“Quatro dias? É sério que eu só durei quatro dias nessa campanha?” — falei em alto e bom tom durante a minha primeira semana com Age of Darkness – Final Stand (Steam). Claro que eu durei poucos dias no jogo de estratégia / sobrevivência. Eu supus que ele era só mais um “They are Billions” com visuais melhores, mais um jogo de estratégia na minha lista que parece crescer a cada dia que passa. Mas não era.
Nome genérico à parte (sério, quem imaginou que Age of Darkness: Final Stand seria um bom nome em uma indústria repleta de nomes genéricos?), a desenvolvedora PlaySide olhou bem fundo para os pontos fortes de They Are Billions e Conan Unconquered para desenvolver o seu próprio estilo dentro do subgênero.
Se você jogou um dos dois, vai notar a clara influência nos fundamentos de Age of Darkness: estabeleça edificações, prepare suas tropas, pesquise novas tecnologias e sobreviva a gigantescas hordas de inimigos que te atacam durante a noite.
Ainda que o conceito em si não seja nada “novo” para quem acompanha a comunidade de estratégia e as dezenas de mods que foram a base para o ressurgimento desse subgênero, Age of Darkness tem algumas boas cartas na manga para incentivar o jogador a ser um participante mais ativo. O primeiro deles, é claro, é o herói. Ele não é só útil em despachar as hordas de zumbis e monstros de onde vieram, mas uma excelente unidade para explorar o mapa. E, confie em mim, você vai querer explorar o mapa.
Age of Darkness: Final Stand propõe um sistema que tanto They Are Billions quanto Conan Unconquered falharam em capitalizar: coloque pontos de interesse pelo mapa e incentive o jogador a desafiá-los.
No momento dois pontos de interesse estão presentes: unidades elite — que dão um tremendo bônus de experiência e gemas raras que podem ser usadas para reviver seu personagem sem ter que esperar até que o contador chegue a zero — e caches de recursos “raros” como ferro — para alavancar a produção e proteção das suas tropas.
Eu gosto muito de sistemas “risco vs recompensa” quando são instigados dessa forma, isso quando eu não sou um tonto e vou com o meu herói nível 1 tentar coletar um desses caches de recursos raros durante a noite — onde os inimigos ficam mais fortes — e ver minhas tropas dizimadas. Já deu para perceber que minha experiência com They Are Billions não serviu para nada, não é?
Mas essa é a pegada de Age of Darkness; não importa quantas horas você gastou em They Are Billions ou Conan Unconquered, começar uma partida nele vai te pedir para repensar e reorganizar as suas prioridades na construção e manutenção da sua base.
Na minha fatídica primeira tentativa, a que me fez durar só quatro dias, eu investi horrores em dinheiro e tropas mas não levei em conta que a minha produção de pedra estava muito abaixo do esperado. O espaçamento das edificações de extração de recursos é muito maior do que os mapas muitas vezes claustrofóbicos de They Are Billions; não espere colocar duas madeireiras coladas e ter o mesmo retorno em madeira.
Adivinha o que aconteceu? A minha gigantesca preocupação em criar arqueiros para defender as principais frentes de ataque secou o meu estoque de pedra. A mesma pedra com a qual eu contava para fortalecer as minhas muralhas. “Acho… acho que não foi uma decisão muito boa”, refleti, ao ver as muralhas sendo decimadas como se fossem papel e meus arqueiros caindo no chão um a um.
“Mas não, dá para salvar essa partida, eu sei que dá, é só a primeira noite mais intensa. Essa horda não é tão grande assim, eu só vou colocar o meu herói ali e… ah, ele morreu”.
O que sedimentou de vez a minha derrota foi a principal mecânica de Age of Darkness, uma que vejo como uma divisora de opiniões: buffs e debuffs. Em suma, toda vez que uma noite de “Pesadelos” — nome dado para o definitivo avanço das hordas para sua base — inicia, você ganha um debuff e precisa administrar da melhor maneira possível; caso vença, você ganha um buff temporário até a próxima noite. No meu caso eu fui presenteado com uma que diminuía em 50% a produção de todas as minhas edificações que extraíssem matéria-prima. Se pedra já estava em falta, agora que eu não veria sequer um cascalho na minha frente.
Recostei-me na cadeira e vi lentamente as minhas tropas e a minha cidade serem dizimadas pelas hordas de monstros. Primeiro as muralhas, depois as construções de defesa, então as casas dos meus habitantes e assim a minha base central. Esse tempo todo com a mão no queixo refletindo “O que poderia ter sido feito, além de prestar atenção nos materiais, para sair vitorioso de uma noite dessas?”.
As minhas subsequentes tentativas foram muito mais bem sucedidas — não ao ponto de dominar todas as facetas de Age of Darkness, mas consegui ao menos não ser um completo idiota e ir tentar pegar um cache com itens raros com um herói nível 1. Tais partidas foram o que me ajudou a notar que ele ainda é, no fundo, um jogo em acesso antecipado.
O primeiro indicador é a rapidez com que a madeira se transforma em uma matéria-prima “inútil” a partir do momento em que você atinge o segundo nível de melhoria da sua base. Tudo requer um tiquinho de madeira e montanhas de pedra e depois ferro. Boa sorte encontrando pedreiras ou depósitos de ferro sem expandir a sua base freneticamente, pois a geração procedural desses recursos ainda está longe do que eu considero “equilibrado”, até mesmo nas dificuldades mais fáceis.
A expansão da base em si é um outro possível divisor de opiniões. Onde They Are Billions te deixava “respirar” por alguns minutos, tudo em Age of Darkness: Final Stand é para “ontem”. Olha, eu sou redator, mantenho um site praticamente sozinho, salvo o Roberto — que provavelmente vai revisar esse texto. Eu estou mais do que satisfeito com pressões internas, externas e prazos. Incontáveis vezes eu colocava o mouse sobre a pedreira para ver a barrinha encher enquanto torcia “vai, vai, mais rápido, vocês conseguem!” na esperança de que teria recursos suficientes para melhorar as muralhas antes do próximo ataque.
No outro lado da moeda, quem dominar esse aspecto pode acabar “entediado” pela carência de novas estruturas e maior variedade de unidades — elementos que irão ser corrigidos ao longo do período de acesso antecipado. Eu faço essa mesma crítica para They are Billions, mas, como disse alguns parágrafos acima, Age of Darkness ao menos ainda te dá motivos para sair da sua zona de conforto e tentar coletar recursos extras caso seu exército esteja bem organizado.
Os buffs mencionados acima também são um pouco decepcionantes. Embora alguns aumentem a sua produção, a maioria é voltada para dar mais pontos de vida ou regeneração de vida para suas tropas — que só acontece quando voltam para a base. Entendo que a ideia é fazer o jogador sair mais ainda da zona de conforto, mas na versão atual eles são quase como um tapinha nas costas daquele chefe insuportável depois de você fazer uma jornada de doze horas e ele soltar um: “muito bem, se prepara que o resto da semana vai ser assim”.
Entretanto, por todos os deslizes esperados de um jogo de acesso antecipado — um que ainda deve ficar no mínimo por mais um ano em desenvolvimento — Age of Darkness: Final Stand mais acerta do que erra.
Em momento algum eu senti a tensão que eu tinha em They Are Billions, de que um mínimo erro no posicionamento das minhas muralhas ia custar o restante da partida. Os inimigos são muito bem delineados e ver uma horda deles vindo em sua direção é assustador. As unidades respondem muito bem aos comandos e o sistema de atalhos é tão intuitivo que até mesmo quem não tem tanta experiência com o gênero vai pegar o jeito em questão de algumas horas.
De acordo com o roadmap lançado pela desenvolvedora, não vai demorar muito até que um novo herói seja introduzido em Age of Darkness junto com uma dezena de melhorias e novas edificações. O jogo também terá uma campanha no futuro, mas espero que a (inserir nome da desenvolvedora) evite o erro da Numantian Games e permita que a comunidade teste a campanha antes de lançar do nada e acabar sendo o desastre que foi a campanha de They Are Billions.
Por ora, eu recomendo pegar se você gosta do subgênero e não se importa com os óbvios bugs de um jogo em desenvolvimento. Age of Darkness: Final Stand tem muitas ideias interessantes para sucumbir à mesmice. Não posso prever o futuro (ainda), mas espero revisitá-lo e ver o quanto ele melhorou. Enquanto isso eu vou praticando as minhas defesas contra as hordas do mal. Quem sabe uma hora eu não deixo de ser um tapado e consigo avançar do normal para o hard?