Minha reação é sempre um misto de confusão com agonia toda vez que vejo a frase: “Um ótimo jogo cooperativo”, pois leio como “um jogo que vai ser um porre se não tiver amigos”. A Crackshell (Hammerwatch) é uma das desenvolvedoras sabe erguer pilares para quem gosta de jogar um jogador e depois expandir para um ótimo coop. O conceito não poderia ser melhor exemplificado por Serious Sam’s Bogus Detour, shooter top-down ambientado no universo Serious Sam que chega ainda este ano no Steam.
Sendo curto e grosso, a história é a mais passável possível. Sam começa no templo de Ptah em busca do artefato de Amon Ra e de respostas por que as tropas de Menta, o principal vilão da série, estão presentes perto de Alexandria e… Perdão, não me lembro mais qual é a trama depois disso. Tudo o que via a minha frente eram hordas de inimigos, Kamikazes sem cabeça e esqueletos.
Dos primeiros dez minutos em diante Bogus Detour vira quase como um Doom top-down, algo meio inesperado dado a estrutura mais rígida e, consequentemente, linear que a franquia tomou desde o terceiro episódio. A campanha, com suporte a até quatro jogadores em modo coop, gira em torno de encontrar chaves, evitar armadilhas, navegar por campos minados e matar muitos, mas muitos inimigos.
Mas ele não se prende tanto ao “oldschool” pois usa um inteligente sistema de upgrades obtidos via pontos de experiência espalhados pelo mapa ou ao matar inimigos. As habilidades em sua grande maioria passiva, te dão uma leve vantagem, mas nunca ao ponto de fazer o jogador se sentir um “Deus”.
Tudo é suntuosamente equilibrado em Bogus Detour. Mapas alternam entre áreas abertas para corredores claustrofóbicos, a grande quantidade de inimigos implora pelo uso da esquiva, uma mecânica que faz com que sam role e adiciona “frames de invencibilidade” no estilo Enter The Gungeon. Para um jogo que nem data de lançamento tem o nível de polimento é impressionante. Passava de fase e apenas queria mais, e mais, e mais e mais, e mais. Saudades daquela gostosa sensação de “o que será que vem depois de o jogo me colocar no Egito? Ah sim, um vulcão.”
As armas também têm um “feedback” agradável, as ondas de inimigos sendo destruídas dão uma satisfação imensa e o som de pedaços voando pela tela é um espetáculo visual. Da mesma forma que a Dennaton Games em Hotline Miami e mais recentemente a Team Shifty em Mr Shifty, a Crackshell sabe usar da violência não somente para propósitos puramente estéticos, mas para encher de adrenalina cada segundo da partida. Diferente de um Brutal Doom, por exemplo, que não passa de uma deprimente tentativa de adicionar mais violência desnecessária a um shooter clássico.
Caso queira tornar o game mais fácil ou mais difícil, a Crackshell já tem algumas ideias para isto. Já estão inclusas opções como regeneração de vida, opção para jogar com apenas um ponto de vida e um modo onde assim que morrer a missão acaba. Não sei quem vai conseguir completar o jogo na dificuldade Serious sem regeneração de vida, um ponto de vida e com uma vida, mas quem sou eu para julgar, tenho mais de 30 horas no insano shooter / survival Devil’s Daggers.
Personalização do jogo era um dos pontos fortes de Hammerwatch e a história se repete com o editor de fases de Serious Sam’s Bogus Detour. A versão de preview já permitia a criação de fases tanto para um jogador como para os modos competitivos — os quais não testei pela não existência de jogadores. Com o mínimo de conhecimento você consegue montar uma fase simples em questão de minutos. É bom ver que a Crackshell mantém o suporte para que a comunidade tenha liberdade de alterar a maneira com a qual jogam e ainda saber que são capazes de prover um game até então, apto do nome Serious Sam.
Posso me rasgar de elogios por enquanto, Bogus Detour merece, mas preciso lembrar que é um jogo inacabado com importantes arestas que precisam ser aparadas. O modo survival, por exemplo, carece de incentivo para ser jogado dado à similaridade com a campanha base, uns modificadores malucos seriam bem-vindos e nada melhor do que Serious Sam para a desenvolvedora ir a loucura com ideias insanas. Cadê o modo “cabeção” ou um modificador que alterna a ordem de ataque dos inimigos? Já na campanha, falta um sistema de mapa automático ao invés de apenas um alerta para os objetivos. Não chega a prejudicar, mas em algumas ocasiões me sentia mais perdido do que deveria na missão.
Eu adoro Serious Sam, das frases ridículas, dos estereótipos e do humor bem aplicado e em parte comparável com o que vemos em Shadow Warrior 2. Desde Second Encounter eu sinto que a série nunca conseguiu voltar a seu auge. Serious Sam 2 foi…bem… aquela coisa que não sei explicar e Serious Sam 3 mais uma vítima do estado do mercado da época do que incompetência da Croteam, que veio após lançar o espetacular The Talos Principle.
Se há uma chance do retorno à forma de Serious Sam, ela está em Serious Sam’s Bogus Detour. Que as arestas que me incomodam sejam aparadas e uma saudável comunidade de mods e mapas surja a sua volta. Mal posso esperar para completar a campanha com outras três pessoas.