Você não tem paciência para aguentar quarenta minutos de uma partida com quatro outras pessoas aleatórias em meio a xingamentos e que parecem fazer o máximo para drenar a sua esperança na humanidade? Que bom, eu também não. Eu larguei todo o tipo de MOBA por mais de um ano até dar de cara com Battlerite, o novo jogo da Stunlock Studios e disponível no acesso antecipado do Steam por R$ 36,99.
Quando me perguntam do que se trata Battlerite, tenho o costume de falar que “é um MOBA para quem não tem tempo ou mais paciência para MOBAs”, mas falar dessa maneira é um desserviço ao jogo. Ele é na realidade o sucessor espiritual de Bloodline Champions, lançado originalmente em 2008.
Antes do todo frenesi de MOBA que temos hoje em dia, havia algo que sempre me prendeu em Bloodline Champions e consequentemente a minha tristeza de ele nunca ter feito sucesso no Brasil, as partidas rápidas. Eu vivo entre dois opostos, ou gosto de partidas que são curtíssimas ou que duram horas — o segundo caso para shooters realísticos ou jogos de estratégia por turno). Battlerite acerta justamente neste aspecto.
Cada round (que pode ser entre 2vs2 ou 3vs3) dura no máximo oito minutos. Isto é o tempo limite para o contador atingir o tempo de morte súbita e a arena se fechar cada vez mais até que um único herói sobreviva. Céus, eu acho que não consigo fazer um cafezinho neste tempo.
Já sei, você já imagina que por conta das partidas curtas Battlerite é fácil de jogar e você vai ser o campeão, afinal tem 3000 horas de MOBAs nas costas e sabe todo o metagame de Dota 2 de cor, não é? Errado.
Enquanto de fato é um jogo relativamente simples de entender superficialmente as mecânicas (também graças ao ótimo tutorial), leva um bom tempo para você aprender a sinergia de cada personagem. Apesar de baseados na “Holy Trinity” (Tank, DPS, Healer), cada um deles traz uma funcionalidade adicional ao campo de batalha.
No início de cada round você escolhe uma de três cartas. Estas cartas dão funcionalidades adicionais as habilidades, como aumentar o tempo de atordoamento, dar mais algumas oportunidades para quebrar a defesa do inimigo, dentre outras.
Uma sensação que raramente sinto em jogos do estilo é a facilidade de me “adaptar” ao estilo de jogo de cada personagem. Sempre tem aquele personagem que você desgosta um pouco, ou que acaba por jogar “por falta de opção”. Não, sempre havia um detalhe que me fazia gostar dele de uma forma ou outra pela sensação de que eu sempre ajudava o time.
Esta é uma das vantagens da redução de jogadores na partida e o enxugamento de algumas mecânicas, não importa o que seja, uma ação irá contribuir para a vitória ou derrota. O que Battlerite faz não é tornar um MOBA fácil, mas saber extrair os momentos de maior euforia e entrega-los em um pacote refinado.
Um dos meus heróis favoritos é Rook, um Tank capaz de tacar pedras, atordoar os oponentes e reduzir a armadura. Aliado a um DPS competente eu era capaz de reduzir a armadura e ao mesmo tempo deixá-los atordoado tempo suficiente para que fossem moídos por uma metralhadora ou uma magia ou sabe lá o que o meu companheiro usava.
Mas tudo isso é dependente de posicionamento, de timing, muito mais do que você vê em uma partida média. Um erro da minha corrida — uma habilidade que ao se chocar no inimigo o deixava atordoado — e eu acabara de deixar uma abertura para que o inimigo usufruísse da minha falha.
Pode não ter o “impacto” de uma teamfight de Dota 2 e honestamente nem precisa, pois não perde o grau de complexidade. É difícil explicar por meio de palavras a sensação de alívio quando você acerta uma habilidade no tempo certo para que o outro jogador consiga usá-la a todo seu potencial. Um misto de euforia com alívio toma conta do meu corpo toda vez que eu acertava uma habilidade.
A rapidez em que as partidas evoluem de um começo meio e fim é de sufocar. Tudo acontece em um piscar de olhos, quando menos percebia eu já buscava o melhor ponto do mapa para ficar, desviava dos ataques dos inimigos, alertava para uma possível ameaça e contava os segundos para que aquele golpe que ia quebrar a defesa do inimigo saísse do cooldown.
Mas ao mesmo tempo eu não sofria da constante crise de ansiedade presente em outros MOBAs, aquela sensação de que antes mesmo de começar a partida ela já estava perdida. Pois como eu falei, é um tempo curto demais para eu me incomodar se deu certo ou não.
E se não deu certo, quem liga? Ok, uma meia dúzia de pessoas ainda fica irritada quando você erra uma habilidade e perde a chance de virar a partida. Mas foram oito minutos no máximo, não quarenta, não cinquenta, não vinte horas tentando entender o que cada herói faz com uma enormidade de variáveis na sua cabeça. Há uma parcela da comunidade tóxica? Infelizmente sim, isto é inerente do ser humano e não existe nada que possa eu fazer a não ser ignorar.
Por ser um game no acesso antecipado do Steam, ainda existem algumas arestas a serem aparadas. Em raras ocasiões tive alguns problemas de conexão com os servidores (que aliás já existem servidores nacionais) ou bugs que impediam um ou outro jogador se conectar na partida. Fora isso? Raramente vi um jogo tão polido no acesso antecipado.
Da mesma maneira que vejo um futuro promissor, tenho um pé atrás em relação ao método de monetização. A atual versão do acesso antecipado do Steam dá direito aos atuais e futuros personagens, mas quando lançado ele irá aderir ao estilo free-to-play com a compra de personagens separadas. Acima disso existem uma meia dúzia de itens cosméticos — já implementados — que são ganhos por meio de baús. Mais uma vez, comprados com dinheiro real ou moedas de missões.
Não que o sistema de “pague por personagem” seja ruim, apenas acho contra produtivo para um jogo deste estilo, ainda mais um que se apoia tanto em partidas com poucos personagens. Se for para seguir este modelo, que ao menos ofereça uma forma similar a atual ou futuramente um sistema como o da Hi-Rez, que pague por um pacote completo com todos os heróis.
Quanto os baús, sou levemente (se isto é possível) indiferente. Já larguei essa coisa de emperiquitar meu personagem para parecer bonitinho. Contando que eles não comecem com ganância, não irá afetar a minha experiência. Além do que, a quantidade de quests no momento já é mais do que incentivo suficiente para você ganhar um baú ou outro.
Meu tempo de jogo e meu tempo para fazer atividades livres são eternos inimigos. Há dias em que eu não quero investir tanto tempo enquanto em outros gostaria de passar metade da tarde em partidas. Battlerite até então consegue suprir estes dois cenários.
Eu havia prometido a mim mesmo não voltar tão cedo a jogar MOBAs pois de certa forma faziam mal a minha saúde, mas acabou que Battlerite me conquistou. Ainda há muito chão pela frente, muitos heróis a serem lançados e espero que não tantos bugs a serem descobertos. Pelas suas partidas rápidas, heróis divertidos de serem jogados e um impressionante polimento, já recebeu seu espaço entre as minhas longas partidas de simuladores, jogos de estratégia ou quando só quero algo para me distrair.