Há dias que eu me sinto sobrecarregado com a quantidade de jogos táticos que são lançados; dezenas de mecânicas e cenários para aprender que cansa. A demo de “Burden of Command” da Green Tree Games LLC quase seguiu este caminho, mas a desenvolvedora está transformando um jogo que poderia muito bem ser de “nicho” em algo acessível, e merece a minha e a sua atenção.
Em desenvolvimento há anos e previsto para entrar em acesso antecipado no primeiro trimestre do ano que vem, “Burden of Command” traz uma premissa que pode soar simples em teoria, mas extremamente difícil de implementar: Como transmitir as dificuldades de um ambiente de guerra de forma inteligente e sem cair em estereótipos? A maioria dos jogos faz isso com um simples sistema de “moral” que define o quão preparada uma tropa está para o combate. A Green Tree Games vai além.
Nos cinco cenários disponíveis, o jogo apresenta não só um sistema de moral que é ditado pela movimentação das suas tropas, proximidade delas do inimigo e outros tantos fatores, mas também pela capacidade dos seus líderes em lidar com situações de altíssimo estresse.
O sistema é apresentado por meio de uma série de micro eventos que ocorrem durante um turno e requerem que o jogador decida o melhor, ou “menos pior” caminho a seguir. Há momentos em que uma das secções pode estar com receio de avançar e você vai ter que escolher entre ser rígido ou tentar explicar o motivo da sua decisão. Explicar pode fazer com que você não consiga movimentar os soldados no turno em que deseja, mas eles vão estar preparados para o próximo.
Este preparo resulta em mais chances de acertar o disparo no inimigo, ou menos custo para certas ações, menos chances de perder um soldado ou ganho de experiência. A demo já tem dezenas de variáveis de que imagino que só venham a crescer com a versão final do jogo.
Já para o combate em si, ele é bem similar a um dos meus jogos favoritos de 2023 – “Second Front”. Cada unidade tem um grau de moral e várias checagens são feitas antes de um soldado apertar o gatilho: Qual a posição do inimigo, qual a posição das suas tropas, qual o seu equipamento, eles estão em que tipo de terreno e por aí vai.
Só que, ao invés de “Second Front”, que tem uma interface pouco intuitiva, “Burden of Command” abraça um estilo visual bem mais atraente e fácil de compreender. Se o hex que os seus soldados estão situados está marcado como verde, então significa que a moral deles é boa e que há ao menos 50% de chance de acertarem o alvo. Esse valor é aumentado com os eventos narrativos que citei acima.
O resultado é um jogo dinâmico onde turnos, que poderiam muito bem ser maçantes, se tornam intensos e instigantes. Eu pensava e repensava qual o melhor caminho para as tropas, quais eventos vão surgir, ou se eu tomei a decisão correta em ser “grosso” com um dos meus soldados que reclamou que eu falo demais.
Em um gênero que sempre tenho receio de acabar estagnado – ainda mais com o uso contínuo de pontos de ação similares ao de XCOM (2013) – “Burden of Command” é uma boa lembrança de que ainda há desenvolvedores por aí mais do que dispostos a dar uma sacudida nas mecânicas.
Se você tem o menor interesse em Segunda Guerra Mundial ou quer ver um jogo tático com uma premissa diferente e mais ênfase narrativa durante o combate em si, eu recomendo e muito você fazer o download da demo o quanto antes.
Agora, só não venha reclamar se a sua tropa for aniquilada porque decidiu ser apressado ou achou que eles são apenas mais um grupo de soldados qualquer. Paciência e perspicácia é o que vence em “Burden of Command”.
Se a demo já me deixou empolgado desse jeito, mal posso esperar para a versão final.
Veja o trailer e mais imagens do game abaixo: