Dado o atual cenário global, eu evito jogos que lidam com temas de morte, por mais “simbólicos” ou superficiais que sejam. Foi com muita hesitação que eu comecei a jogar Death’s Door, lançado nesta terça-feira (20) pela Acid Nerve e a Devolver Digital.
Embora o jogo se apresente como parte boss rush, parte exploração como uma versão extremamente condensada de Zelda, o que me tocou mais nele foram as diferentes interpretações que ele dá para o ato de “morrer” em si.
Eu não gosto de falar sobre morte (entenda aqui que não é que eu não goste de matar alguns inimigos, aliás isso você vai fazer aos montes em Death’s Door). O assunto me incomoda por ser tão próximo de mim por variadas razões pessoais além do que já citei acima. Por conta disso que jogos como Spiritfarer e outros que tentam trazer algum tipo de “alegria” ou “alento” para essa passagem para um novo mundo não funcionaram comigo. Mas Death’s Door, Death’s Door funcionou até agora.
Para o protagonista, um simpático corvo, ceifar as almas de outras pessoas é uma tarefa do cotidiano. Para os seus “oponentes”, é um tema muito mais complicado. Até onde joguei, ele não quer que você se simpatize com os “vilões” – os principais chefões do jogo – apenas que entenda que alguns deles temem a morte, que as suas ações por mais perturbadoras que sejam, vem de um lugar de agonia.
Afinal, é normal temer a morte. Ninguém sabe o que está do outro lado. Cessaremos de existir? O nosso corpo “desliga”? Isso vai da interpretação de cada um. E Death’s Door trabalha com a leveza e a cuidado necessário sem fazer que o tema fique apenas no título, ou se fosse na década de 90 / começo dos anos 2000, em uma citação aleatória atrás da caixa do jogo.
Isso vem reforçado do incrível trabalho artístico da Acid Nerve em criar as áreas para cada chefão de um jeito que reflita parte dos medos, mas também incluir certas referências bem sutis ao universo do jogo em geral. Abro espaço aqui para apontar a fantástica iluminação e trilha sonora que dá um tom melancólico mas sem cair no exagero.
Agora, se você está interessado puramente na jogabilidade, Death’s Door sem dúvidas não deixa a bola cair. O combate é um dos mais precisos que vi de um jogo de ação isométrico – e não estou exagerando, as hitboxes são maravilhosas –, e embora não haja tanta variedade de ataques básicos, alguns itens e habilidades compensam isso. Não chego a chamar de um jogo “difícil”, mas terão áreas que irão testar os seus reflexos e sua esquiva.
O único ponto negativo que vi até então é o sistema de upgrades, que me soou um tanto supérfluo e uma tentativa de criar progressão desnecessária. Mas, como disse antes, isso pode mudar na nossa crítica final. Até lá eu irei me esbaldar um pouco mais nos belos cenários e nos interessantes personagens de Death’s Door.
A nossa crítica completa vai ao ar ainda esta semana, mas já deixo adiantado que se Death’s Door continuar no ritmo que está, é recomendação certa.