Cinquenta gravetos, quem tem tempo para coletar cinquenta gravetos? Para e pensa, quantos gravetos você precisa para fazer uma pequena fogueira? Cinquenta, cem? Eu não sei, mas foi uma das principais perguntas que eu fiz quando comecei a jogar Conan Exiles, game de survival disponível no acesso antecipado do Steam por R$ 59,00.
Não é de hoje meu fascínio por jogos de survival, uma mistura de amor e ódio onde eu sinto que boa parte do meu tempo é gasta com tarefas inúteis. The Long Dark e Subnautica são as (possivelmente) eternas exceções à regra. Conan Exiles, até então pende para o lado que eu detesto, por mais que doa dizer isto.
Após quase uma semana em uma luta para entrar nos servidores, mais instáveis que a minha estabilidade emocional, fui agraciado com um dos sistemas de crafting mais…desinteressantes que eu vi ultimamente. A história você já conhece, comece sem equipamento, pegue um graveto ali, uma pedrinha acolá, construa um machado, evolua o machado, construa ainda mais coisas, encontre alguém que não vá com a sua cara, morra e recomece.
Ok, o esqueleto em si não é lá muito diferente do que temos aí e o uso da licença Conan ainda está para ser visto além de meia dúzia de nomes e uma ou duas edificações. A promessa é que a Funcom vai se focar em mais conteúdo para quem gosta de lutar contra a IA do que atrasar a vida dos outros jogadores. Nas minhas sete ou oito horas de jogo, vi alguns NPCs — como guardas e áreas protegidas por monstruosidades — que não costumo ver em jogos do gênero e cavernas que podem esconder algum loot interessante e construções monumentais feitas por outros jogadores. Minha dificuldade era ter a paciência para sequer pensar em acessar tais locais.
Novamente, o que me deixa interessado em The Long Dark é que a sobrevivência funciona como catalisador de interações do personagem com o ambiente o qual ele se encontra. Você precisa comer? Sim, então você precisa caçar, portanto você precisa de arcos. Assim, o jogador vai lentamente explorando o cenário e compreendendo como ele funciona.
Conan Exiles segue o caminho contrário — e o mais usado —, onde a sobrevivência funciona como um sistema de impedimento, que interrompe suas ações para que ele não avance demais. “Ah, você quer construir uma casa? Que bom, agora você precisa coletar 260 pedras para uma parede”, diz o jogo para mim. Meu amigo, duzentos e sessenta pedras para uma parede? Você só pode estar de brincadeira comigo. Ele não estava.
Tudo parece demorar eras, e a resposta da Funcom para o “problema”? Jogue em servidores não oficiais, onde você pode elevar a quantidade de materiais obtidos. Uma solução tapa-buraco que tenta ignorar o fato que Conan Exiles, por ora, é incrivelmente desbalanceado. Nada surpreendente, sendo que é um título de Early Access, mas frustrante de ver a mesma resposta dada por outros desenvolvedores sendo repetida aqui.
No que está polido, ao menos levando em conta todo o resto, é o combate. É divertido? Não, mas funciona quando o servidor não decide que o alce que caçava milagrosamente se teleportou para o topo de um morro. Seguir o ritmo de “atacar, defender, atacar, defender” faz com que você fique enjoado rápido. Além disso, mais uma vez, a degradação do equipamento acontece de maneira demasiadamente rápida. Basta duas ou três lutas e lá vou eu ter de coletar materiais para consertar a espada e o escudo.
A noção de que você tem de se unir e criar guildas para sobrevivência é outro elemento que está severamente pouco evoluído. Você cria uma guilda, junta seus amigos, cada um fica responsável pelas principais tarefas — como coleta de materiais, construção, defesa —, e então o que acontece depois? Praticamente nada. Supostamente você pode invocar monstros gigantes ao fazer sacrifícios aos deuses, mas sinceramente nos mais de trinta servidores não vi nada disto. O que presumo que ou os requerimentos são ainda mais exorbitantes, ou invocar uma cobra gigante ou um semideus é garantia de fazer com que o servidor caia.
Certas situações se destacam em Conan Exiles, como a possibilidade de capturar NPCs e usá-los como escravos para manusear a Wheel of Pain, um bizarro moinho de grãos do mundo de Conan. São estas que fazem com que o survival valha a pena dar uma olhada. Como todo o restante, soam como pequenas homenagens a série que o originou do que uma mecânica que gera novas oportunidades para o jogador.
De toda a promessa de exploração, tudo o que eu vi em Conan Exiles eram barreiras virtuais que lentamente eram abertas para aqueles pacientes — ou sortudos no caso de servidores PVP — de coletarem uma enormidade materiais e gastarem horas com algo que parece mais um trabalho do que um jogo. Exploração tem de vir naturalmente, tem de ser estimulada para o jogador com a indicação de que os frutos dos seus esforços vão gerar um resultado positivo. Para mim o único resultado foi ter uma pilha de pedras em uma caixa e um longo questionamento sobre a minha sanidade mental.
A franquia Conan tem muito do que ser explorada e nos tempos áureos de Age of Conan, vimos um pouco do que a Funcom é capaz. Nem tudo é gente pelada, violência exagerada e brincar de coletar coisas. Espero que a desenvolvedora perceba isto antes que seja tarde demais.