Eu estou em um cânion, as únicas armas que tenho são a minha exosuit, meus mísseis e um canhão automático. Era de se presumir que isso seria mais do que suficiente para sobreviver, mas a minha experiência diz que não. Ouço o barulho de uma explosão, mas não sei de onde vem. Ativar o radar revelaria a minha posição. Sigo em frente com cautela, minha tela pisca com o alerta de mísseis. Ativo meu jetpack e fujo o mais rápido possível, mas não o suficiente para ser abatido dos ares e se tornar mais uma vítima do campo de batalha brutal que é ExoCorps (Steam).
Desenvolvido pela Gingerbred e em acesso antecipado no Steam, eu considero ExoCorps um dos arena shooters mais “inovadores” que vi nos últimos anos. Ele não se escora em uma fanbase dedicada como Diabolical faz com Quake, tampouco tenta trazer de volta os tempos de glória como Warfork e as dezenas de outros do mesmo estilo que se vê no Steam. Na melhor das hipóteses, ele é o filho bastardo de Tribes e Terra Nova: Strike Force Centauri, nomes que você não deve ter ouvido falar se tem menos de 25 anos e não teve acesso a PCs durante os anos 90 no Brasil.
Onde a maioria dos arena shooters é sobre memorização de tempo dos power ups, conhecimento do mapa e compreender como diferentes tipos de armas podem te ajudar ou prejudicar, ExoCorps é sobre furtividade. Soa bizarro dentro de um subgênero tão enraizado nos moldes de Quake e Unreal Tournament, mas funciona tão bem que eu não sei o porquê de isso não ter sido feito antes.
Como indiquei no começo do texto, você começa a partida dentro de uma exosuit, ela é munida de um jetpack, mísseis, flares, diferentes armamentos que podem ser trocados em instantes. É um maravilhoso truque da Gingerbred, pois você se sente tanto poderoso como vulnerável.
A jogada mestre de Exocorps é fazer com que nenhum inimigo apareça no seu radar a não ser que ele emita algum tipo de sinal – seja um disparo o ou uma explosão – ou uma onda de calor. Usar o jetpack por muito tempo é perigoso, ativar o sistema de reconhecimento de área — que indica temporariamente a posição de todos os oponentes — é uma sentença de morte. Junte isso com mapas vastos e cheios de pontos cegos e você tem partidas intensas do começo ao fim.
Embora tenha três modos de jogo no momento (Deathmatch, Team Deathmatch e Capture The Flag), Exocorps funciona melhor com uma quantidade pequena de jogadores. As sessões que joguei tanto com a comunidade – que tem eventos semanais em seu discord –, partidas solo ou com a ajuda de um amigo viram uma incrível caçada de gato e rato.
Para exemplificar melhor, vou contar uma situação aterrorizante que me aconteceu no mapa Canyon, de longe o meu favorito no momento. A partida já rolava há cinco minutos e nada de alguém dar um disparo; comecei a ficar preocupado “será que eles me encontraram? Será que a minha posição está favorável? E se eu for emboscado?”. Audaciosamente usei meu jetpack para subir em uma das montanhas e torcer para que meu radar identificasse algum inimigo.
Em menos de dez segundos o meu HUD alertou que mísseis estavam vindo em minha direção, ativei meu bloqueador de sinal, soltei flares e me joguei da montanha enquanto usava o jetpack para amaciar a queda. Assim que aterrissei fui agraciado por dois oponentes me esperando, virei picadinho em instantes. O susto que eu tomei de vê-los na minha frente — ainda mais por estarem usando uma camuflagem especial que os fazem mesclar com o cenário com uma tremenda eficácia — me fez pular da cadeira.
Eu já tomei sustos em arena shooters, às vezes por conta de um oponente que estava atrás de um pilar, ou por ter tentado pegar uma armadura e cair em uma emboscada. Todavia, nada foi tão íntimo quanto jogar ExoCorps.
Chega a ser difícil descrever bem em palavras, mas é como se você estivesse sendo constantemente vigiado mesmo sabendo que isso não é verdade. Os mapas pregam peças com você, aquele inimigo que você viu pode ser apenas uma pedra, isso sem contar que a Gingerbred usa diferentes gravidades para cada mapa. Batalhar na Terra é completamente diferente do que uma partida de Capture the Flag na Lua.
Chega ser até engraçado – se não ainda mais assustador – quando as partidas são na Lua. A imensidão do espaço parece te engolir por completo, os jogadores são ainda mais furtivos. Porém, assim que um deles ativa o radar, a única coisa que resta é o caos. Alerta de mísseis sobrecarregam a minha tela, corro de um lado para o outro, solto todos os flares possíveis e tento sobreviver a mais uma batalha. ExoCorps sem dúvidas é um daqueles jogos de fazer parecer que o coração vai sair pela boca.
Todavia, apesar de todos as maravilhas que são oferecidas por ExoCorps, ele bate em duas grandes barreiras no momento: a curva de aprendizado de um arena shooter e algumas questões bem sérias de balanceamento.
Ainda que o seu tutorial seja competente em te ensinar o básico (como desviar de mísseis, usar as armas, usar um bloqueador de sinal para esconder a sua localização e soltar flares), ele carece muito sério de um sistema avançado para você entender sob quais condições armas específicas devem ser usadas. Tudo é feito na base da tentativa e erro, e com uma comunidade pequena, você vai acabar aprendendo na base do suor e lágrimas enquanto jogadores muito mais experientes te destroem partida após partida. Para mim foi fácil pegar o jeito, mas eu tenho um histórico de mais de 20 anos de arena shooters. Agora, e aquele que viu ExoCorps no Steam, achou interessante e ao começar a jogar fica mais perdido do que alguém tentando entender o mapa do metrô de São Paulo?
O segundo – e o que considero o problema mais sério – é o uso excessivo dos mísseis. Cada exosuit carrega uma enormidade de mísseis e eles tem sido usado como uma “carta coringa” pelos jogadores por conta da rapidez que você trava a mira no inimigo e a dificuldade — até mesmo com o uso de flares e bloqueadores de sinal — de desviar deles.
Dá para contar no dedo as partidas que eu vi onde uma batalha foi vencida por armas “tradicionais” sejam elas metralhadoras, canhões lasers ou canhões automáticos, ao invés de mísseis. É cansativo, deixa o jogo um tanto repetitivo e não duvido que os novatos podem se sentir frustrados e desistir de cara quando forem estraçalhados cinco, dez, quinze vezes pela mesma tática.
Eu não acho que os mísseis devem ser extinguidos de ExoCorps; eles são mais um componente para criar a fantasia de que você está nessa máquina super poderosa capaz de tudo e — como disse acima — frágil. Creio que a Gingerbred pode, e vai, encontrar um meio termo para balancear esse sistema. Porém, é bom avisar que se você planeja pegar ExoCorps no momento da publicação desta matéria, prepare-se para lidar com muitos, mas muitos mísseis.
Embora os dois últimos parágrafos soem um pouco negativos, as minhas horas com ExoCorps dizem muito o contrário. É um jogo único dentro da esfera de arena shooters que não está recebendo a devida atenção. Eu gostaria muito de poder fazer mais por ele, criar partidas com meus amigos e poder mostrar ao mundo o que eles estão perdendo enquanto se afundam em outros “AAA”s ou “Games as a Service”. Céus, esse jogo tem até suporte a LAN e servidores dedicados que você pode hospedar! Ao menos uma coisa eu tenho certeza, que se ExoCorps não funcionar, ao menos teremos sempre uma comunidade ao seu lado. Mas, por favor, que ele saia do acesso antecipado mais forte do que começou e que – se possível – dê uma chance a ele, pois ele merece e muito.