Um investigador chamado por um milionário para investigar um caso. Ao chegar, encontra uma cidade fantasma, tudo me parecia estranhamente familiar em Kona, o jogo de aventura da Parabole. Ele está disponível em versão beta, no GOG a partir de US$ 5,99 e no acesso antecipado do Steam por R$ 19,99.
Kôna não é algo realmente inovador até então, é o mesmo jogo de aventura em primeira pessoa que vimos nos últimos anos. Ande por aí, colete pistas, resolva pequenos “quebra-cabeças” e tente entender o que aconteceu com essa bizarra cidade.
O beta começa com o protagonista sentado em um banco próximo de uma torre de vigia, local que funciona como uma forma de tutorial para cada elemento que o jogador usará na jornada. Lanternas, uma câmera fotográfica, um bloco de anotações e cigarros. A maior dúvida dele é se deve aceitar o trabalho, se deve ir para aquela cidade e descobrir seus mistérios. A minha era se conseguia entender o que Konaquer ser.
Em parte, ele é sobrevivência. Colete alguns itens como madeira, fósforos, querosene, gasolina, etc para que em algum momento sejam usados. Durante o beta apenas usei dois deles para resolver um pequeno quebra-cabeça do gerador. Pode ser que no futuro eles venham a calhar, mas no momento parecem ser mais um daqueles elementos que tornam o jogo… bem… um “jogo”.
Parece existir um receio de que Kôna se torne mais um daqueles categorizados de maneira depreciosa como “walking simulator”, o que ao meu ver não tem nada demais. Muitos deles são os meus prediletos dos últimos anos, mas que para isso tinham de colocar um gerenciamento de inventário, uns itens a coletar, um sistema de criação de item. Nada do que vi agregou valor ou foi interessante.
Do outro lado, temos um jogo quase que exclusivamente focado na narrativa, onde cada passo é um novo mistério a ser descoberto. Quando cheguei no posto de gasolina onde deveria encontrar o suposto milionário que me contratou, tudo estava deserto. Para avançar, pistas e mais pistas surgiam no meu jornal e novos caminhos se abriam. O ponto alto foi encontrar um homem, o suposto dono desse posto, transformado em uma pedra de gelo gigante.
Ao tocá-lo o protagonista tem uma visão dos momentos finais daquela pessoa. Soou um pouco clichê, não soou? Pois é. Kona até então não fez nada que me chamasse muito a atenção. Os mistérios eram interessantes, mas a ideia de que é um jogo episódico me decepciona, pois nem mesmo o beta conseguiu me cativar o suficiente para querer saber o que me restam nas três horas finais.
Toda a exploração é feita com a ajuda de uma Pickup que com certeza já viu dias melhores e um narrador que também parece ter visto muitos ver. Vá até uma casa, descubra alguma informação pertinente a W.Hamilton e siga em frente.
O que mais me empolgou — o que já é normal — foi a possibilidade de explorar esse ambiente criado pela desenvolvedora canadense Parabole. Assim como foi com The Long Dark, é um jogo que tenta capturar as características do período e do local.
Por morar em um país extremamente quente, nunca ter viajado para ver neve, sempre fico fascinado com o cenário e com a sensação de solidão que ele me passa. Antes de adentrar uma das casas, observei por um tempo um pequeno brinquedo para crianças feito com um antigo pneu. Não era nada demais, porém me gerou uma inquietude que não sabia decifrar de onde vinha.
Novamente, eu sou facilmente atraído por locais interessantes para visitar, com uma grande sensação de solidão e que ao menos tenham uma história para contar. Difícil é quando essa história nem mesmo consegue te prender. Aparentemente todos odiavam Hamilton por destruir o que era uma cidade que mais parecia uma grande comunidade de amigos, como um grande imperialista conquista um país no século XVII.
Era impossível, novamente, deixar de notar os clichês naquelas frases, nas mensagens de ódio deixadas para trás por cada habitante da cidade. Se em um ponto a Parabole acertou até então foi nas histórias pessoais de cada um.
Quando adentrei na casa do dono do posto, o petrificado que comentei antes, descobri uma história de traição e de um casamento que já estava pelas últimas e segredos não muito bem guardados. Nem todas ajudavam a trama principal, que nesse ponto já não fazia muito sentido para ser bem sincero. Ao menos davam uma credibilidade de que em um momento existiram humanos na região.
Esses segredos são as chaves para o mistério de Kona? Traçar esse paralelo entre como uma grande corporação interfere na vida das pessoas? Mais dúvidas aparecem e meu tempo com o beta acaba.
Kona parece até então trilhar demais nos mesmos passos de Everybody’s Gone to the Rapture e o boom de jogos de exploração que surgiram junto de Dear Esther e Gone Home. Quero acreditar que o projeto vai saber explorar melhor essas mecânicas de sobrevivência e que no futuro esse desaparecimento seja mais criativo do que eu tenho em minha mente. Acompanho, mas com uma cautela que queria muito não ter.