não fui inteligente o suficiente e sobrescrevi o modelo padrão, o que me fez gastar outros trinta minutos nos meus segundos e terceiros combates contra piratas que tinham naves diferentes.
Por mais que eu possa criticar certos aspectos de Stars in Shadow, ele também faz algumas coisas interessantes, como planetas com várias raças. Você pode usar transportes para mover outras raças entre planetas — ou centralizá-las em um só como eu fiz, o que não recomendo — para ganhar bônus na produção, pesquisa ou alimento. É uma pena que o recurso não é explorado mais a fundo, como algumas alterações diplomáticas ou até eventos especiais.
A mesma sensação que traz com as raças secundárias, encontradas aleatoriamente pela galáxia. Parte delas ou são piratas ou são apenas raças que parecem estar para fins de não tornar os turnos mais “chatos”, sem grande impacto a curto ou longo prazo. Foi o mesmo problema que tive com a versão de acesso antecipado de Master of Orion 4 (ou reboot caso prefira), conteúdo que está presente para marcar um item como na lista de compras, mas que não necessariamente gera novas oportunidades para o jogador.
Como de costume, eu dou um “desconto” por estar em acesso antecipado do Steam, portanto posso ficar surpreso se em alguns meses algumas mudanças forem feitas nestas civilizações e na interface. No caso da interface, entretanto, é quase como um apelo.
Queria dizer muito que sou um fã desse estilo cartunesco de Stars in Shadow, mas ele não poderia estar mais longe do que eu acho “ideal” para um jogo do gênero. Parte da culpa vem da interface, a qual espero receber uma boa, para não dizer ótima, dose de polimento. Parece mais um jogo feito para tablets, com letras enormes e janelas que ocupam mais espaço do que deveriam, do que um para PC. A árvore de tecnologias, por exemplo, ocupava a tela inteira sem o menor motivo. Você tem de dar cliques demais para fazer tarefas simples e lá pela décima hora isso se torna cansativo.
A gota d’água foi quase enlouquecer para entender como o sistema de construção funcionava. Clicava em uma unidade e a construção era iniciada, quando clicava na segunda construção era alterada automaticamente. Mantive meus olhos fixados a tela na tentativa de decifrar o que estava de errado. “Ah sim, o botão de ‘fila de construção’ não está ativo”, percebi.
Ativei-o e cliquei no que eu queria que fosse construído em primeiro lugar e…. ele foi colocado na fila de construção. O procedimento correto é primeiro desativar o botão, colocar o que quero ser construído primeiro e depois ativar o botão. Quer algo mais contra produtivo do que isto?
Depois desse mar de frustrações, o resto da partida fluiu como qualquer outro jogo de estratégia 4X no espaço. Novas alianças foram formadas, alguns oponentes eliminados e a vitória de dominação alcançada.
O foco do problema está em “fluir como qualquer outro jogo de estratégia 4X no espaço”. O “early game” é definitivamente o ponto forte, enquanto o mid e o late game sofrem dos mesmos problemas de sempre. Falta de variedade, batalhas vencidas na força bruta e um sistema de diplomacia que ainda está em fase de construção — ou ao menos eu espero que seja o caso.
No atual estado eu coloco Stars in Shadow como um 4X competente, o que já está um nível acima da aberração que foi o Master of Orion lançado no começo de setembro. O que dificulta é que competente as vezes não é o suficiente para atrair a minha atenção mais do que algumas horas. Sim, é um 4X com todas as artimanhas para te prender com aquela sensação de “mais um turno”, eu só não vi motivos ainda para prosseguir além das minhas campanhas iniciais.
Como um game de acesso antecipado, ao menos fiquei contente por não ter visto bugs horrendos ou problemas de desempenho, mas também não fiquei entusiasmado de jogar praticamente a mesma coisa de 15 a 20 anos atrás com ligeiras modificações. É um problema recorrente do gênero, não reconhecer as suas falhas e construir uma estrutura que faça com que elas sejam mitigadas ou se tornem interessantes. Eu vou manter uma esperança bem pequena para que Stars in Shadow fique um pouco melhor de maneira geral. Já que não vai avançar o gênero, que ao menos saia polido.