No dia em que a expansão Hot Wheels para Forza Horizon 3 foi anunciada eu fui “pera, por que? Tudo bem, Hot Wheels é divertido, mas não combina com o estilo de Forza, muito menos o que a Playground Games propõe!”. Demorou alguns anos até que um jogo próprio da franquia Hot Wheels surgisse, por ninguém mais, ninguém menos do que os italianos da Milestone — mais conhecidos pela franquia MotoGP, Monster Energy Supercross 3, e MGXP.
A versão preview que me foi enviada pela desenvolvedora dava acesso a 9 pistas e 28 carros, dos modelos mais “comuns” aos mais “raros” que você irá obter ao longo da campanha. Não preciso dizer que eu estou longe de ser o público-alvo de um jogo de Hot Wheels. A última vez que eu encostei em um desses carrinhos carismáticos foi lá para o final dos anos 90, e embora a vontade de colecionar algo – seja Hot Wheels ou minis de Warhammer — não tenha sumido, a paciência para limpar a poeira sumiu sim.
Com isso em mente, entrar em uma tela com modelos 2020/2021 da marca foi um gigantesco “pera, Hot Wheels agora é assim? Com essa variedade toda?”. A lista de carros selecionáveis variava; do “mais futurista” que você imaginar, a pickups similares a modelos que você vê nas ruas – algo que a empresa já fazia há uns bons anos –, e até um carrinho de bate-bate e um caminhão de lixo.
Essa variedade vai muito além do estilo visual e da “raridade” deles. Boa parte dos carros que eu joguei tinham as suas peculiaridades, tanto no estilo de pilotagem quanto aceleração, frenagem, até boost. Nada muito complexo, é claro, mas o suficiente para me dar vontade de testar cada um deles nas nove pistas disponíveis.
Eu testei, eu testei cada um deles até eu cansar.
Hot Wheels Unleashed não vem de um local de nostalgia para mim, mas sim traz a sensação de “Ei, que tal relaxarmos jogando algo não tão sério? Aqui estão uns carrinhos, olha só essa pista maluca que fizemos. Pega o que quiser e vai em frente”.
Por um bom tempo esse espaço foi preenchido por Trackmania, mas o game da Nadeon sempre trouxe um certo ar de competitividade no que diz respeito às pistas mais avançadas e servidores com mais jogadores. “Faça o melhor tempo, entenda a rota dessa pista, faça isso, faça aquilo outro”. Instiga em mim o senso de competitividade ao ponto de me deixar tenso. Hot Wheels Unleashed pede para que eu coloque os pés para cima e relaxe.
Isso não quer dizer que não há desafios nas pistas, mas não há aquela pressão de sempre chegar em primeiro lugar. Hot Wheels Unleashed sequer possui itens especiais a la Mario Kart, Crash Bandicoot Rally e similares – no máximo algumas armadilhas no meio da pista para te desacelerar ou te pegar de surpresa, como um dinossauro de plástico que abre e fecha a boca em momentos específicos e obviamente me fez perder umas dez posições assim que ativei o boost e dei de cara com a boca dele fechada.
Sequer ouso dizer qual foi a minha pista favorita da versão de preview. Todas elas, “recriadas” como se fossem uma gigantesca instalação da Hot Wheels em lugares absurdos como um arranha-céu em construção, uma universidade ou uma garagem, possuem características próprias que me davam ainda mais vontade de continuar a jogar. Algumas contavam com dois ou três loops, outras se dividiam em partes com as tradicionais “peças de plástico” usada para montar as pistas na vida real e áreas mais abertas, certas pistas podiam se dividir em dois ou mais caminhos, e quem for perspicaz vai encontrar um atalho ou outro para chegar em primeiro lugar.
Além do que, não tinha como não soltar uma risada quando eu via um carro no estilo F1 sendo arremessado pelo ar pelo caminhão de lixo, um carrinho futurista derrapando pois bateu em um caminhão de sorvete e outros absurdos. Um gigante “por favor, não leve esse jogo a sério”. Eu obviamente não levei, e foi tão gostoso me desprender um tanto dessa vida de simulador atrás de simulador na qual eu vivo. Aliás, se você é como eu, recomendo bastante que faça isso de vez em quando.
O mais irônico disso tudo pode ser que o título está vindo da Milestone, uma empresa que por muitos anos trabalhou para refinar físicas de jogos de motociclismo, tanto MotoGP como off-road. Ela acaba se destacando muito mais por conseguir capturar não só o visual, como o efeito de você controlar veículos diferentes – mesmo que de brinquedo – e com uma curva de aprendizado muito baixa.
E, por mais que eu evite falar do aspecto visual de jogos, Hot Wheels Unleashed dá um show à parte com a incrível texturização de seus carros. Cada um dos carros da versão preview possui incríveis detalhes que vão do efeito de “plástico” nas rodas até os acabamentos “metálicos” ou alguma “tinta especial” brilhante usada nos carros mais raros. Um espetáculo de cores tanto dentro quanto fora da pista, mas sem nunca fazer com que eu me sentisse perdido. Os detalhes chegam ao ponto do carro ficar “empoeirado” — como aquele seu Hot Wheels que deve estar perdido em alguma gaveta — ao passar por um ventilador gigante que tenta te jogar para fora da pista — outra das armadilhas vistas na versão preview.
Se algo, Hot Wheels Unleashed me remete muito à “época de ouro” dos jogos arcades para PS2 e começo do PS3, onde havia espaço para Gran Turismo e também para algo mais exagerado como Burnout, Rumble Racing e Automobilista. Todavia, ele também crava o seu próprio espaço como possivelmente o primeiro jogo competente de Hot Wheels que vem de alguma parceria. Já era hora, viu.
Vendo a possibilidade de uma boa diversão seja no modo campanha, no modo “time attack”, em partidas multiplayer, e o melhor de tudo: um editor de pistas – minha parte favorita de um bom jogo de corrida – eu quero Hot Wheels Unleashed na minha mesa para ontem. Infelizmente terei de esperar até 27 de setembro.
Hot Wheels Unleashed estará disponível para PlayStation 4/5, Nintendo Switch, Xbox One / Series S e X / e PC. O Preview foi feito com base na versão PC.