Leio a lista de alterações da versão 1.4 de Imperator: Rome e já exalo aquele mesmo ar de desinteresse. “Então estamos fazendo isso de novo? Toda essa ‘dança’ de mudar mecânicas?”. Cobrir jogos da Paradox por um longo período de tempo – dez anos, para ser exato – te leva a dois possíveis resultados: apatia ou insanidade. Depois de algumas horas com a atualização e o DLC Magna Graecia, estou pendendo para a segunda opção.
Contrariando a muitos, não acho o jogo base de Imperator: Rome ruim. Um pouco sem “sabor” fora da península itálica? Até que sim, mas ainda um competente sucessor de Europa Universalis: Rome. Mas para a comunidade não era o suficiente; o sistema de “mana” (uso de pontos especiais para mudar a administração, resgatar novas tecnologias ou mudar religião) tem sido um ponto de tensão entre os jogadores e a Paradox desde Europa Universalis IV. As relações entre personagens de diferentes facções ou famílias podia ser controlado pelo jogador.
A desenvolvedora sueca, que não é boba nem nada (exceto quando se trata do custos dos seus DLCs), tenta suprir os desejos da comunidade. Uma decisão ótima para manter a longevidade do jogo, mas no momento é doloroso. O game está, como Stellaris em seu pós-lançamento, truncado. O que já foi mudado pelo agora diretor Peter Nicholson – que trabalha no game desde o final de 2019, no lugar de Johan Andersson – traz uma visão bem diferente dos planos originais, e o que falta ser mudado é um terrível choque de realidade.
Detesto abandonar partidas em jogos da Paradox; para mim eles são mais como um simulador do que pode dar certo ou errado do que estratégia em si. Ganho e perco batalhas, e não me importo muito com o resultado. Otimizo as nações mas não vou em busca de conquistas. Eu não consegui completar uma partida com o DLC Magna Graecia (Steam), lançado junto com a atualização 1.4.
Ironicamente, Magna Graecia é o tipo de DLC que eu julgo como “exemplar” da Paradox. Além de ser dispensável para quem não tem muito interesse em Imperator: Rome, ele se interliga muito bem com as melhorias trazidas pelo já implementado sistema de missões e o novo sistema religioso incluso na versão 1.4.
Começar com Esparta foi, como esperado, complexo. O país já tinha deixado para trás o brilho que teve no passado, sua economia estava em ruínas, e a tão aclamada “tradição militar” tinha pouco uso, dados os problemas de infraestrutura e o alto custo de manutenção dos exércitos. Sendo assim, o sistema de missões – todas muito bem trabalhadas, aliás – para ganhar cores em províncias que tinham mantimentos de que eu necessitava foi perfeito para dar os primeiros passos na campanha. Até eu fazer a minha primeira burrada, que foi aliar-me à Frígia .
Frígia tende a seguir dois caminhos em Imperator: Rome: expandir para o ocidente, englobando Atenas e outras províncias da região, ou expandir para o oriente e se desmanchar devido a atritos internos. Não sei se por conta da adição do sistema de missões ou do meu azar, assim que ela se tornou aliada, o seu processo de expansão para o ocidente começou.
Com pouco dinheiro em caixa e sedento por cores, chamei-a para me ajudar na conquista territorial, o que fez com que ela tomasse três províncias importantes para mim, dividindo a região onde fica Esparta no meio e posicionando exércitos que eram ao menos dez vezes mais fortes do que a minha mísera força de 20 mil unidades. Foi até bom, pois tinha problemas mais sérios para lidar – a deslealdade dos meus generais.
Desde a atualização 1.1, a Paradox fez severas mudanças a vários sistemas de Imperator: Rome para diminuir o uso exacerbado de “mana”. Um deles foi o da lealdade, que agora na versão 1.4 está ainda mais volátil. Os fatores que levaram a deslealdade dos generais vinham do cansaço e fome durante a guerra até a falta de salários por um mês. Quando um general atinge menos de 30% de lealdade, fazer voltá-lo para algo “negociável” é quase impossível. Tive de cortar recursos das cidades, cancelar construção de edifícios que me beneficiariam para comprar favores com os generais até que os seus exércitos se tornassem leais. Assim que isso aconteceu eu os tirei do poder e retomei o controle da situação.
De tudo que eu vi até então, o sistema de missões e o novo sistema de religião (mais sobre em breve) são talvez as adições mais frutíferas de Imperator: Rome. Muitos reclamaram no meu texto original de quanto eles não viram acontecimentos inesperados entre os personagens; espero que a partir de agora isso comece a se tornar mais frequente.
Mas, como falei, a Paradox ainda está no meio do processo de criar um “novo” Imperator: Rome; ninguém sabe quando vai ficar pronto, só que temos ao menos mais três grandes atualizações em 2020, sendo uma focada em cultura e outra na guerra. É de se esperar; esses sistemas estão tão obsoletos que o sistema de religião faz mais do que ambos juntos.
Agora que a Paradox alinhou a religião com o resto do sistema passivo de Imperator – e adicionou múltiplos deuses a um Panteão – eu me vejo pouco entusiasmado para investir em tecnologias medíocres ou me preocupar em que tipos de culturas estão presentes nas minhas cidades. A maioria das nações possui um ou mais deuses que dá bônus passivo suficiente — e ganham um “boost” caso você invista poderes administrativos — para você não ter que se estressar com possíveis revoltas. As que vi fora da partida de Esparta foram ocasionadas pela minha falta de atenção ao novo sistema de lealdade, nunca causadas pela diferença entre povos ou a qual classe social pertenciam.
Como a religião e a cultura são sistemas que ficam no topo da cadeia hierárquica de Imperator: Rome, os efeitos colaterais sentidos em mecânicas menores são devastadores. Para que eu vou me preocupar em gastar meus preciosos poderes administrativos em invenções sendo que uma religião já me dá metade do que eu quero – como a redução de 2,5% custo de manutenção de um exército? Menos preocupação com tecnologias militares significa menos necessidade de um certo tipo de população, o que leva a não inclusão de certos edifícios que até a versão 1.1 eram dados como essenciais. Rotas de mercadorias tornam-se obsoletas já que não ajudam mais o avanço da sua nação (salvo raros casos onde a produção de alimento é pouca ou quase nada, ou nações com um início que depende de RNG).
A maioria do tempo que eu passei com a versão 1.4 de Imperator: Rome foi esperando. Esperando para que uma trégua cessasse e eu pudesse atacar de novo, esperando para investir na lealdade das figuras políticas do país que eu controlava, ou esperando os cinco anos para ativar um novo “boost” na minha divindade preferida.
De pouco a pouco o castelo de cartas que segura Imperator: Rome cai; ele era uma máquina bem lubrificada no começo – apesar de muitos não gostarem dela – e agora ela parou de funcionar. Eu nem tenho anedotas engraçadas ou inesperadas da partida de Esparta (abandonada) ou de alguma coisa inusitada que vi; eu estou cansado.
Acompanhei dois processos de evolução: Stellaris – que com quatro anos de vida chegou a um ponto em que eu posso dizer “Vale a pena dar uma olhada” depois da expansão Federations — Hearts of Iron IV, com La Résistance. Não sei se vou aguentar mais três anos de Imperator: Rome.
Pode ser um pouco da situação mundial em que vivemos, pode ser que eu esteja cansado das artimanhas da Paradox, pode ser que eu prefira gastar meu tempo com Field of Glory: Empires. Mas é como se aquele ânimo de ler o próximo diário de desenvolvimento tivesse ido embora. Eu rio quando eu vejo um anúncio da equipe de Grand Strategy e penso “qual vai ser a próxima que eles vão inventar?”. Não era para ser assim. Quem mudou? Eu ou a Paradox? Ambos? Eu não tenho uma resposta para essa pergunta agora; só sei que estou cansado disso.
Às vezes acho que a comunidade pega um pouco pesado demais com algumas mudanças – temos visões diferentes sobre o design dos games, isso é normal. Mas aqui eu abro espaço para reconhecer e demonstrar gratidão por toda a pressão imposta em cima da Paradox para termos a opção de jogar versões anteriores dos jogos.
Ao menos eu posso voltar e jogar a versão 1.0, começar uma partida com o Bronze Age Mod, ou aproveitar que a nova versão do Aurora 4X (C#) foi lançada. Não espere tantos artigos sobre minhas presepadas no período após a queda de Alexandre o Grande. Dessa vez quem vai esperar uma atitude mais firme e correções mais diretas da Paradox sou eu; minha sanidade agradece.