Vikings ali, Vikings acolá, tudo agora tem Vikings. Esses dias abri a geladeira e adivinha? Isso mesmo, tinha um Viking ali dentro (dado o calor no Rio de Janeiro, não me impressiono). Sim, o mercado — ou ao menos eu —, está um pouco saturado do games sobre o assunto. Mas games bons, como Expeditions: Viking, estes sim são uma jóia rara.
Em desenvolvimento pela Logic Artists, Viking perde um pouco do encanto da ambientação peculiar de Expeditions: Conquistador e ganha em todo o resto. A trama começa com o chefe do vilarejo, seu pai, perdido em combate. Você como herdeiro, tem então de recuperar a aldeia e impedir que clãs próximos tomem o controle.
A versão preview dá poucos detalhes sobre como ela se desenrola, mas já apresenta um tremendo foco em decisões que alteram o curso da história, esforço comparável com os de empresa como Obsidian em Fallout: New Vegas. Nos primeiros minutos, um dos membros da minha tribo me desafia para o combate na expectativa de se tornar o chefe. Havia três escolhas que podia tomar aqui, entrar em um confronto direto, pedir para que minha irmã tomasse o meu lugar na batalha ou, a que eu decidi, usar armadilhas para vencê-lo.
O combate, feito por turnos, continua tão brutal e tático quanto o antecessor. A ideia não é se jogar em cima do oponente e torcer para o melhor, é constantemente pensar em maneiras de fazê-lo cair em situações de risco. Você pode, por exemplo, atraí-lo para um local com piche derramado e disparar uma flecha flamejante no local. O inimigo, é claro, vai fazer o mesmo.
Como todo bom jogo de turnos, é bom se preparar para aqueles momentos de frustração onde você vai errar ataques vitais, tomar dano crítico, recarregar, recarregar e recarregar mais um pouco os saves. Expenditions: Viking não perde uma oportunidade de te ferrar, na minha campanha acho que eu devo ter quase desistido umas dez vezes de tanto apanhar para um grupo de fazendeiros. Sei lá que treinamento eles tiveram, mas eram os melhores fazendeiros que eu já vi.
Fascina-me ver um sistema de combate tão simplista, mas com devida profundidade que permite a personalização dos personagens a um grau imenso. Especialização em arcos, lanças, em prevenir o movimento do inimigo ou ataca-lo quando ele estiver a seu alcance, as variantes são grandes demais para lista-las aqui. Todos os modificadores são prontamente mostrados na tela assim que colocar o mouse sobre uma unidade inimiga, o que evita a dor de cabeça de anotar coisas no papel ou agonizar sobre a decisão A ou B. Sejamos sinceros por um instante, todos nós cedo ou tarde faremos isto.
Expeditions: Viking também adiciona mais mecânicas de sobrevivência. Calma, não torça o nariz. Como já comentei em artigos, por exemplo no de Conan Exiles, não há problemas quando estas mecânicas são relevantes para o contexto ou ajudam complementar a ambientação, o que é o caso aqui. Para ir de uma cidade a outra é preciso de mantimentos, bebida, comida, etc.
Ao contrário de Conquistador — e aquele seu primo que achou que era uma boa ideia passar o carnaval no meio do mato para fazer algo “diferente” —, agora existem acampamentos em pontos específicos no mapa que variam de níveis de segurança e alimentos para caça. A jogada de mestre da Logic Artists é que: Nem todos estes acampamentos estarão vazios. Quer um acampamento com grande segurança e muitos animais por pertos? Pois bem, boa sorte em matar o grupo de viajantes que está hospedado no local.
Dado a minha incapacidade de perceber machucados, ataquei um acampamento com dois dos meus personagens com feridas nas pernas — que reduzem os pontos de movimentação —, e um com um machucado no olho, o que o tornava praticamente inútil já que era um arqueiro. Os primeiros turnos foram uma tranquilidade que só, avancei lentamente, esperei os inimigos virem até mim e percebi que era uma batalha perdida.
Com dois golpes, o escudo do meu personagem foi embora, com poucos pontos de movimentação, não tinha como escapar dos inimigos já que os mesmos poderiam usar ataques de oportunidade — ativados quando uma unidade entra em confronto e tenta escapar —, e ainda conseguiriam me eliminar no próximo turno. Este foi o fim da minha primeira jornada.
A segunda tentativa foi muito mais proveitosa, onde consegui um acampamento que me proveria suprimentos suficientes até a próxima cidade. Ao adentrá-lo, você pode definir tarefas para cada personagem de acordo com suas aptidões e, é claro, manter guarda durante a noite para não ser pego de surpresa por um grupo de ladrões.
Este talvez seja um dos elementos mais interessantes da série Expeditions para mim, a necessidade de gerenciar minunciosamente os personagens para que as tarefas não recaiam nos ombros de um só. Não é possível tratar o grupo como um personagem demasiadamente forte enquanto os outros ficam para trás, cada um tem uma tarefa a ser feita. Nas minhas primeiras duas noites, eu consegui alimentos suficientes e ervas para curar os machucados.
Tal mecânica também dá espaço para rejogá-lo inúmeras vezes, o que fiz nesta versão para ver o desfecho de algumas tramas, como um ataque ao meu vilarejo. Ao ser derrotado, tive de lidar com uma grande perda monetária e ir para outra cidade na expectativa de contratar outros guerreiros. Já na segunda vez, a perda foi menor e consegui sair mais preparado para a aventura. São estes pequenos detalhes que me fazem pensar duas vezes antes de iniciar uma conversa, de tomar uma decisão. O mundo em que você vive vai ser invariavelmente afetado pelas suas ações e Expeditions: Viking deixa claro da melhor maneira possível.
Muitas mecânicas ainda ficaram de fora desta versão de preview, como a administração do seu vilarejo, mais destaque para rotas mercantis e maior interação com os clãs vizinhos. Tais elementos me deixam curiosos, já que foram poucos explorados anteriormente pela Logic Artists.
Enquanto Conquistador mais parecia uma pequena mistura de Might & Magic durante a conquista espanhola na América do Sul, Expeditions: Viking é um RPG nórdico com pinceladas de sobrevivência e uma maior ênfase na história. Não sei dizer no que isso vai afetar a versão final, pois tudo que eu vi até então é uma desenvolvedora que aprendeu com os erros do passado e consegue, até então, prover um game muito mais polido do que jamais imaginava.
Sabe aquele momento de felicidade quando você vê uma desenvolvedora crescer pelos seus méritos e um jogo atingir todas as suas expectativas? É assim que me sinto com Expeditions: Viking. Mal posso esperar para que abril chegue.