Possuo um grande respeito com desenvolvedores que conseguem transformar uma coisa tao mundana em algo divertido. Cart Life é mais um desses exemplos.
Tecnicamente, ele é um “simulador” de vendedores de rua. Entre diversas possibilidades, você pode por exemplo ser um dono de uma banca de jornal ou um vendedor de cachorro quente.
Toda a sua premissa é bem básica: Viva a vida de seu personagem, caminhe até sua loja e venda seus produtos. No fim do seu expediente, vá para casa ou passe em algum bar para tomar uma cerveja, comprar algumas coisas para comer, enfim…
Um dos personagens, por exemplo, é dono de uma banca de jornal. Você tem de colocar os jornais na banca, atender os consumidores, receber dinheiro e dar o troco. Tudo isso é feito por meio de minigames. Escreva as frases na tela para organizar os jornais. Responda a alternativa correta para qual produto que o consumidor pediu ou dê o troco a tempo antes que o cliente fique impaciente.
Com o dinheiro que ganha, o jogador tem a opção de melhorar o seu carrinho e adicionar novos itens à venda. São pequenas melhorias que não prejudicam e dão um motivo a mais para o jogador se esforçar a ser um bom vendedor. Outra coisa interessante é que cada personagem jogável trata o cliente de uma maneira, sendo alguns mais reservados e outros mais cativantes. Ao longo dos dias, você começa a conhecer seus clientes, seus gostos, a interagir com eles. É aí o grande trunfo de Cart Life.
Acima de um simulador de “vendedor”, é um simulador da vida. Não um “simulador” da vida como The Sims, onde todos tem o profundo desejo de fazer “oba-oba” quando bem entenderem, ou querem ser lideres mundiais. É algo mais pessoal, os seus clientes se tornam seus amigos, seu personagem começa a ter interações fora do trabalho.
“Eu queria apresentar aos jogadores personagens fictícios que não estão com muita sorte e tem algo a perder. Costumo admirar pessoas que superam tais situções.” – Richard Hofmeier
Creio que de muitos jogos que ja joguei, Cart Life é o que apresenta a maior quantidade de personagens “falhos”. Não de bugs, mas de personagens imperfeitos, com seus medos e suas falhas. Transparecendo suas personalidades dessa forma, eles se tornam mais humanos. Isso traz uma vida, uma sensação de realidade muito maior do que um grupo de NPCs com frases repetidas diversas vezes como visto em qualquer RPG da atualidade.
Sua história principalmente fala sobre a sobrevivência em uma sociedade moderna, onde nem todos têm a chance de nascerem ricos e são obrigados a morar em locais não muito agradáveis, contar as suas moedas para pagar o seu aluguel e manter os seus vícios. Queria muito poder comentar sobre alguns fatos que se passaram durante a trama, mas isso estragaria toda a surpresa. Se você joga pela história, pode ter certeza que Cart Life é um desses jogos
Sim, assim como os outros coadjuvantes, os protagonistas também têm suas falhas. Um deles é viciado em cigarro e precisa fumar uma quantidade específica por dia, algumas vezes chegando a segurar um pouco da fome dele. Foi a sua interação com outros personagens que descobrimos um pouco de seu passado, o que lhe fez chegar ao ponto onde se passa Cart Life, quais são suas aspirações e problemas, como qualquer pessoa.
Já outro tem uma filha que precisa cuidar e acabou de se divorciar, enquanto um terceiro precisa tomar muito café. Ambos também com histórias muito interessantes.
“Minha inspiração para Cart Life foi criar algo que tinha vontade de jogar e sabia que ninguém mais ia fazer” – Richard Hofmeier
Em relação à estética de Cart Life, possuo opiniões divididas. A mesma, similar ao que tínhamos na era 16bits se torna um pouco batida depois de muitos desenvolvedores indie a usarem. Compreendo que boa parte disso vem do fato de que é o melhor custo-benefício, mas cansa. De outro lado, os tons de cinza, a arte dos personagens e do cenário em si se casam muito bem com a mensagem que o jogo quer passar.
Houveram alguns problemas na parte técnica de Cart Life. Durante algumas das partidas, o jogo fechou do nada, assim como tive dificuldades para inicializá-lo a primeira vez. Nenhum progresso foi perdido, o que é algo muito bom levando em consideração a minha sorte com saves.
Outra coisa que incomoda é a constante mudança entre utilizar o mouse e o teclado. Como é de se esperar, utilizamos o teclado para movimentar nosso personagem, enquanto algumas interações são feitas com ambos. Quer comprar um item? Use o mouse. Quer conversar com uma pessoa? Volte a usar o teclado. Não que fique confuso, mas é algo cansativo.
Enquanto Proteus é mais ou menos uma jornada de “auto-conhecimento”, Cart Life é uma jornada sobre a sobrevivência e interação em uma sociedade moderna. É o primeiro jogo a fazer isso? Não. Enquanto existirem desenvolvedores corajosos o suficiente para acabar com essa típica mensagem de “vamos salvar o mundo” que existem nos jogos e tratarem de temas mais próximos ao nosso cotidiano, não os deixarei de apoiar.
Se vocês tem interesse em Cart Life, não se esqueçam, ele se encontra a venda no Steam por R$ 8,49, mais detalhes podem ser vistos aqui.
Enquanto escrevia essa review, Hofmeier contou que seu próximo jogo tem algo a ver com comida e que será lançado em breve. Que tal dar uma olhada em seu site oficial e conhecer um pouco mais sobre o desenvolvedor?