Antes de começar a ler este texto, questione-se: Quantas vezes você ouviu uma empresa falar sobre como você pode fazer “tudo” no espaço ou “conquista-lo”, sendo que pela exceção de jogos de estratégia, o impacto causado pelo jogador nele é quase nulo? Starpoint Gemini Warlords parte deste princípio e tenta unir um pouco de estratégia com combate tático no espaço. Ele está disponível no acesso antecipado do Steam por R$45,99.
Honestamente, a forma usada para o combate pela desenvolvedora Little Green Men Games nunca foi de meu apreço. Para mim combate espacial está enraizado em jogos como X-Wing, Tie Fighter, Freespace 2 e mais recentemente House of the Dying Sun, mas ao finalmente dar uma chance a franquia Starpoint Gemini, percebi que me agrada mais do que imaginava.
A sua nave, que segue um estilo de combate muito utilizado por jogos como Space Pirates And Zombies 2, Starsector, Rebel Galaxy, é mais uma fragata do que um caça de combate. O seu posicionamento em relação ao inimigo é de grande importância para a eficácia dos disparos, coisa que aprendi depois de sofrer perdas catastróficas contra uma frota inimiga e perceber que não usava a minha bateria de mísseis pois estava localizada na parte inferior da nave.
Não é que o jogo não te dê um bom tutorial, eu que fui péssimo em acompanha-lo por estar diretamente ligado a mediana história até então apresentada. A trama continua os eventos de Starpoint Gemini 2 — os quais não presenciei — mas não foge do típico drama Sci-Fi. Um capitão é eliminado após uma emboscada, você se torna o líder de toda a operação e deve restaura-la a glória. É uma baboseira de sempre que funciona de maneira superficial. Por ainda estar em alpha, boa parte da narrativa não está implementada, mas já dá uma boa noção da direção que Starpoint Gemini Warlords quer seguir.
Quando finalmente consegui me livrar das tediosas comunicações entre eu e o meu instrutor, pude mergulhar de cabeça no que a desenvolvedora chama de uma mistura entre “4X” e espaço. Esta era a parte que eu aguardava ansiosamente para todos os sistemas desmoronarem. Ironicamente, o momento nunca chegou.
Dizer que ele é profundamente complexo seria um exagero, mas o que está disponível no momento é uma base sólida para a construção e a progressão linear de um império intergaláctico. Ao invés de colonizar planetas, você tem um quartel general central que pode ser melhorado por meio da coleta de minérios e designar tanto naves civis como militares para tomarem controle de uma região ou realizar pesquisas.
Não há como não ficar preocupado com esta base “sólida”. O “roadmap” do desenvolvimento aponta que muitos dos elementos ali presentes serão expandidos, como uma maior quantidade de naves ou novos upgrades para o quartel general. Mas, nada sobre tornar a interação do jogador com a camada estratégica mais fluída. A etapa atual os separa demais, me força a acessar um mapa, interromper a minha viagem para enviar frotas civis para explorar uma anomalia ou conquistar território.
Você acaba com dois sistemas que não necessariamente cooperam juntos quando ativos, mas que podem ter a sua influência sentida ao longo da campanha. Nada me alegrava tanto quanto ver um sistema sendo tomado por uma frota de naves minhas, fragatas imensas se tornarem pó diante do poder do meu exército. Apenas para ter de interromper isso, acessar um menu e designar mais coisas.
Starpoint Gemini Warlords está com um sério problema em passar essa informação de maneira clara para o jogador. Alguns dos minérios que precisava estavam escondidos em meio a asteroides, missões que tinham uma chance aleatória de aparecerem ou de pura sorte. Tanto que chegou em um ponto que eu acreditei ter visto tudo do que estava disponível na versão de acesso antecipado por não conseguir mais de um dos recursos.
Não existe também uma forma de rastrear quais estações de mineração estão em uso ou uma tabela geral do rendimento / custo de manutenção das naves a não ser em um ou dois menus que ficam apenas visíveis ao colocar o mouse sobre eles. É irritante, você entra em déficit sem ter a menor noção ou ter controle de desativar algo como uma plataforma mineradora. Agora imagine tentar gerenciar um império inteiro com tão pouca informação.
Outro elemento que ainda não está propriamente “cozido” são as facções e o sistema de mercadorias. Ambos severamente limitados a um pequeno grupo de produtos e inimigos sem rosto. Não espero profundidade, apenas um pouco mais de variedade e interação do que um mero “mova itens de um menu para o outro”. Um adendo aos veteranos de franquias como X³, é superficial, mas é justamente o que o jogo precisa para ser atrativo a uma audiência que não está muito acostumada com o gênero.
Infelizmente no momento as missões freelancer e a troca de mercadorias são a melhor maneira de ganhar dinheiro em Starpoint Gemini Warlords para comprar uma das mais de 40 (das 90 planejadas) naves. Acredite quando digo que você vai gastar um bom tempo nisto. Entretanto, te garanto que o esforço é recompensado com uma fragata enorme com tantos slots para colocar mísseis balísticos, armas de plasma ou metralhadoras que vai ficar sem saber o que fazer com tanta coisa.
Surpreendentemente, a navegação e o controle da nave — já aprimorados em Starpoint Gemini 2 — estão ainda mais refinados. Entre o compromisso de gerenciar o meu império, tirava um tempo para fazer uns trabalhos como freelancer (qualquer similaridade com o meu trabalho de freelancer na vida real é pura coincidência).
As missões de sempre pipocavam na tela: Vá ali, destrua uns inimigos, transporte carga, recupere destroços. Longe de serem ruins, entretanto pouco convidativas para quem já está calejado de jogos no espaço. Talvez com uma estrutura narrativa mais elaborada, que está nos planos da Little Green Man Games, isto melhore.
É disso que andei sentindo um pouco de falta em jogos espaciais, esse mar de opções sobrecarregarem a minha tela e ter a chance de escolher qual a melhor rota para escolher. Elite: Dangerous é competente em saciar um pouco desta vontade, mas os meios usados para obter uma nova nave ou melhorias são tão entediantes que eu percebi ficar mais ansioso por uma nova aquisição em Starpoint Gemini Warlords do que nas dezenas de horas que gastei com o jogo da Frontier.
Um ponto que algumas desenvolvedoras tendem a esquecer é que um jogo ambientado no espaço deve ser tanto sobre o espaço em si quanto as suas interações nele. Algumas adotam uma postura onde aplicar mecânicas de um “open world” no espaço as vezes equivale a algo superficial e os resultados disso vão de bons a péssimos. Starpoint Gemini Warlords ao menos me fez arregalar os olhos uma vez ou outra e pensar: “Okay, esta coisa de conquistar território é realmente divertida”.
Tenho um extremo receio de recomendar jogos no acesso antecipado do Steam, tendo em vista lançamentos como We Happy Few, dentre tantos outros que poderia listar aqui. Starpoint Gemini Warlords dá pequenos, entretanto, importantes passos para uma franquia que cada vez mais tem de lutar por espaço e relevância. A mistura entre estratégia e exploração espacial ainda não está no ponto que eu quero, mas torço para que chegue lá. Vou me ausentar por ora, pois tenho outro setor a dominar e duas fragatas estão em meu caminho.
Coloca o capacete e entra na nave.