A minha história com “Payday 2” é um tanto confusa. Comecei a jogá-lo assim que saiu e nele encontrei um jogo coop competente, mas com curva de aprendizado que ia de “aqui está um roubo fácil” para “prepare-se para sobreviver a uma horda de inimigos”. Anos se passaram e eu fui tentar jogar e me deparei com um jogo tão inchado de DLCs que eu nem sabia qual arma ou personagem usar. Jogar o beta de “Payday 3”, previsto para 21 de setembro, foi como reencontrar um antigo amigo que amadureceu.
A premissa do título da Starbreeze Studios continua a mesma: Roube um banco, uma galeria de jóias, uma galeria de arte, faça da maneira que for possível e saia de lá com a maior quantidade de dinheiro e – preferencialmente – com todos os 4 jogadores vivos.
Muitas mecânicas base se mantiveram “as mesmas”, com a sua devida camada extra de polimento, é claro. Você ainda pode escolher simplesmente entrar atirando em tudo e todos (de preferência não em civis), correr contra o tempo para arrombar o cofre e sair de lá antes que seja totalmente cercado por policiais. Ou, se você tem uma equipe com excelente coordenação, fazer isso tudo de maneira furtiva e o edifício sequer notar que teve bens roubados.
A versão beta contava com o roubo “No Rest for the Wicked”, um roubo no estilo mais clássico “Payday” onde seu objetivo era invadir, acessar o cofre de um banco da melhor maneira que achar melhor e roubar todo o dinheiro possível. Se fosse em “Payday 2”, eu até sabia o que esperar: Vá, saque sua arma, pegue civis de reféns e use uma broca ou algum objeto perfurante para ter acesso ao cofre.
Como eu não tinha uma equipe para jogar comigo, achei melhor ir pelo caminho “seguro”, o de sacar a arma e pegar reféns. Foi então que eu já me deparei com uma das principais diferenças de “Payday 3”, eu acreditava que era “só” usar uma broca e pegar o dinheiro. Nada disso, eu teria que derreter o segundo andar do banco com térmite que seria entregue via helicóptero no terraço. Uma mudança que pode soar “minúscula”, mas que tem consequências gigantescas.
As minhas experiências com “Payday 2” se resumiam em a equipe quase sempre permanecer junto, “Payday 3” segue o caminho contrário de fazer com que os jogadores se dispersem ou trabalhem em duplas para pegar os mais diferentes tipos de equipamento ou proteger áreas específicas. No caso da minha partida, eu e outro jogadores pegávamos o termite e jogávamos para o segundo andar do banco, outros dois tentavam segurar a horda de policiais e moviam reféns para uma zona que especificamos como a nossa “base de defesa”.
Não sei nem o porquê de termos feito alguma base de defesa, pois em mais uma reviravolta inesperada, a IA de “Payday 3” está muitíssimo mais sagaz em flanquear e tentar recuperar os reféns. Foi-se o tempo de saber de onde vinham os inimigos, agora eles podem aparecer de áreas diferentes e – o mais interessante de tudo – usarem táticas mais complexas como defenderem uns aos outros e se posicionarem de forma que seus corpos fiquem os menos expostos possíveis.
As trocas de tiro, ao menos nos momentos iniciais de um roubo, se tornam algo mais “realista” onde ambos os lados estão tentando minimizar o risco de fogo cruzado ou de vítimas. Claro que isso não dura muito tempo já que a paciência da polícia tem limite – e eu também não fui esperto o suficiente para trocar reféns em favor de mais tempo no banco.
Bastou piscar os olhos e nossa equipe já estava tendo que lidar com os famosos “ninjas” de “Payday 2” e agora de “Payday 3” ou com policiais protegidos com equipamento top de linha. Mas até nesses momentos completamente irrealistas (não que assaltar um banco na forma de “Payday 3” seja realista) era visível o quanto ambos foram refinados na forma de te surpreender. Outra vez, o uso de flancos, como eles se movimentam pelo mapa, priorizam certas áreas ou caminhos ao invés de irem de encontro direto para o jogador.
Uma missão que tende a durar 15 minutos agora é quase como uma eternidade, mas de uma forma boa. A sensação é que cada segundo, cada decisão que você tem que tomar conta para o sucesso ou falha dela. Não houve um momento em que eu me senti entediado ou que “Payday 3” falou: “Pronto, acabou por ora, vai lá respirar”. Se houve, no máximo um suspiro de alívio.
Esse é o tipo de experiência que eu tanto queria em “Payday 2” mas ele nunca tinha – ao menos nos meus olhos – alcançado. Fiz a missão outras vezes e sempre havia algo de diferente, de onde o termite era entregue ou acabava “caindo” do terraço, da forma que os policiais invadiam o banco, da quantidade de civis.
Também não posso deixar de comentar sobre a excelentíssima melhoria no sistema de manuseio das armas e a quantidade absurda de novos itens que podem ser usados nelas. Era de se esperar considerando que “Payday 2” tem quase uma década, mas é bom ver que a Starbreeze refinou o sistema ao ponto de que cada arma tem uma forte identidade e manuseio diferente. Não espere que um rifle que você pega no começo do jogo seja o mesmo à medida em que você obtém dinheiro e compra novos acessórios para ele.
A união da melhoria nas armas, surpresas na fase e IA me fez rejogar a missão dezenas de vezes, o que eu não estava esperando nem um pouco. Toda hora que eu ia fechar “Payday 3”, pensava: “Ok, mas se eu der mais uma jogadinha e ver o que muda dessa vez?”. Vi policiais descendo de corda de prédios adjacentes, os vi tentando recuperar o dinheiro que nossa equipe já tinha extraído do banco.
Até na minha última tentativa, algumas horas antes do beta fechar, fui pego de surpresa pelo reposicionamento dos atiradores de elite e baleado antes de chegar na van para fugir. O resto da minha equipe foi embora e eu, para a cadeia.
Só deixo de comentar sobre o sistema de furtividade, já que não tive uma equipe bem coordenada o suficiente para fazer um roubo sem ser pego. Mas, das tentativas falhadas, já adianto que aqueles que estão olhando para “Payday 3” como um jogo furtivo, vão acabar decepcionados.
Jogar o beta de “Payday 3” reaqueceu a minha paixão pela franquia. Ainda tenho algumas críticas – como a necessidade de conectividade online – e ainda algumas dúvidas sobre que tipo de progressão a versão final vai ter. Isso sem contar com a já presença de moedas de microtransação (que não estava ativa durante o beta).
Essas e outras perguntas eu vou só poder responder a partir de 21 de setembro, mas se o restante de “Payday 3” manter o mesmo grau de qualidade para os próximos roubos, já é mais do que merecedor do título de sucessor.