“Pera, o que está acontecendo? Não! Aquela esteira precisa ir naquela posição. Ai, não joga a esteira na minha cabeça, precisamos fazer mais munição se quisermos derrotar aquele maldito tanque. Droga, aquela peça quebrou, alguém pode levá-la para conserto? E alguém pode por favor dar um fim nesses monstrinhos?!”. Esses foram alguns dos diálogos que soltei em um evento a portas fechadas da Natsume e da YummyTummy Games sobre ConnecTank – um jogo parte estratégia, parte ação, que tem um altíssimo potencial para criar e destruir amizades.
A YummyTummy Games não é inexperiente neste tipo de jogo, tendo desenvolvido no passado jogos como Fallen Legion, onde decisões que alterariam a forma da trama precisavam ser tomadas de forma ligeira. ConnecTank carrega um pouco desse DNA, mas de uma maneira mais “abrangente”, por assim dizer.
Sua trama se passa em um universo paralelo onde os continentes da Terra se reunificaram e formaram a “Nova Pangeia”. Claro que com territórios interconectados surgem novas oportunidades de lucro para grandes empresas, novas rivalidades, e um novo tipo de batalha – a batalha de tanques entre pobres mercenários enquanto tentam entregar um pacote, construir uma indústria ou construir uma estatueta de algum barão excêntrico.
A versão de preview que pudemos testar nos apresentou algumas das missões de Finneas Cat XV, um barão com todos estereótipos de um dono de fábrica em meio a Revolução Industrial, onde o lucro vem acima de tudo e suas entregas precisam chegar no tempo certo.
A partir deste ponto ConnecTank se divide em duas interessantes partes: um mundo aberto gerado proceduralmente onde você deve escolher o caminho a seguir, e batalhas contra tanques gigantes que envolvem o uso de esteiras para construir munição — como um “Factorio” simplificado — e solução de mini quebra-cabeças. Munição “A” requer os materiais de cores “X” e “Y” para ser produzida. Munição “B” requer os materiais “Z” e “W” para produção e todos devem ser levados até o “Recyclotron” que fabrica e dispara as munições. De fato soa caótico de início, mas assim que você pega o jeito de gerenciar as diferentes partes do sistema de combate, é delicioso de se jogar.
Por mais que os quebra-cabeças soem um pouco “demais”, eles são bem administráveis, ainda mais no que diz respeito a jogar partidas cooperativas, algo que ConnecTank almeja ter como seu principal componente.
Spencer Yip, que fez grande parte de Fallen Legion sozinho, já havia proposto uma ideia diferente para ConnecTank. “Nós tínhamos essa ideia de criar um jogo multiplayer diferente, um que fosse caótico e tivesse conflito, mas onde as pessoas também tivessem que se juntar caso desejem vencer um obstáculo. Veja Diablo, por exemplo: Todos os jogadores estão lutando contra um mesmo monstro ou chefão, mas nós queríamos algo mais condensado. Foi aí então que tivemos a ideia de ‘E se nós colocássemos todos os jogadores dentro de algo que você precisa operar para vencer?’, ‘Melhor ainda, e se for algo no estilo Kaiju?’. Eu amo Kaijus e a partir daí começamos a iterar nessa ideia e descobrir como criar um sistema cooperativo que fizesse sentido dentro dessas limitações”, explicou Yip em entrevista para nós.
Como apontei antes, outro ponto que me interessa muito é a maneira como a YummyTummy Games usa geração procedural para tornar cada missão “única”, por assim dizer. Embora o objetivo primário seja o mesmo, cabe a você decidir qual caminho seguir. Pode haver momentos em que você encontrará novos tanques – que de acordo com Yip são um total de 70. Derrote-os e você ganha uma parte deles e assim que todas as partes forem obtidas, você terá acesso a um deles em uma nova missão. Como eu adoro o estilo “glass cannon” (unidades com poucos pontos de vida mas um potencial destruidor), aproveitei para questionar sobre a possibilidade de começar uma partida com um tanque desse tipo.
“Um dos tanques que não foi mostrado durante o preview para a imprensa — afinal, como quase tudo é gerado proceduralmente, nem nós sabíamos o que os jogadores iam encontrar — é o Tormentor. O Tormentor possui poucos pontos de vida, mas em contrapartida é um dos poucos capazes de gerar um escudo de energia. Assim que esse escudo de energia chega próximo a zero, ele dispara um laser gigante que não só ignora todo tipo de munição, mas também causa um dano massivo ao seu oponente. O grande “porém” é que seus escudos demoram um tanto para recarregar, então é bom que você tenha mods para contrabalançar”, explicou Yip.
Mods são o outro grande ponto de interesse de ConnecTank pra mim. Estes podem ser obtidos tanto no mapa quanto comprados antes do começo de uma missão. Dadas as poucas horas que joguei, já que o evento era muito limitado, senti que sequer arranhei a superfície do sistema. Todavia, vi mods capazes de gerar novos tipos de munições, duplicar ou triplicar a munição, ou alterar o ângulo que elas eram disparadas (um tanques pode disparar em dois níveis – um na altura de seu “peito” e outro na altura das suas pernas).
“Há muitas outras variantes que não foram vistas nessa sessão de preview”, mencionou Yip. “Uma delas e a minha favorita é o ‘Monster Cooker’. Ao invés de construir munição usando apenas esteiras, você precisa derrotar monstros e jogá-los dentro de um caldeirão para acelerar a produção. Este modificador se alinha com outros modificadores que temos de forma que é possível criar uma ‘build’ onde a luta contra monstros dentro do seu tanquesse torna parte da sua tática para vitória”, completou.
Yip aponta que ConnecTank tem um final, mas espera que os jogadores joguem várias vezes para encontrar novos tipos de tanques e os outros barões. Fazer isso também abre novos caminhos para a geração procedural que de acordo com ele é gerada a partir do quanto um barão domina uma região da “Nova Pangeia”. Completar missões para outros barões como “Lord Lewis” — cujo sonho é construir um museu mais imponente que o Louvre — gera novas missões, layouts, modificadores e — óbvio — tanques.
Creio que eu não teria problemas em completar ConnecTank múltiplas vezes para ver os diferentes fins e variantes de tanques, aprimorar minhas táticas ou descobrir quais surpresas me aguardam. Mas, como o próprio Yip aponta na entrevista feita durante a sessão de preview, creio que isto será mais carregado pelo modo cooperativo. Afinal, é daí que vem toda a parte “caótica” de ConnecTank.
Não pude testar ConnecTank com quatro jogadores, mas só três jogadores foi o suficiente para nos destrambelharmos na hora de organizar tarefas. Era um colocando esteira no lugar errado, outro sem querer jogando esteira na cabeça do outro – e por consequência o atordoando por alguns segundos – e todos tentando decifrar qual o melhor tipo de munição usar contra um tanque específico. Como a dificuldade escala para a quantidade de jogadores, eu preciso me preparar para tentar organizar uma partida com pessoas que tenham o mínimo de organização. Ou eu simplesmente posso ficar jogando esteiras na cabeça deles até eles ficarem irritados comigo.
Yip comenta que ele e a equipe da YummyTummy Games tentaram ao máximo reduzir o grau de frustração que pode ocorrer nessas situações, mas modificadores podem muito bem agravar a situação. “Um dos mods que temos se chama ‘Terror Scrap’, que deixa as sucatas gigantes e, além de poderem ser levadas pela esteira, também podem ser jogadas diretamente no Recyclotron. O intuito é facilitar a construção de mais munição em menos tempo, mas, bem, nada impede de você errar a mira — propositalmente ou não — e acertar seus companheiros/as”, comentou Yip, rindo.
ConnecTank está previsto para PlayStation 4, Xbox One, Switch e PC, mas ainda não tem data de lançamento. Espero que venha o quanto antes pois estou deveras ansioso para descobrir mais sobre o mundo da “Nova Pangeia”, os seus barões, e coletar os mais peculiares tanques.