Nunca fui muito fã de esportes. Cresci em uma família que tinha pouco interesse em futebol, as vezes assistia vôlei e só anos depois me mudei para uma casa com fanáticos em futebol. Por isso nunca adquiri um gosto por games do gênero, ao menos não aqueles que tentam fazer as coisas da maneira tradicional. Amo o peculiar, o inexplorado, o que não se prende às regras. Simuladores de Trens, de avião, barcos e mais recentemente, Golf for Workgroups. Que nem é um simulador, mas também não um jogo esportivo propriamente dito.
A desenvolvedora Cryptic Sea, encabeçada por Alex Austin, faz jus ao nome. Games como Sub Rosa e Golf For Workgroups dão mais ênfase na na interação entre as pessoas ali presentes do que o ambiente em si. É difícil de decifrar qual é o intuito dos jogos, que mais soam como pequenos experimentos.
Sub Rosa é o que eu posso considerar como um peculiar Sandbox. Já participei de corridas e de brigas entre facções onde havia uma constante tensão entre os jogadores para a entrega de um pacote de dado. Já até presenciei intensas perseguições com carros onde, aparentemente, uma facção traiu a outra e agora os jogadores estavam em sede de vingança.
O que mais me deixa intrigado nestes games é a estranha correlação entre mecânicas que superficialmente são designadas para um propósito, porém subvertidas para exaltar a presença de jogadores humanos.
Pegue um jogo de golfe tradicional, como The Golf Club, ou até um antigo PGA Tour da EA. Os rounds passam, cada um faz a sua jogada e espera o turno do próximo. Golf for Workgroups é diferente, diria até que um pouco ousado. Você quer jogar pelas regras do jogo? Ótimo. Você quer pegar um carro com um foguete e sair voando pelo mapa? Não tem problema também. Ele quebra o ritmo e o conceito do que temos do esporte e te transporta para uma dimensão paralela, uma onde os jogadores são robôs com cabeças de bule, armas, revólveres. Nove buracos, mapas bizarros, trilha sonora ausente. É isto que você tem para trabalhar em Golf for Workgroups.
Eu sou uma pessoa introvertida, em parte por problemas de depressão, ansiedade, baixa autoestima ao ponto de existirem dias que é quase impossível sair de casa. Jogos não são a melhor maneira de me conectar com o mundo externo, nem com os meus amigos — agora espalhados pelos diferentes estados onde já morei, ou outros países. Muitos deles requerem que você tenha sempre um propósito em mente, como uma partida de um shooter, com objetivos muito bem delimitados e sem um espaço para uma verdadeira interação.
Meu tempo com Golf for Workgroups foi divido entre conversar sobre a vida com quem eu gosto e realizar tacadas incrivelmente ruins. Ninguém ali estava ali com o propósito de ser o próximo Tiger Woods, só bater um papo e, sei lá, fazer competições bestas. Quase como uma extensão das minhas constantes tentativas de quebrar a barreira que me prende ao meu mundo de constante incerteza e medo de fazer essas mesmas coisas no mundo real.
Quando jogos anunciam um modo “coop”, é sempre comprimido a um conjunto de regras que devem ser seguidas para realmente aproveitar o que ele tem a oferecer. “Ah, vamos fazer uma partida coop de Payday 2, Lucas?”, me questionam pelo Twitter, discord ou outro Messenger que temos em 2017. Eu não quero, as vezes eu não quero completar objetivos, as vezes eu só quero sentar e conversar, fazer umas bobeiras e não ter que pensar muito.
Entra em um Lobby, sai de outro Lobby, você sente a fragilidade das amizades ali, do quão elas são importantes para mim, mas que eu nunca tenho coragem de ser sincero com elas, pois não dá tempo, é hora de outra partida. As vezes isso sufoca, sabe? Ter de dar o seu melhor para a próxima partida, ter que vencer, aumentar sua pontuação nas partidas ranqueadas. Sinceramente, acho que não ganhei nenhuma partida de Golf for Workgroups. No fundo eu não me importo.
Nem Minecraft e similares suprem a mesma necessidade de Golf For Workgroups, pois nos builders / survival / etc, sempre há um objetivo em comum para almejar. Eu não quero objetivos, mas também não quero me sentir isolado.
Você não precisa me dizer que Golf for Workgroups, de certa forma, perpetua o meu isolacionismo, mas este defeito não é causado pelo jogo, mas por mim. Isto não vai se resolver esta semana, nem este mês. Talvez este ano? Eu não sei. Apenas sei que o game da Crpytic Sea me faz estar mais próximo dos meus amigos.
E isso me deixa feliz.