Escrever sobre algo no acesso antecipado do Steam é uma caixinha de surpresas. Uma hora você pega um jogo que não sabe bem o que quer, outras vezes você acompanha um jogo até a sua grandeza. No caso de Endless Space 2, da Amplitude Studios, a visão que a empresa quer aplicar no seu game de estratégia 4X no espaço me empolga.
A versão Alpha disponível no momento da escrita desse texto inclui quatro das outras facções, um limite de 100 turnos, mas esses turnos são mais do que o suficiente para dar aquele gosto de “quero mais” e uma ideia do que esperar para o futuro.
Endless Space 2 possivelmente é o milésimo 4X que jogo em 2016, mas é um dos poucos capaz de dar a sensação de que a galáxia um local perigoso e desconhecido. Na minha primeira partida com os Sophons, custei a entender o motivo de não encontrar outras raças. Precisava, na realidade, enviar probes — pequenos robôs que vasculham a galáxia para encontrar outras linhas de navegação.
Linhas de navegação são como “rotas” que aceleram a movimentação das naves, uma ideia que foi usada este ano em Master of Orion e tornou o jogo mais monótono do que já era. Ainda bem que não é o caso com Endless Space 2. Para alguém que sempre tomou como “garantia” e os próprios jogos reforçavam a ideia de que a galáxia já era algo conhecido, foi uma agradável surpresa de ter essa necessidade. Stellaris da Paradox fez algo parecido, mas não tão robusto quanto a visão da Amplitude.
Confesso que tenho uma limitada experiência com o primeiro Endless Space, principalmente pelo fato dele ser um pouco “cru” demais para o meu gosto e tentar pegar ideias demais de outros jogos ao invés de seguir um caminho próprio. Endless Space 2 muda isso e você começa a enxergar uma pesada influência de Endless Legend. Cada facção vai além de uma meia dúzia de atributos e um rosto familiar. Suas mecânicas únicas são mais acentuadas, suas quests principais e secundárias tão interessantes quanto.
Um dos preferidos foram os Sophons, uma raça alienígenas de seres desastrados, mas com grande bônus de pesquisa e mais dois pontos de movimentação por turno nas naves. Enquanto preparava a minha estratégia a longo prazo para eles, um evento aleatório ocorreu. Aparentemente uma das fábricas deve sua produção reduzida por causa que um deles deixou cair algum objeto inflamável.
Enquanto isso possa irritar alguns jogadores, a mim trouxe alegria, tais elementos dão identidade a uma facção e eu prefiro isso cem vezes mais do que “olha só, uma facção vilã com algum atributo genérico”. O que, convenhamos, é o que não falta nesse gênero.
A árvore de tecnologias segue uma linha bem similar à de Endless Legend, ou seja, eu normalmente não tenho ideia do que faço (desculpe-me fãs de Endless Legend). Ainda falta clareza para encontrar qual a melhor opção para a minha facção. Por outro lado, aqueles que detestam designers de naves têm uma boa surpresa pela frente, ele não é apenas simples de usar como um dos mais intuitivos que já vi.
Pouco consigo descrever o alívio que que é ver um designer que não segue modelos arcaicos ou que almejam ser mais um “Master of Orion”. Não tinha de navegar por quinhentos menus só para trocar o modelo do motor da nave. Além do que, ele é agradável aos olhos, ufa.
Continuei minha jornada ao fazer amizades com facções secundárias, expandir meu império, buscar ruínas em outros planetas e começar a colonizá-los. Isto é, até o momento que uma frota inimiga me atacou. O combate de Endless Space 2 ainda não está no ponto que me agrada, ainda muito automatizado. Diferentes sistemas solares e táticas aumentam ou diminuem a chance de vitória na batalha. Na prática eu raramente vi isso acontecer. Acredito que seja uma questão de uma funcionalidade ainda não implementada totalmente.
A mesma crítica vale para o sistema de partidos, migração e governança. Cada planeta pode abrigar uma ou mais raças, que por algum motivo decidem se mudar para meu planeta. Qual o motivo disso? Eu honestamente não sei, talvez a paisagem fosse bonita e não me avisaram.
O sistema de diplomacia em si ainda está meia boca. Novamente, algo esperado dado o fato que falamos de um alpha. Alguns botões não funcionavam, outros me davam as dicas erradas, navegar e entender o motivo de uma raça me detestar tanto era deveras complicado.
A cada quantidade específica de turnos, ao menos no caso dos Sophons, uma eleição geral era feita. Esta, era composta dos variados grupos que habitavam em minha galáxia. Por serem voltados para pesquisa, o maior partido era justamente o de pesquisadores, enquanto os ecologistas e militares vinham atrás. Foi só por volta do turno 50 que os dois outros grupos apareceram, justamente no momento que comecei a investir mais em armamento bélico e produção de alimentos. Com eles era possível passar novas leis (ao custo de perder o bônus de pesquisa oferecido pelo partido vigente) e adaptar melhor a atual situação.
Mais uma vez, o limite de 100 turnos me atrapalhou visualizar o funcionamento do sistema de partidos a fundo. Quase todas as vezes eu só começava a sentir seus efeitos próximo da partida acabar. Uma coisa é certa, a Amplitude já se mostrou capaz de dar identidade as raças e deixar o jogador moldá-las ao seu estilo.
O que me deixou mais embasbacado foi a sensação de “mais um turno” não surgir do ciclo aditivo o qual os jogos de 4X são compostos, mas do meu desejo de conhecer mais sobre o que acontecia. “Nossa, uma opção nova, deixa eu ver o que ela faz” e com um singelo clique mais umas duas horas se passavam. Com tantos anos de jogos de estratégia, é bom ter essa sensação de que vejo algo “único” à minha frente. Entrar em todos os detalhes do que vi em Endless Space 2 fará com que este texto se torne uma bíblia.
Entretanto, existe uma verdade quase que universal nos jogos de estratégia 4X, o “early game” é sempre maravilhoso, cheio de novidades e coisas para encontrar. Endless Space 2 já provou que consegue muito bem entregar este “early game” com aquele toque especial da Amplitude de tornar o universo mais palpável e real para o jogador. O desafio agora está em manter essa capacidade no mid e late game, onde boa parte dos jogos falham.
Fico menos receoso em Endless Space 2 do que em outros jogos. A Amplitude se provou mais de uma vez capaz de criar novidades para o gênero. Ainda é uma versão alpha, incompleta, muitas vezes com variáveis graus de problemas que podem ser encontrados — bugs, crashes, erros ao mudar de turno. Porém, se Endless Space 2 trilhar o mesmo caminho que Endless Legend, estou mais do que contente.