As duas últimas semanas foram marcadas por várias partidas de Europa Universalis IV; afinal, seu novo Immersion Pack focado na Grã-Bretanha – Rule Britannia – foi lançado (Steam). Após ficar decepcionado com Third Rome, me vi estranhamente atraído por esse novo Pack, que se revelou muito mais competente do que a tentativa anterior da Paradox. Mas, por que isso? A resposta, como sempre, não é simples, refletindo bastante as decisões de design por trás desses quase cinco anos de expansões, DLCs e atualizações.
A Grã-Bretanha permaneceu no holofote durante grande parte do período observado em Europa Universalis IV. Seja pela reforma protestante, a guerra dos 100 anos, a guerra dos 30 anos, a dominação mercantil ou a colonização. Consequentemente, a Paradox sempre fez questão de reforçar isso via mecânicas (foco em questões marítimas) ou agora com o Immersion Pack que traz missões exclusivas, novos eventos e tantas outras coisas que deixam a região mais “rica” de conteúdo. E podem existir trinta Cradles of Civilization – expansão focada no norte da África e Oriente Médio – que ainda não chegarão aos pés do que os principais países da Europa possuem.
A Rússia sempre foi um país conhecido pela sua vastidão geográfica e muitas vezes por sua impenetrabilidade durante períodos de guerra devido a questões climáticas, expansão territorial e doutrinas aplicadas pelo país que preveniam o inimigo de avançar, como por exemplo queimar plantações ou casas para dificultar a logística do inimigo. Por outro lado, as mecânicas de Europa Universalis IV a colocam (e os países que o antecederam, como Moscóvia) dentro de uma zona de influência relativamente limitada. É uma troca injusta, e necessária para que o já monstruoso escopo do jogo tenha alguma coerência.
Digo injusto porque não falamos de um jogo ambientado na idade do bronze, tampouco um que tenta replicar detalhadamente situações ocorridas há mais de 2000 anos atrás. O que não falta é conteúdo, eventos, decisões a serem contados para os países do leste europeu ou da região da China / Japão (e até esses já tiveram melhorias com Mandate of Heaven). Ao invés de compartimentalizar e tratar essas regiões como áreas com características e identidades próprias, ela tenta “adaptá-las” para um ponto de vista muito focado no que vemos como “ocidental”. Digo isso ciente que já foi muito pior no passado, quando Europa Universalis IV penalizava o jogador que não estava em um grupo tecnológico / sociocultural mais abrangente. Adivinha qual? Isso mesmo, ocidental.
Não é à toa que a maioria das novidades trazidas — inclusão de carvão como um recurso de “late-game” para demonstrar a transição para a revolução industrial, ou eventos de anglicanismo — por Rule Britannia são mais “identificáveis” por mim. É muito mais fácil eu ter conhecimento histórico de países como a Inglaterra ou Alemanha do que de um localizado no leste da Europa. Eu sei mais sobre a Revolução Industrial do que quem é o Czar fulano de tal.
Esse distanciamento é criado especialmente por Europa Universalis IV ao se focar em elementos que, inevitavelmente, conduzem para um estado de guerra, ao invés de incluir uma postura mais pessoal e intimista de Crusader Kings 2. Ironicamente, é essa questão que finalmente começa a ser trabalhada a partir de Rule Britannia. Junto com ela vem a atualização 1.25, que remove o antigo sistema de missões em favor de uma “árvore” que remete ao que a Paradox fez em Hearts of Iron IV – e assim fazendo com que o jogador tenha um papel dentro da narrativa.
E isso me traz a um ponto que precisa ser discutido sobre os jogos da Paradox: os mecanismos de entrega de objetivos. Sei que a questão deles não é “educar” o jogador sobre períodos históricos (não vejo isso como a responsabilidade de nenhum jogo, e quem se educa unicamente assim só sai perdendo), mas é preciso estabelecer uma certa conexão a um um acontecimento relevante em um país ou em uma região. Clicar em uma missão aleatória, como tipicamente acontecia antes dessa atualização, as deixava com um tom de “não-importante”, mesmo que um jogador experiente saiba da real relevância delas. O novo sistema traz esse cuidado de “informar” o jogador, e talvez possa ser a lição “fundamental” que tiro de Rule Britannia e da atualização 1.25.
Ao mesmo tempo me pergunto se esse sistema não chegou um pouco tarde demais. Claro, influencia todas as nações do jogo, mas não muda o fato de que expansões como Res Publica ou Mare Nostrum poderiam ter sido atualizações gratuitas, e o foco na Europa “ocidental” não vai se consertar magicamente. Third Rome continua decepcionante, em grande parte porque Europa Universalis IV ainda não conseguiu tornar a Rússia um país tão “cativante” de se jogar quanto a Inglaterra ou a França.
Eu sei, não dá para ter tudo o que se quer sempre e sinceramente eu estou feliz que Europa Universalis IV possa estar entrando em uma nova “era”, uma que troque a dominação constante por uma experiência guiada também pelas narrativas vindas um sistema de missões mais robusto. É tarde demais para pedir um “Waking The Tiger” (expansão de Hearts of Iron IV voltada para a China e outros países menores) para ele? O que é preciso para que a desenvolvedora olhe para trás e veja que algumas expansões precisam ser adaptadas para esse novo sistema e que, depois de jogarem seguro com Rule Britannia, possam sair da região e olhar com maior carinho e ver como dar identidade a uma nação? Considerando que eu não esperava estar escrevendo sobre Europa Universalis IV quase cinco anos após seu lançamento, talvez não seja tarde demais.
Resta saber se a Paradox concorda comigo.