Eu não sei se consigo mais distinguir se um jogo não é para mim, ou se só estou cansado da forma que ele é gerido, ou do gênero dele. Com o lançamento de Frozen Resolution para Phantasy Star Online 2: New Genesis (PSO2: New Genesis) no Steam e Xbox, decidi dar mais uma chance ao MMORPG da SEGA. Era para ser aquela atualização que todos esperavam: aquela que viria para dar mais “coerência” a um jogo cheio de problemas. Eu tinha as minhas suspeitas de que não seria a bênção que New Genesis precisa, mas a aceitei de braços abertos.
A minha primeira interação com ela, porém, não ocorreu interagindo diretamente com seu conteúdo, mas por meio de uma apresentação feita pela SEGA para divulgar a nova região e a atualização. A proposta era demonstrar algumas das tantas facetas do jogo. Por ser uma sessão a portas fechadas, era possível escolher em qual área focar. Eu optei por ver o que se desenrolava na quest principal, e não podia ter sido uma decisão melhor.
Pam, antes gerente de comunidade para o PSO2 original, agora é parte da equipe NGS Headline plus do Youtube, e foi quem me guiou por boa parte de duas horas. Primeiro apontando como chegar na nova região de Kvaris, denotando as novas ações que estão presentes em Aleio e Retem — como novos tipos de quests urgentes e ações que envolvem o uso de hoverboard — até começarmos o que até então aparentava ser um novo capítulo na história de New Genesis.
Se não fosse pela região gélida de Kvaris, eu chamaria a quest principal na sua atual conjuntura de “morna”, mas vai “congelante” mesmo. Enquanto Aleio ao menos tinha um tipo de estrutura e eventos ligados ao que acontecem no tutorial, os personagens de Kvaris, Ilma e seus irmãos, são mais miniguias turísticos para uma história que tem menos de duas horas e acaba em um cliffhanger.
Para não ser tão “negativo”, ao menos a equipe de New Genesis aprendeu a não matar quase todos os personagens em Frozen Resolution como ela fez no tutorial do jogo e acabar com uma meia dúzia de rostos com quem você só desenvolve uma relação depois de meses sem conteúdo.
Sem entrar demais no território de spoilers, Kvaris é uma região muito mais enraizada no que está acontecendo no mundo de New Genesis e começa dar algumas respostas sobre a presença de DOLLS – os principais antagonistas do MMORPG – na região e como ela supostamente mudou ao longo dos anos. Seria o alicerce perfeito para quests adicionais que dessem um pouco mais de contexto e incentivassem o jogador a explorar o mapa. E, como Aleio e Retem, a equipe pisa na bola.
Quando se exclui a história de PSO2: New Genesis, tudo que sobra é o “grind”. Novas armas, armas melhores, evolução dessas armas por meio de um número exponencialmente crescente de materiais, e as dezenas de “scratch tickets”, que funcionam como “lootboxes” e itens diários. Em outras palavras, os típicos componentes de um MMORPG free-to-play usados para prender quem ousar instalá-lo.
O deslize da equipe de New Genesis é não capitalizar nesse “grind” para ao menos dar algum incentivo extra — para o jogador passar horas e mais horas fazendo “urgent quests” ou “timed quests” — além de novos itens. Kvaris é uma região tão rica em verticalidade, em visuais e na forma como você navega nela, que a dissonância entre o pouco de história presente em Frozen Resolution e o restante de New Genesis é gritante.
Digo isso como alguém que, apesar dos pesares, gosta do grind. O sistema de combate – ainda mais agora com as novas habilidades vindas com a atualização – está cada vez mais prazeroso. Os novos inimigos adicionados oferecem um grau de desafio que até então era ausente de New Genesis.
Meu personagem principal, um gunner, tinha como principal ação simplesmente ficar “parado” em um local enquanto eu desferia uma rajada de balas nos inimigos para completar mais uma quest sem sal. Agora eu tenho que me posicionar melhor, prestar atenção nos padrões de ataque dos inimigos, e especialmente desviar para não ser massacrado por uma meia dúzia deles. São nesses momentos que eu sinto que a equipe de Phantasy Star Online 2: New Genesis ainda sabe o que está fazendo, ao menos em partes.
Mas no fim das contas eu continuo matando DOLLS por matar DOLLS. A “narrativa” provida por essas quests secundárias é no mínimo risível. Sempre é alguém em desespero dizendo que alguma parte do mapa está sendo atacada pelos monstros. Não elabora a importância do local para a população local, nem mesmo de um ponto de vista logístico. Não há nem uma pincelada de “nossos recursos estão escassos pois a rota ‘X’ foi fechada por DOLLS”. Para você ver como eu me contento com pouco, isso já seria mais do que justificativa suficiente para partir para cima dos inimigos.
Ao menos outros MMORPGs free-to-play, sejam eles Warframe — que alguns diriam ser mais um looter shooter que um RPG — ou Lost Ark tentam convencer o jogador de que o que ele está fazendo é de alguma forma importante. Aponto especialmente para Warframe, pois ele passou pelos mesmos “problemas” pelos quais PSO2: New Genesis está passando quando lançou a sua primeira área aberta. Me lembro que foi um gigantesco alvoroço para depois a comunidade ver que era só mais um mapa, mais uma desculpa para coletar materiais. Além do que, ele é o mais próximo em termos de combate quando o assunto é New Genesis.
Eu já não espero uma gigantesca revolução de New Genesis, ao menos não nessa altura quando os seus fundamentos estão tão bem estabelecidos, mas custa ao menos dar uma razão para eu me importar com o que eu estou fazendo?
O meu último login, feito alguns dias antes dessa matéria ir ao ar, me presenteou com dois novos itens cosméticos e me lembrou de que uma nova “campanha” está rolando para gastar mais dinheiro para emperiquitar o meu personagem. Respirei fundo e fechei a janela e fui completar as quests com tempo limitado.
Desliguei parte do meu cérebro e me joguei no combate, na chance de conseguir uma nova metralhadora que pudesse ser melhorada e coletar mais material. Notei a quantidade absurda de novos personagens que estavam presentes nos principais hubs de PSO2: New Genesis. “Bem, as pessoas estão dando uma chance para esse jogo depois que Frozen Resolution foi lançado”, comentei comigo mesmo.
Mas, essas pessoas ficarão até o final da jornada, ou irão notar que suas ações não têm nenhuma importância – nem mesmo em um contexto narrativo – para o mundo? Serão elas instigadas a gastar dinheiro na loja cosmética, sucumbindo aos prazeres de alterar o seu personagem, ou sentirão a mesma fadiga de ter que fazer as mesmas ações repetidamente até cansar?
Não posso responder pelos outros, mas no que diz respeito a mim, eu não sei se consigo voltar para New Genesis e batalhar pelo “direito” de ter uma nova arma ou armadura para aumentar a minha eficácia no combate. Seguir cronogramas apertados, entregar quests diárias e semanais em troca de míseras recompensas. O pior é que, se eu não fizer isto, eu talvez não possa ver o próximo capítulo de Frozen Resolution, pois meu personagem estará “fraco demais”. Que maldita sinuca de bico em que eu me meti.
Quiçá essa seja a principal questão de PSO2: New Genesis. Ele sempre está a um passo de acertar, ele sempre está no “quase”. Quase bom, quase divertido, quase que acerta a narrativa, quase que expande o que devia ter sido expandido desde o início. Todavia, ele nunca se propõe a de fato fazer uma autoanálise profunda e condensar os seus múltiplos sistemas e seus poucos fios narrativos em um tecido atraente.
Outra vez, há um esforço nesse sentido — vide as novas ações e quests em Aleio e Retem. A equipe está interessada em voltar para mapas anteriores e expandi-los, mas nunca em fornecer contexto. Isso dói no meu coração. Eu quero gostar mais de PSO2: New Genesis, eu quero apreciar mais o trabalho duro da equipe por trás da criação de armas e do mundo. Mas eu bato em parede atrás de parede, sempre me decepcionando com uma ou outra área do jogo.
Também sei que estou mentindo um pouco para mim mesmo. Sei muito bem que quando o próximo capítulo de Frozen Resolution sair, eu vou mais uma vez me jogar de cabeça e gastar umas boas horas melhorando o meu personagem e torcendo para que a história ao menos não siga o mesmo destino terrível das de Aleio e Retem. Quando isso vai acontecer? Eu não sei, e creio que nem a SEGA sabe. Só espero retornar para PSO2: New Genesis e ver que alguma coisa foi mudada no que diz respeito ao grind e como ele é apresentado ao jogador.
Alguma coisa tem que ser mudada se esse MMORPG quiser continuar a existir. Seria um final muito triste para uma franquia fantástica que por tantos anos fez parte da minha vida.