Pouco mais de um mês desde o seu lançamento no Steam e vejo que Heliborne continua instalado no meu PC. “Hmm, não notei que ainda estava instalado. Achei que teria menos paciência para você”, disse enquanto apertava o botão de “Jogar” pela milésima vez. Discordo da forma que a Jetcat Games trabalhou o seu sistema de progressão, mas não consigo o abandonar por conta dos helicópteros.
Como o já reportado Holdfast: Nations at War, Heliborne é a união de tentar preencher uma lacuna de nicho no mercado e ao mesmo tempo seguir tendências ditadas como “relevantes” para 2017. Parte, jogo puramente sobre pilotar diferentes tipos de helicópteros, parte “olha só, mais um game dos desenvolvedores de World of Tanks”. O segundo ponto resultante de uma carência do “sub-subgênero” (pela falta de um termo mais apropriado) no Steam e a aparente tentativa de inúmeras desenvolvedoras de tomar o lugar no pódio.
Diferente da Wargaming e seus games – World of Tanks, Warships e Warplanes – a desenvolvedora Jetcat tem uma “carta na manga” que se fez com que Heliborne se destacasse no meu olhar; eles lembraram que helicópteros são máquinas multifacetadas.
De um ponto de vista de design é fácil de designar o papel de um avião no combate: ataque. Tal elemento normalmente é quebrado distintivamente em duas áreas – o avião serve para combate aéreo ou destruição de alvos (bombardeiros). As coisas ficam um pouco mais complexas quando o assunto é tanques, onde você pode incluir tanques de reconhecimento, domínio de áreas ou os “Tank-Destroyers”, usados primariamente para eliminar tanques cuja proteção balística é mais espessa do que o normal. Ainda assim, termos que podem passar por uma decantação caso uma interface competente esteja presente.
Para evitar de te entediar, puxar uma tabela e começar a falar de especificações ou teatros de guerra, quero só que leve a seguinte ideia em consideração: Quantas vezes você viu, fora de Battlefield ou simuladores especializados, um helicóptero que não fosse usado para ataque? Poucas? Pois é, Heliborne é um dos pouquíssimos que consegue demonstrar de maneira tangível os diferentes papéis de combate desempenhados pelo veículo.
Creio que das cem ou mais partidas que fiz no game, cinco delas foram de fato no ataque. Desculpe por ser uma pessoa meio monótona, mas eu gosto de logística – seja ela originada de gerenciar empresas, dirigir caminhões na lama ou reclamar de construtores de cidade.
Como quem foge de família em festas de final de ano, optava pelos helicópteros de transporte ou reconhecimento para as partidas – tipicamente ocorridas em mapas onde o domínio de pontos é crucial para a vitória. As partidas de 16 jogadores, porém, rapidamente se tornavam um mata-mata desnecessário onde a equipe vencedora era a que menos tinha pilotos teimosos.
Aproveitando-se do papel multitarefas de um helicóptero, Heliborne cria um sistema de domínio de território onde cada ponto de controle tem de ser reforçado com tropas para ser conquistado. Então não adianta uma equipe de 16 jogadores ser formada de 15 helicópteros de ataque já que são os helicópteros de transporte e reconhecimento que fornecem as tropas. Obviamente é o que mais acontece.
Não estão errados quando falam que “suporte” é um dos piores “trabalhos” em jogos, quase ninguém gosta de fazer e, aqueles que fazem raramente recebem a apreciação que merecem. Não confiante nas minhas habilidades como “piloto” e a minha tendência a me chocar contra montanhas – sejam elas localizadas nos mapas do Vietnã ou do Afeganistão – deixava a equipe ir na frente sem pressa alguma. Observava o mapa, traçava rotas para o transporte de tropas ou, em mapas mais avançados, apoiar o envio de tanques e veículos com equipamento antiaéreo. Quando a poeira dos três ou quatro minutos iniciais baixava, lá ia com meu helicóptero garantir que a equipe não perdesse todos os pontos.
Vitória ou derrota, não importava, a pontuação recebida no final da partida era precária. Não havia eliminado um número alto de oponentes. Pelo visto a garantia de consolidação de um mapa não era o suficiente em Heliborne.
O terrível, e profundamente desnecessário, sistema de progressão é que faz com que Heliborne não consiga sacudir a noção de que ele parece um trabalho derivativo de World of Tanks — que deita e rola para sugar tempo do jogador via métodos similares. O sonho de pilotar os mais de 40 helicópteros de cara? Nem esquenta, pode sentar e jogar umas vinte ou trinta horas. Liberar todas as diferentes munições, equipamentos e outros tantos termos que agora já nem lembro mais? Sequer cogitei.
Um jogo multiplayer, pago, com cara de free-to-play da pior espécie.
O sistema que a Jetcat usa como referência reforça demais a noção de que é necessário ter “voz ativa”, ou seja, atacar o inimigo com helicópteros de ataque, para ganhar pontos de progressão – usados para liberar os itens mencionados anteriormente. A mesma crítica que aplico aqui foi o que me fez deixar de jogar World of Tanks e World of Warships: a falta de respeito pelo o meu tempo.
E, mesmo se todos os helicópteros fossem liberados de cara, ainda cairia no problema de que ele condiciona o jogador a estar sempre na linha de frente e prejudica todo o propósito do game em si. Isso por si só é um buraco enorme que nem cogito adentrar para não ter pesadelos.
Se não fosse a minha paixão por helicópteros e em uma pequena porcentagem o componente single player, eu teria desistido de Heliborne nas primeiras horas. Hoje em dia eu sento, jogo algumas partidas em coop ou sozinho, desligo e não me sinto imensamente frustrado.
Me deixa frustrado é escrever isso, pois eu sinto que nenhum fã de qualquer veículo aéreo terá a vida completa até conhecer mais sobre helicópteros. A própria noção que eles existem ainda me deixa estupefato. Heliborne demonstra que ele é mais do que um veículo secundário e teoriza mecânicas que se adequariam ao contexto, mas a tremenda derivação e a necessidade de pertencimento em um estilo para atrair o já nicho de jogadores me faz gastar menos tempo com ele do que esperava.
Por pura teimosia eu tenho a esperança de que uma hora Heliborne vai decolar de vez perdoe o trocadilho. Atualizações futuras prometem novos veículos, mecânicas para helicópteros de transporte e mapas tanto para o coop ou para o multiplayer. Sem datas concretas para essas adições, um veredito final da minha parte seria impulsivo demais. Mantenho-o instalado no computador; só espero não esquecer de novo que ele está aqui.