Antes de começar esse texto, queria deixar claro que não é que eu “não goste de crianças”, eu gosto delas, de preferência a um oceano de distância de mim. A ideia de gerenciar uma escola em Academia: School Simulator, que está no acesso antecipado do Steam, era um pouco assustadora. “O que diabos eles vão fazer enquanto eu estiver no cargo? ”, já pensei antes mesmo de clicar em “play”. Ironicamente, os demônios não foram cuidar delas, mas sim de todo o resto.
Em desenvolvimento pela Squeaky Wheels Studio, cujo fundador, Ryan Sumo, é o artista de Prison Architect (Introversion Software), Academia segue o conceito estabelecido por Dwarf Fortress, difundido pela Introversion e agora presente em tantos outros games. Gerencie um estabelecimento, mas não tenha controle direto por ele.
Se você jogou Prison Architect então você já sabe o conceito-base. Defina as áreas de cada componente de uma escola — salas, refeitório, biblioteca — especifique muros, portas e objetos e deixe que a equipe de construção dê conta do resto. É um loop o qual eu já me sinto confortável e que me agrada um tanto. Sempre é agradável de ver os seus planos tomarem forma e o motivo de eu ter gastado (e gostado) tantas horas no game da Introversion e agora em Academia.
Minha primeira escola, gentilmente chamada “Lar da felicidade”, pois sabia que este lema seria impossível de seguir, começou muito bem. Meus instintos de planejamento, equivalentes ao de um esquilo, fez com que eu planejasse da pior maneira possível uma escola. Cada sala estava em um lado do mapa e ao invés de fazer em um ambiente fechado, as coloquei no ar livre. Resultado? Cada aluno ia de um lado para o outro, se perdia no caminho e demorava para chegar na aula. Bug ou funcionalidade? Não sei dizer.
Minutos mais tarde e o caos estava instaurado, meus alunos estavam doentes pela quantidade de sujeira e o espaço aberto fazia com que eles simplesmente vagassem sem rumo, faltassem as aulas e depois ficassem doentes. No fim da minha primeira tentativa o meu quadro de 150 alunos tinha apenas 10. O restante? Doente tamanha a sujeira que estava a escola.
“Lar da felicidade momentânea”, agora sim um nome competente para a minha escola. Desta vez com muros, salas que não parecem que eu enfiei 30 cadeiras em um espaço onde cabiam cinco, biblioteca, computadores, enfermeiras, cozinhas e cantinas do tamanho apropriado.
A cada semestre letivo novos alunos chegam à minha escola, ensino fundamental, médio. De todas as idades, tamanhos e interesses. Foi então que me dei conta: o que exatamente eu estava fazendo? O dia começava, acabava e eu já tinha “decifrado” como manter uma escola. Isto é, exceto pela sujeira.
Céus, como meus alunos sujam aquela escola e ainda não consigo descobrir como resolver o problema. Coloquei lixeiras, aumentei meu quadro de faxineiros, cimentei toda a região da escola e ainda assim toda vez que pisam no chão é como se eles acabaram de correr e rolar na lama. A esta altura eu vou presumir que é só mais um dos pequenos problemas que vi, assim como menus que não fechavam corretamente e cadeiras flutuantes. Engraçados de se ver, mas bom de se ter em mente caso decida jogar na atual etapa de desenvolvimento.
Independente dos problemas citados, usar termo “decifrar” em si já é um exagero para o que Academia oferece em sua atual fase de desenvolvimento, pois não existe exatamente nada para decifrar se você é no mínimo um veterano do gênero. É uma ferramenta de construção onde você não pode interagir com mais nada.
O quadro de alunos é um dos componentes estranhos do jogo no momento. Você tem essa opção de escolher alunos do ensino básico, fundamental e médio, mas não há uma grande discrepância entre eles. Eles são apenas isto, seres que vagam pelas escolas e vão para a aula. Alguns sentem vontade de comer certos tipos de comida — que não consegui decifrar se há como ajustar o cardápio da cozinha — outros tendem a vagar e entrar na aula. Uma colônia de formigas indo de um lado para o outro enquanto os sigo com a câmera.
Mesmo que seja um controle indireto, não é possível no momento, por exemplo, editar o quadro de alunos de cada sala. Uma ferramenta dessas é essencial para qualquer game de gerenciamento. É como se todo professor desse todas as matérias e Academia não desse um feedback compreensivo do porquê eles falharam em certos testes.
É pela falta de tais detalhes que surge o problema da falta de interatividade mencionada em meu artigo sobre Cities: Skylines. Estilo ao invés de gerenciamento — e no atual estágio é preciso resolver o quanto antes. Não é tratar de ter uma escola bonita, ou lucrativa, é preciso o gerenciamento de problemas aleatórios — inexistente.
Muitas questões ficam em aberto e após ver o (vago) roadmap, disponível no site oficial, minhas dúvidas triplicaram. A desenvolvedora promete eventos como alunos delinquentes, especialização em um tipo de ensino e eventos aleatórios. São essas as partes que me preocupam, pois é um assunto consideravelmente difícil de se lidar. Atualmente a garantia de “sucesso” em Academia: School Simulator significa ter um cofre cheio de dinheiro, mas o ensino pode ser resumido a busca do lucro?
Como a Squeaky Wheel vai lidar com as diferentes metodologias de ensino mundo afora? O que seria, por exemplo, lidar com um aluno delinquente? Seria repreensão a melhor forma para modificar o comportamento de um ser humano em fase de crescimento? Sinto que a desenvolvedora começa a pesar em um campo minado e temo que seja tarde demais para que note a enrascada que se meteu.
Eu vejo Academia como um produto de uma iteração rápida, um que nasce do sucesso de Prison Architect, mas ainda não conseguiu se moldar a não ser a uma reskin dele com Rimworld, Airport Tycoon, dentre tantos outros do mercado. E esse é o principal desafio da Squeaky Wheel, como conseguir se diferenciar em um mercado de managers indiretos que atingiu um ponto de saturação mais rápido do que eu imaginava.
Eu realmente não gosto de ser cético quanto o potencial dos jogos, e a lista de mudanças previstas pela Squeaky Wheel aponta que futuramente Academia terá um pouco mais de carne do que apenas ossos. Mas, por mais que eu tente enxergar essas possíveis mudanças, melhorias e promessas, nada até então indica que isso vai ocorrer tão cedo.
Vou ficar de olho e reservar obviamente as minhas impressões finais para quando for um produto completo, mas depois de ter meu contato inicial e o quão nebulosos são os planos futuros, não posso deixar de ficar ligeiramente preocupado.