Comércio no Europa Universalis IV é uma daquelas coisas que mistifica, intimida, e atrai em iguais termos. Muitos jogadores tomam uma atitude de “ignora e torce pelo melhor”, o que pode vir a ser um problema, especialmente com certas nações que são voltadas pra ele (Netherlands, Hansa, Venice, Genoa, Novgorod, etc). Mesmo fora delas, algo importante precisa ser lembrado: é a melhor e mais lucrativa maneira de ganhar ducats ao ponto de ser facilmente 80% do seu lucro mensal. Esse guia não vai te ensinar esse controle perfeito e poderosíssimo do dinheiro do jogo; te ensina a como não perder pelo menos a sua parcela justa dele. Ao contrário dos impostos e da produção, o comércio tem um grande atrativo: é quase completamente agnóstico à autonomia das suas províncias. Você lucra o mesmo na capital, ou do outro lado do mundo, se souber como.
Fisguei sua atenção? Ótimo. Vamos agora ao básico: Comércio em Europa Universalis IV, tem três componentes básicos: Produtos, Províncias, e Nodos Comerciais. Produtos, como qualquer jogador que já se familiarizou pelo menos com o básico sabe, são produzidos em todas as províncias colonizadas do jogo. Cada produto tem um valor, e o lucro anual que cada província gera é uma simples multiplicação de (quantidade produzida * valor do produto). Por exemplo, peixe em 1444, tem um valor de 2,5 ducats – assim, uma província que produz exatamente uma unidade de peixe gera 2,5 ducats por ano.
Uma explicação mais detalhada, que pode ser ignorada para quem realmente só está interessado nas mecânicas de comércio: uma província produz (0,2*Produção Base) em produtos, que por sua vez é multiplicada pelo valor do produto. Finalmente esse valor intermediário é multiplicado pelo percentual de eficiência de produção – com este valor final sendo o lucro anual de produção da província; o valor final não afeta em nada o comércio.
A importância que esses produtos têm para o comércio é que um valor equivalente em ducats é adicionado ao Nodo Comercial ao qual a província pertence. Toda província no mundo faz isso (com exceção de províncias produzindo ouro), e é desse valor que o lucro de Comércio é gerado. Essencialmente, o valor do comércio mundial é igual ao valor da produção mundial.
Diferentemente do valor de produção, que é simplesmente gerado mensalmente e vai direto para o seu tesouro, o comércio precisa ser expressamente colhido. Isentando jogadores que possuam o DLC Wealth of Nations, a província da sua capital e a província que é o seu porto principal sempre serão a mesma. Com o Wealth of Nations, isso também se aplica, mas o jogador pode pagar 200 pontos diplomáticos para mudar o porto principal para outra província. A importância do seu porto principal é que você automaticamente colhe os ducats presentes no Nodo Comercial ao qual a província que contém seu porto principal pertence. Por exemplo, o porto principal da França fica na capital, Paris; Paris pertence ao Nodo Comercial de Champagne; portanto, a França colhe ducats de comércio, automaticamente, em Champagne.
Até aí, provavelmente fácil de entender, certo? Agora as coisas começam a complicar, pois o comércio em Europa Universalis IV não é um valor estático. Todo país tem uma parcela de comércio em um nodo, e o dinheiro flui de nodo para nodo. A parcela do seu país é baseada no poder comercial que o seu país possui em um dado nodo.
Poder Comercial é, simplesmente, produzido por províncias. Quanto mais desenvolvidas, mais poder elas geram.Certas províncias possuem modificadores especiais. Os principais são Centros de Comércio e Estuários. Uma província com um centro de comércio ou um estuário produz uma quantidade significativa de poder comercial. Um centro de comércio por si só vale o poder comercial equivalente a várias províncias sem modificador algum. Um exemplo particularmente potente é a província de Londres; Ela possui ambos os modificadores de Centro de comércio Costeiro, e o estuário do rio Thames. É quase certo que, para controlar o comércio do nodo do Canal Inglês, você precisa controlar Londres — ou o país que tiver a província vai poder colher uma quantidade significativa dos ducats presentes lá.
A sua parcela de comércio é igual ao percentual do poder comercial que você possui no nodo. Caso controle 47 dos 100 pontos de poder comercial no nodo, então você controla 47% dos ducats no nodo. Se o nodo for o seu porto principal, então você automaticamente colhe esses 47% para o seu tesouro. Você não vai ganhar exatamente esses 47% pois existe um modificador chamado Eficiência Mercantil, e o lucro final recebido é multiplicado pela sua eficiência mercantil. O importante é saber que a sua eficiência mercantil afeta apenas os ducats que lhe cabem direito. Dessa informação, é simples deduzir que se você possui 100% do poder comercial em um nodo, então todos os ducats no nodo — ou o valor comercial, como o jogo chama — são seus para mandar direto para os cofres do seu tesouro.
Entretanto, há vários nodos, e apenas um deles contém o seu porto principal. O que acontece com o seu poder comercial em outros nodos? Bem, ele obviamente não é usado para colher Ducats. Se você não ordenar que um dos seus Mercadores colha no nodo, seu poder comercial é automaticamente usado para “empurrar” os ducats “rio abaixo”.
Os fluxos comerciais de Europa Universalis IV funcionam como um rio, e podem parecer complexos, mas não são. Basta abrir o mapa comercial durante o jogo e você vai ver flechas conectando nodos. As direções das flechas indicam que os ducats saem de um nodo, fluem “rio abaixo” na direção das flechas, e vão para o nodo que aquela flecha indica. Isto é fácil de ver em ação no node do canal inglês, ao norte você acha o nodo do Mar Norte, que tem uma flecha fluindo para o canal inglês. Isso significa que as nações que colhem no Mar Norte perdem parte dos ducats que ficam no nodo, que é automaticamente transferido para os nodos abaixo.
A Inglaterra colhe parte dos ducats que deveriam ser desses países, simplesmente por colher em um nodo mais distante na correnteza comercial. Esse tipo de transferência é relativamente automático. Por exemplo, parte do que é produzido na Rússia (nodo do Mar báltico) é transferido automaticamente para o nodo de Lübeck, e parte dos ducats de Lübeck são transferidos para o Canal Inglês… incluindo ducats que vieram do mar báltico. As nações que coletam nos nodos anteriores coletam parte desses ducats, mantendo-os no nodo, mas a Inglaterra terá a sua parte, queiram ou não estes países.
A conclusão disso é que a quantidade de ducats que realmente existe em um nodo está em constante fluxo, mas é altamente provável que, quanto mais próximo de um dos nodos finais — Canal Inglês, Veneza e Genoa — um nodo for, mais ducats se encontram neles, já que estão sendo alimentados por uma corrente com mais elos. Quanto mais “rio acima” um nodo for, mais pobre no geral será, ja que o dinheiro flui para fora deles e menos dinheiro flui para dentro deles. Por essa lógica, certos nodos “Iniciais” — como os grandes lagos, na África — são os mais pobres do mundo. Como o dinheiro é gerado lá e pode apenas fluir para fora, sem nenhum dinheiro fluir para dentro, sempre haverá menos ducats nesses nodos até do que há lucro de produção.
Como muitos nodos podem fluir para mais de um nodo, os mercadores se encontram com uma segunda função para ajudar a controlar o fluxo do dinheiro. Um mercador pode ser ordenado a um nodo não para colher, mas para direcionar o fluxo de ducats. Por mais que haja um fluxo automático de ducats, desde que tenha uma nação no nodo que possua poder comercial, e simultaneamente não colete ducats no nodo, são os mercadores que decidem para onde esse direcionamento é encaminhado.
Por exemplo, se a Inglaterra colocar um mercador no Mar Norte, ela pode decidir se os ducats no Mar Norte vão fluir para o canal inglês, ou para Lübeck. Sem um mercador inglês lá, a Inglaterra não influencia isso. Portanto, outro mercador de outra nação vai decidir o que acontece com os ducats lá, incluindo os ducats ostensivamente controlados pela Inglaterra. Em casos especiais de não existir nenhum mercador encarregado de direcionar o fluxo de nenhum país, os ducats fluem igualmente para todos os nodos abaixo. Vale reforçar que situações como estas são extremamente raras.
Um exemplo de direcionamento seriam os Países Baixos. Esse país também colhe no Canal inglês. Se você, jogando com a Inglaterra, não coloca um mercador no Mar Norte, mas os Países Baixos sim, eles farão o trabalho de empurrar ducats rio abaixo para o Canal.
Como a colheita de ducats no canal é decidida puramente pelo percentual de poder comercial de cada um, a Inglaterra colherá a sua parcela de todos os ducats no canal, incluindo os que vem do Mar Norte – mesmo que esses ducats tenham chego pela influência dos Países Baixos. No caso de tanto a Inglaterra quanto os Países Baixos empurrarem ducats para o canal inglês juntos, mais ducats estarão no canal inglês do que cada país em separado faria. Entretanto, a colheita de ducats no canal continua sendo puramente uma função do percentual de poder comercial de cada país no nodo.
É importanta ressaltar que a quantidade de ducats que os mercadores podem empurrar é simplesmente o seu percentual de poder comercial. Quanto maior o percentual, mais ducats você empurra e menos outros países empurram em outras direções. O mercador, em si, adiciona +2 de poder comercial a um nodo, mas este é um valor tão pequeno que pode ser fundamentalmente ignorado quando você decidir qual trabalho dar a ele em um nodo.
Dois efeitos ocorrem quando um mercador é ordenado ao colher ao invés de empurrar. O mais simples deles acontece caso envie um mercador para colher no mesmo nodo no qual está localizado seu porto principal. A única coisa que ele faz é adicionar 10% de eficiência comercial, ou seja, gerar 10% mais ducats. Entretanto, ao ordenar que ele colha ducats em um nodo que não é seu porto principal, o jogo automaticamente corta seu poder comercial naquele nodo pela metade. O seu mercador irá colher ducats baseado no seu percentual do novo poder comercial, exatamente da mesma forma que você colhe no seu porto principal.
Por conta deste efeito, colher fora do seu porto principal geralmente não é lucrativo, exceto em nodos excepcionalmente ricos ou em nodos que, apesar de não serem o seu principal, o seu país exerce um controle significativo. A França, por exemplo, geralmente controla uma parte grande do nodo em Genoa, então colher lá pode ser lucrativo, mesmo que porto principal seja em Champagne.
Imagine que você está em uma partida de Europa Universalis IV no controle dos Países Baixos. Sua capital (e porto), na Holanda, pertence ao Canal inglês, e o seu país controla 40% do poder comercial no canal. Atualmente todas as províncias no Canal Inglês (não importa a qual país pertençam) produzem, digamos, 200 ducats. Assim, você automaticamente colhe 80 ducats por mês. Digamos que um mercador da Grã-Bretanha empurra 40 ducats do Mar Norte para o Canal Inglês. Mesmo que você não tenha um mercador na mesma tarefa, colhe a sua parcela desses ducats entrando no Canal Inglês, um total de 16 ducats, independentemente de ter sido a grã-bretanha quem trouxe eles para o nodo.
Obviamente existem outras nações no Canal Inglês. Digamos que a Grã-Bretanha, em si, controle 55% do poder comercial no canal; um total de 132 ducats é colhido pelo país, mesmo que parte desse dinheiro tenha se originado nas suas províncias! A França, por controlar a Normandia, possui os outros 5% do Canal inglês. Como o porto deles é em Champagne e eles não se dignaram a colocar um mercador no Canal Inglês, esses 5% que supostamente são da França acabam divididos entre proporcionalmente você e a Inglaterra. É importante lembrar que ducats não podem ser perdidos. Uma vez dentro do nodo comercial, para algum lugar eles vão.
Você tem as seguintes opções para tentar aumentar o seu lucro comercial em Europa Universalis IV:
● Aumentar o seu poder comercial. Conquistar Londres, colocar barcos leves no nodo, construir mercados, ou desenvolver províncias (desenvolvimento requer o DLC Common Sense) eleva o poder comercial existente no nodo e o poder comercial pertencente a você. Consequentemente, aumenta a sua porcentagem do mesmo. Mercantilismo passivamente aumenta o poder comercial gerado por províncias, por isso é considerado um atributo importante.
● Trazer mais dinheiro para o nodo. No caso de controlar uma quantidade significativa de Champagne, pode ordenar um mercador a empurrar dinheiro de Champagne para o canal. Sem uma mudança na divisão de poder, 40% dos ducats que você empurrar para lá serão seus — mas é bom lembrar que a Grã-Bretanha vai abocanhar parte disso também.
● Coletar em um outro nodo. Tomemos como exemplo uma expansão forte em Malacca. As especiarias produzidas na região podem estar sob o seu controle. Caso possua poder comercial grande o suficiente, coletar lá — mesmo com a penalidade de poder comercial — pode ser maciçamente lucrativo. Ou talvez você consiga até mesmo justificar mover seu porto principal para Brunei. (relembrando: essa opção exige ter Wealth of Nations)
● Corsários. Corsários são uma adição um tanto complexa às mecânicas normais de comércio, mas vamos simplificar: Corsários roubarão um percentual de ducats de todas as nações em um nodo. Uma parte desses ducats é repassada para você, enquanto o resto “some” para a “nação” Corsária.
Porém, quanto maior o monopólio que uma nação específica possuir em um nodo, mais comércio os corsários conseguem roubar – e portanto um percentual maior é repassado para você. Um bom lugar para testar corsários seria em Veneza, já que a nação com o mesmo nome controla boa parte do comércio lá – e esse monopólio incentiva os seus piratas. (Corsários requerem El Dorado e/ou Wealth of Nations)
Como comentado, o comércio de Europa Universalis IV é de fato complexo. A dica final é: experimente, experimente e experimente. Não tenha medo em abandonar uma partida, iniciar uma só para fazer testes de comércio, aproveitar o uso de mercadores. Use datas personalizadas, veja o reflexo de decisões tomadas no controle de nodos e aplique isto na próxima partida.
Esperamos que o guia para o tenha ao menos ajudado a te dar uma melhor compreensão de como funciona o comércio em Europa Universalis IV. Não hesite em deixar seu comentário abaixo em caso de dúvidas. Em breve novos guias de Europa Universalis IV estarão disponíveis