Mesmo depois de 15 dias desde que o ano começou, ainda me refiro a 2023 como “2022”. Eu não parei no tempo, mas é bem normal eu ter essa confusão mental. Ainda mais em um ano tão conturbado para mim — algo que se refletiu no site, na minha vida pessoal, e nos meus jogos favoritos do ano.
Quem acompanha o site, que acabou de fazer 10 anos (!) sabe muito bem que um dos meus gêneros favoritos é estratégia. 2022 foi o ano em que eu menos joguei jogos de estratégia. Quando não estava completamente exausto, estava sem motivação para passar por uma dúzia de tutoriais em outro jogo entupido de camadas de complexidade. “Terra Invicta” foi um deles, que só tive a chance de jogar com calma no começo de dezembro. Outros como “Floodland”, “Regiments”, acabaram ficando de lado. Ambos abordam temas pesados demais para mim, e a realidade é que eu estava em mais um buraco de depressão.
Alguns de vocês sabem que eu sofro de depressão crônica, e embora eu não fale muito sobre ela — tampouco fale sobre a minha vida pessoal no site — ter conseguido manter o site atualizado até o final do ano foi um pequeno milagre. Eu não sabia de onde eu estava tirando forças para fazer mais um artigo, participar de mais uma entrevista, escrever algum preview. Abro aspas aqui mais uma vez para agradecer demais ao Roberto por ser o meu braço direito na hora de editar matérias imensas e apontar áreas que podem ser melhoradas. Sem ele, nem metade das matérias de 2022 teriam saído de um mero rascunho.
Assumo também que, em dado momento, até cogitei que eu não estava mais gostando de jogos em si, e procurei outras mídias e atividades para preencher o meu tempo (sem deixar o site de lado, é claro). Voltei a praticar ciclismo com mais frequência, prestar atenção nas minhas flutuações de humor e tentar tirar o melhor proveito de cada dia.
Quando eu me sentava para jogar algo, ou eu queria ser transportado para um mundo completamente diferente, ou eu queria conforto. Por consequência, a lista desse ano é outra que foge do tradicional, incluindo jogos em acesso antecipado e até mesmo um jogo que não saiu em 2022, mas que merece ser incluído por quão importante ele foi para mim.
Enfim, sem mais delongas, aqui estão os meus jogos favoritos de 2022. Os que mais ressoaram comigo, que mais me fizeram refletir ou apreciar essa fantástica indústria que — por mais problemática que continue a ser — ainda me enche de esperança por um futuro melhor. E, como sempre, obrigado a todos que continuam a acompanhar o site, comentar nas matérias e compartilhá-las — seja você um novo leitor ou um leitor assíduo desde que eu comecei esse projeto. Obrigado de coração por fazer parte da minha vida.
Elden Ring
Eu sabia, você sabia, todos nós sabíamos que Elden Ring estaria nessa lista. Pessoalmente eu não acho que a From Software tenha “inovado” no aspecto open world como tantos clamaram. Elden Ring é de fato um jogo bem produzido, mas com altos e baixos, onde os altos são como o pico do Everest e os baixos como as profundezas do oceano. É a “fórmula” da série Souls aplicada de uma forma coesa e em um universo bem realizado. Acredito que sua recepção seria diferente se não fosse pela saturação de jogos de mundo aberto que tendem a seguir um modelo tão “padrão”.
É um jogo que eu amei jogar e me fez pensar sobre todas as variantes ou builds que cogito fazer, além de acompanhar a fascinante comunidade de mods para PC que não para de crescer. Porém, ainda não consigo juntar as forças para rejogá-lo. Quem sabe daqui a dois anos ou mais.
Roadwarden
Talvez no que possa ter sido um ano tão recheado de adventures de peso ou impactantes, Roadwarden continuou a se sobressair com o seu misto de narrativa textual, uso de estética pontual, e um portal para a imaginação como poucos jogos conseguem.
Em partes, ele é como a “ressurreição” dos text adventures com elementos de RPG para um público mais abrangente, trazendo em conjunto muitas conveniências modernas. Embora o tenha completado uma única vez para a minha crítica, eu voltei a explorá-lo continuamente ao longo do ano para ver o que eu perdi ao escolher rotas diferentes.
Sua imensa densidade não tem como ser medida por meras palavras — ao menos não minhas. Ele te leva para uma viagem e, toda vez que você o fecha, deseja voltar para aquele mundo e conhecer mais. Outro fortíssimo ponto que mostra que os RPGs não precisam se focar puramente no combate.
OlliOlli World
Quem conhece a minha paixão por tabelas de liderança não fica nem um pouco surpreso com a inclusão de OlliOlli World nesta lista. O título da Roll7 Games foi instalado em 7 de fevereiro de 2022 e, depois de duas atualizações, múltiplas temporadas e dezenas de desafios ainda a serem concluídos, eu não o vejo saindo da minha rotação tão cedo.
Do design dos personagens à fantástica evolução dos estágios — que só ficam ainda mais complexos nos DLCs Finding the Flowzone e VOID Riders — é o suprassumo da Roll7 em termos de criar um cativante jogo de skate que me leva aos limites da precisão. Ainda quero pegar todas as peças de equipamento disponíveis.
Rollerdrome
Quiçá a única “dobradinha” que eu fiz em um ano, Rollerdrome, também da Roll7 Games, troca a precisão de OlliOlli World para um jogo onde estilo, domínio das mecânicas e uma precisão extrema são cruciais para sequer passar de uma fase.
Apesar de ter gostado muito e ainda não ter largado o osso, confesso que Rollerdrome é, e sempre vai ser, para poucos. O grau de segmentação entre “ser um bom jogador” e “quebrar todas as barreiras” é quase um abismo. Ele te força a aprender os inimigos e seus padrões de ataque via um sistema de desafios que sinto que muitos torceram ou irão torcer o nariz por não poder avançar nas fases até completá-los.
Mas, após terminar e me sentir o mestre da arena, aliado com uma simples mas eficaz trama, eu não parava de esboçar um sorriso. Isto é, até entrar no modo “Out for Blood” e apanhar tudo de novo. Um dia eu chego lá.
Lunistice
Lunistice sequer estaria nesta lista se não fosse por um comentário aleatório no Cohost sobre ele. Eu não tenho a tendência de acompanhar jogos de plataforma 3D, sou horrível neles e me sinto desmotivado a aprendê-los. Entretanto, o estilo carismático e a fantástica trilha sonora do game me fizeram terminá-lo em praticamente uma sentada.
Foram duas horas maravilhosas que se estenderam por mais 10 com novos desafios, personagens e a minha tentativa de completar as fases no menor tempo possível. Em partes, é no que eu gostaria que os novos jogos de Sonic se inspirassem (Para deixar claro, Sonic Frontiers é um jogo excelente) e uma ótima demonstração de como controles precisos são importantes para este tipo de gênero. Se você não gosta muito deles, dê uma chance para Lunistice. Se você ama o gênero, espero que ele já esteja na sua biblioteca.
Victoria 3
Eu sei, Victoria 3 tem problemas, deixou a comunidade dividida por conta da sua “simulação de sociedade” e de como é fácil “abusar do sistema” em prol de vitórias fáceis. Mas, para alguém que é fascinado por linhas de produção e como elas evoluem ao longo dos anos e da história, Victoria 3 é absolutamente fantástico — algo que pontuei muito bem na minha crítica do game.
Foram dezenas de partidas com diferentes países, desafios impostos por mim, desafios que surgiram com eventos aleatórios e a linha tênue entre ter uma economia que floresça e a completa devastação do meu país. Victoria 3 me deu histórias para contar por anos, e com certeza irei compartilhá-las mais cedo ou mais tarde.
Ainda há muito a ser corrigido no jogo da Paradox, como o terrível sistema de batalhas militares, alguns menus que são pouco intuitivos — em um jogo que já tem uma curva de aprendizado alta — e tantos outros pormenores apontados pela comunidade. Parte disso felizmente já foi resolvida via mods, a outra parte sem dúvida virá em uma futura atualização.
Compound
O verdadeiro campeão de 2022 em termos de jogo de RV para mim foi Beat Saber, no qual eu investi mais de 200h e me vejo facilmente investindo outras 200h sem o menor esforço. Mas, se for para escolher um jogo que me fez apreciar um tanto quanto o fato de que jogos em RV podem ser excelentes mesmo sem visuais fantásticos ou de mecânicas complexas, tenho que escolher o roguelike “Compound”.
Sua arte no estilo “Wolfenstein 3d” acompanhada de um loop agradabilíssimo, animações fantásticas e uma boa dose de desafio me faziam voltar para ele semana sim, semana não. O escopo “limitado” decidido pelo desenvolvedor Bevan McKechnie faz com que ele se foque no que é necessário para o estilo: armas robustas com animações bem feitas, um ótimo “feedback” e a sensação de que o perigo está a cada esquina.
Sou bom em “Compound”? Nem um pouco. Ainda estou muito longe de desbloquear todos os seus “troféus”, mas esse é um que vai me acompanhar durante 2023.
Signalis
Mesmo que carregue suas inspirações em Silent Hill e Resident Evil na manga, Signalis crava o seu próprio caminho como um dos melhores jogos de terror de 2022. Um terror que vai muito além dos monstros, dos gritos ou dos “jumpscares”.
O maior terror de Signalis é viver, é encontrar quem você é, amar, deixar de amar, esquecer como amar e tentar reaprender. Dar vida a seres “inanimados” e identidades tão fortes como as que eu vi em Signalis é um feito que poucas desenvolvedoras conseguem. Cada segundo, cada memória que esse jogo criou em mim vai ser guardada com muitíssimo carinho.
Symphony of War: The Nephilim Saga
Se tem um gênero que se sobressaiu em quantidade no ano passado foram os SRPGs. Tactics Ogre Reborn, Lost Eidolons, Marvel Midnight Suns (se você o considera um SRPG), uma grande expansão para o aclamado TROUBLESHOOTER: Abandoned Children e tantos outros. Mas Symphony of War: The Nephilim Saga roubou a cena para mim pelo seu fantástico sistema de combate.
Claramente inspirado por Ogre Battle com pitadas de Fire Emblem, Symphony of War consegue o impossível: fazer com que cada uma de suas tropas, especialmente em dificuldades mais altas, não só sejam cruciais para a vitória, como tenham a mesma importância que os “heróis” da história. Junte isso com animações e mapas bem desenvolvidos e você tem uma ótima receita para um SRPG. Ainda bem, pois só assim que eu consegui aguentar a sua história sem sal.
Chained Echoes
Chegando de forma sorrateira na reta final do ano, Chained Echoes pode parecer de início um “JRPG” feito para quem não gosta de “JRPG”, o que já faz muito fã do gênero torcer o nariz. O desenvolvedor Matthias Linda remove essa sensação já nas primeiras horas de uma jornada que vai ocupar boa parte de um mês dependendo do quanto você joga.
Da variedade de inimigos a um delicioso sistema de combate onde você tem que administrar quando atacar e se defender, de visuais estonteantes a uma história que — embora eu tivesse preferido com menos xingamentos à toa — ainda entrega uma aventura “clássica”, é um RPG essencial para você ter para aqueles momentos em que você só quer jogar algo confortável.
Total War: Warhammer III
Me questionei por dias se Total War: Warhammer III deveria ou não entrar nesta lista. Por um lado, é um jogo fantástico, por outro, é um jogo que divide a sensação de “inacabado” com Victoria 3. Seu principal atrativo para mim — Immortal Empires — ainda está em fase beta. Apesar disso, as incontáveis partidas que eu iniciei e não terminei ao longo do ano, os diferentes mods que eu testei e o fato dele ainda estar instalado é um indicador do quanto eu gosto dele.
Ainda que ele tenha dado um passo para frente e dois para trás quando foi lançado, a Creative Assembly vem trabalhando continuamente nele, e até então as grandes atualizações começaram a mostrar o verdadeiro potencial do jogo. Um potencial que eu não duvido que irá explodir em 2023 quando Immortal Empires sair da etapa beta. Além do que, jogar com os Skaven nunca, mas nunca vai deixar de ser divertido.
Beat Saber
Um dos poucos jogos dessa lista que não foi lançado em 2022, mas não posso deixar de incluí-lo pela simples razão de que ele mudou radicalmente a minha vida para melhor. Beat Saber me ajudou a reerguer em dias sombrios, me fez reconsiderar a dinâmica que eu tinha com o meu corpo e o que os dois últimos anos de pandemia causaram em mim.
O que era para ser um jogo “secundário” quando eu peguei meu Meta Quest 2 acabou fazendo com que eu demorasse a terminar Half Life: Alyx e deixasse tantos outros jogos de lado. Como disse antes, eu já investi mais de 200h nele e não me vejo parando tão cedo. Alguém aqui tem que rebolar para subir na tabela de liderança e esta pessoa sou eu.
Vault of the Void
Com a quantidade absurda de deckbuilders que saíram desde a explosão de “Slay the Spire”, é fácil deixar muitos passarem em branco. Vault of the Void é um que você não pode deixar passar. Com um loop de progressão afinadíssimo, excelente variedade de cartas, artefatos e inimigos, ele consegue transpor ideias complexas de maneira simples.
Não digo só de um ponto de vista de “é um jogo bem-produzido”. É um jogo bem-produzido com uma ótima base de sistemas que vão te incentivar a fazer mais uma run todo dia sem a necessidade de motivadores externos ou se apoiar demais em metaprogressão. De novo, um feito incrível, e um jogo que merece ter um reconhecimento muito maior do que ele teve.
Sephonie
Sephonie é, no mínimo, complicado de se explicar. Em partes ele é um jogo de plataforma que parece ter saído da era Dreamcast com seus controles experimentais — o que vai ser uma imensa barreira para muitos ou uma gigantesca frustração para outros. Em outros momentos ele é um jogo de quebra-cabeça onde você explora e cataloga a fauna de uma ilha enquanto você descobre mais sobre os cientistas que foram enviados para a missão.
Tudo isso é amarrado com uma trama intrigante, recheada de elementos que apresentam como nós nos vemos dentro de uma sociedade, as diferenças culturais e a interpretação que damos para eventos do cotidiano. Um dos jogos mais belos e trágicos da Analgesic Productions.
Dwarf Fortress
Dizer que eu comecei “Dwarf Fortress” em 2022 seria uma grande mentira. Eu comecei a jogá-lo por volta de 2011 e sofri muito para aprendê-lo. Agora que ele está disponível via Steam ou Itchio com uma nova interface visual e muitas melhorias para ajudar os iniciantes, é impossível não o colocar nesta lista.
O lançamento da nova versão colidiu com a melhoria na minha autoestima e depressão, o que foi a oportunidade perfeita para adentrar o maravilhoso mundo e as histórias que são geradas pela Bay12 Games. Dessa vez com menos dores de cabeça para aprender as mecânicas e menos cliques para fazer ações básicas.
Isso não me impediu, no entanto, de sem querer errar o estoque e colocar corpos do lado de barris de bebida, fazendo com que a bebida ficasse podre, meus anões irritados até que um ficou pelado e saiu batendo em todo mundo. Ah Dwarf Fortress, como eu amo você. E lembrando sempre, “Losing is fun!”.
Agora é com vocês, quais foram os seus jogos favoritos de 2022? Comenta aí!