Eu não sei se vocês já perceberam – creio que os leitores mais afincos do site sim – mas de tempos em tempos eu fico obcecado com algum jogo pelo motivo mais aleatório possível. Às vezes porque ele me permite criar planilhas insanas, ou porque os visuais me agradaram horrores. No caso de “Crossover: Roll for Initiative” (Steam), a minha fixação em como o cenário de Tower Defense vem evoluindo nos últimos anos.
Entretanto, chamar “Crossover: Roll for Initiative” só de um tower defense é um gigantesco desserviço ao projeto da Gaterooze Ink que está atualmente em acesso antecipado. Ele é um híbrido de RPG, Match 3 e implementação mais peculiar de tower defense que vi em um bom tempo. Quais são as suas torres? Os atributos do seu personagem. Ok, é um pouco mais complexo do que isso.
“Crossover: Roll for Initiative” é o que eu chamo de um “Tower Defense com participação ativa do jogador. Pense em “Kingdom Rush”, mas levado ao extremo. Ele é igualmente um filho desse tipo de tower defense como busca inspiração nos jogos de RPG dos anos 80/90 para estabelecer a sua “história”.
A narrativa é que você é sugado para dentro de um computador e todos os seus livros de RPG agora ganham vida, e as suas aventuras e decisões são o que moldam o resto da campanha. No momento a versão de acesso antecipado só tem dois livros, com mais a caminho.
É no início de cada aventura que você estabelece a “classe” do seu personagem. Isso inclui que tipo de magia ele possui, quais são seus principais atributos (destreza, força, inteligência) e que equipamento ele pode utilizar. É um passo crucial para que o restante do jogo funcione.
A partir daí, você é levado para uma série de “missões” com escolhas que variam entre explorar uma caverna ou tentar a sorte contra um grupo de goblins. Caso acabe entrando em combate, é aí que o modo “Tower Defense” é ativado.
De um lado da tela você tem os seus atributos, equipamentos e itens, no outro, um conjunto de dados com diferentes cores. Cada cor equivale a um tipo de ação para o seu jogador. Quer causar dano com a sua espada? Combine dados da cor vermelha. Junte mais dinheiro para comprar poções com dados da cor amarela. Dados pretos podem ser usados como “neutros” dependendo da classe.
Ao mesmo tempo a ficha do seu personagem é invadida, atacada e você tem que escolher qual magia ou equipamento usar ao mesmo tempo em que encontra novos padrões de “Match 3”. Assumo que as minhas horas iniciais com “Crossover: Roll for Initiative” são um tanto visualmente sobrecarregadas. Diria que, são até confusas. Parte disso ocorre por conta do fraco tutorial, outra por você ainda não conhecer os pormenores de cada inimigo.
Eu não ficaria surpreso se muitos desistissem de jogá-lo antes mesmo de completar um pedaço da campanha. Ele é intenso do começo ao fim e, embora tenha um botão de “pausar”, você não pode modificar nada no tabuleiro. Mas para mim essa é a graça.
Imagine um inimigo atacando os seus pontos de inteligência e te impedindo de usar magias até a próxima rodada, ou comprar o equipamento certo e não ter a força para usá-lo? Alguns inimigos vão direto para seus pontos de vida – o único atributo que de fato acaba com uma run.
Mas são esses detalhes que a Gaterooze Ink cria que me deixam tão empolgado. Eu nunca sei como vai ser uma partida de “Crossover: Roll for Initiative”. Irei perder na primeira rodada? Terei a sorte no match 3? Qual classe escolher?
Até mesmo o sistema de metaprogressão – que infelizmente existe dentro do jogo – não chega a ser algo que me incomode. Você libera novos itens para as próximas runs da campanha ou o modo endless, mas nenhum deles te torna poderoso demais, apenas cria variedade – uma assustadora variedade de builds.
Até mesmo se você não gostar desse estilo proposto pela Gaterooze Ink, “Crossover: Roll for Initiative” tem um modo Tower Defense mais “tradicional”. No caso, cada dado é uma torre e você os alimenta com “munição” ao completar conjuntos no “Match 3”. Se atacar inimigos não foi suficiente, o modo é ainda mais intenso já que você não tem como contar com itens, poções ou magias.
Apesar de eu ter gostado tanto de “Crossover: Roll for Initiative”, creio que a Gaterooze Ink ainda tem um longo caminho pela frente. Os sistemas presentes no jogo são excelentes, mas não há muito diálogo entre eles. Houve momentos em que senti que uma hora o jogo queria ser mais um Match 3 com elementos de Tower Defense, outras vezes um Tower Defense com elementos de match 3.
A disposição do tabuleiro também não ajuda muito, com avisos importantes – como a próxima onda de inimigos – aparecendo no canto da tela e muitas vezes me fazendo perguntar o porquê de tantos inimigos. Em alguns módulos, como o módulo sci-fi, é difícil de enxergar os inimigos principalmente em ondas avançadas quando a sua atenção precisa ser dividida entre várias partes do mapa.
Acredito eu que essas são muitas questões de um jogo em acesso antecipado e que, com o tempo, vão ser corrigidas pela Gaterooze Ink. Eu adoro a intensidade que “Crossover: Roll for Initiative” proporciona e acho que ele tem ideias boas demais para aqueles que tem o mínimo de interesse em tower defense ou match 3 não testarem ao menos a demo.
Que anos, senhoras e senhores, para os fãs de Tower Defense. Muitos imaginavam que o gênero estava estagnado, mas, entre Terroformer TD, “Crossover: Roll for Initiative” e outros tantos que vi aparecerem nos últimos meses, eu diria que estamos mais do que na era de ouro. O gênero está tomando um novo formato e novas regras estão sendo implementadas. E, mal posso ver o que o futuro espera para todos esses jogos.
Até lá, vou sofrer mais um pouco – ou mais um tanto – tentando bater o meu recorde pessoal em “Crossover: Roll for Initiative”.