Não meus caros, não é primeiro de abril, vocês não estão alcoolizados ou sob o efeito de entorpecentes. A Paradox anunciou durante a PDXCon Remixed que o seu próximo Grand Strategy é, de fato, Victoria 3.
Sei bem que você deve estar pensando, “Oh não, a Paradox simplificou tudo como ocorreu nos seus últimos jogos!” Bem, sim e não. Uma apresentação a portas fechadas para a imprensa de uma versão não-final do jogo nos apresentou um jogo igualmente complexo quando comparado ao seu predecessor, mas com uma interface mais fácil de entender e em parte remanescente do que se vê em jogos como Crusader Kings 3.
Ao contrário de Victoria 2, cujo tempo era contado por dias, Victoria 3 agora é dividido em “manhã / tarde / noite”, e vai de 1836 até 1936. Boa parte das principais ações podem ser encontradas diretamente da tela principal ao invés de navegar por 30 diferentes abas – o que é um alívio para quem é veterano da franquia.
A apresentação teve seu foco principal na Prússia e nas regiões ao seu redor. A primeira tela dá uma pincelada geral na Prússia, seu PIB, população total, quantidade de pessoas alfabetizadas, culturas primárias, terras disponíveis e sua principal religião.
Uma das alterações mais notáveis em Victoria 3 é a remoção do mercado global em favor de um mercado regional e dinâmico. Esta versão já conta com 50 produtos divididos em quatro categorias: produtos consumidos por populações, bens industriais, produtos de luxo e produtos para o seu exército. O recebimento e envio de produtos, preço médio e quais são seus principais fornecedores são apresentados em uma tela lateral junto com um novo overlay no mapa.
Como é de se esperar do game, Victoria 3 vai mais a fundo que isto. A equipe da Paradox apresentou uma das construções em Brandemburgo – uma indústria de produção de ferramentas. A interface apresenta que tipo de matérias-primas ela usa, no caso madeira e ferro, para construir ferramentas que então são vendidas tanto para o mercado regional como para o uso em outros tipos de edifícios. O pagamento semanal deste edifício é dividido entre as diversas populações que trabalham nela – algo que já era esperado de Victoria 3.
De acordo com o diretor Martin Anward e o designer Mikael Andersson, Victoria 3 utiliza o sistema “clássico” de Victoria 2 com múltiplas adições. Nível de alfabetização, status de religião – se são aceitos por outras partes da sua população ou não – nível de crescimento e outros pormenores estão todos presentes em uma janela lateral que pode ser acessada a qualquer momento durante a partida. Isso vale para todos os grupos, desta vez com ainda mais influência no seu governo.
Cada população faz parte de um IG, ou melhor, um grupo de interesse. Grupos de interesse como industrialistas podem ter mais influência sob a sua nação, enquanto as forças armadas podem ter menos influência. Grupos marginalizados como sindicatos podem aparecer como possíveis “ameaças”, significando que insurreições anarquistas ou socialistas não estão fora de cogitação – tanto que elas fazem parte da “árvore de tecnologia” de Victoria 3, que por acaso lembra um tanto os Focus Groups de Hearts of Iron IV.
O sistema de leis em si é um tanto diferente em comparação com o de Victoria 2. A Paradox preferiu agrupar tanto as reformas políticas quanto sociais em uma única tela separadas em três categorias: estrutura de poder, economia e direitos humanos.
Ainda que estejam mais fáceis de entender, o sistema de leis ainda tem os seus pormenores, como demonstrado com um sistema de impostos. Caso você queira, por exemplo, fazer com que a população mais rica pague um valor mais alto de impostos, é preciso ter apoio dos grupos de interesses já citados. Ou seja, não espere atingir esse objetivo tão cedo. Cada lei tende a demorar cinco ou mais anos para ser implementada.
Um dos novos sistemas de Victoria 3 são as “instituições”. De acordo com Martin Anward e Mikael Anderrson, essas instituições são algo que foram tomando forma ao longo da fundação da sua nação. Pense nelas como “estados” de Europa Universalis IV mas sem a demanda por território. A evolução de tais instituições e a sua manutenção depende do quanto de “burocracia” a sua nação produz por semana. Para elevar o nível de burocracia será então necessário construir novos prédios governamentais e aumentar a influência dos burocratas na sua nação. Claro que tudo isso é um ato de equilíbrio e, caso este grupo de interesse passe a ter mais influência no seu governo, você pode perder legitimidade ou ser pressionado a passar certas leis que trarão a ira de outros grupos de interesse.
Outro ponto muito interessante discutido pela Paradox durante a apresentação é o sistema de “jogadas diplomáticas”. De acordo com a empresa, ela quer focar bastante no ato de Victoria 3 ser um simulador “político diplomático e mercadológico” ao invés de um “map painter” como algo no estilo Europa Universalis IV.
Jogadas diplomáticas funcionam como um “prelúdio para uma possível guerra”. No exemplo dado durante a apresentação, a Prússia decidiu pedir a transferência de Holstein – província da Dinamarca – para o seu território. Todavia, a Dinamarca pediu a liberação da Pomerânia e reparações de guerra.
A partir daí você pode escolher tentar chamar seus aliados para a guerra ou decidir não seguir com as negociações. Todavia, não seguir com as negociações fará com que o war goal primário da Dinamarca, a liberação da pomerânia, seja imposto ao jogador. No fundo é um grande e interessante jogo político que envolve a tradicional esfera de influência que Victoria tende a proporcionar.
Vale ressaltar que isso poderia ter muito bem virado um tiro pela culatra, pois caso a região demandada pela Dinamarca fosse a principal fornecedora de matérias-primas para suas construções e ela se “desligasse” do mercado regional da Prússia, os preços iriam aumentar, sua população ganharia menos e por consequência ficariam mais insatisfeitos com o seu governo. Infelizmente a desenvolvedora não entrou em detalhes sobre mecânicas de guerra.
Outro ponto que acho importante levantar é que Victoria 3 aparenta estar usando o mesmo sistema de “dicas” de Crusader Kings 3. Espero que o jogo venha com um codex para explicar tantas mecânicas pois só a apresentação já me deixou um pouco perdido.
Depois de tantos lançamentos desastrosos – ainda mais a recente expansão de Europa Universalis IV, Leviathan – eu não ouso por a mão no fogo pela Paradox. Entretanto, tudo que vi de Victoria 3 aponta para um jogo feito com bastante detalhe e voltado para agradar bastante os veteranos de Victoria 3 já que grande parte das mecânicas do antecessor, até onde pude ver, estão presentes de uma forma ou outra. Isso sem contar as dezenas de “correções” que a versão base de Victoria 2 e suas expansões possuíam.
De acordo com a Paradox, ainda é muito cedo para dizer uma data de lançamento – ainda mais que muitas mecânicas além do sistema de guerra não foram demonstradas durante a apresentação. Mas, se a desenvolvedora souber manejar o desenvolvimento, pode ser que tenhamos outro lançamento de sucesso como Crusader Kings 3. Isto só o tempo dirá.