Eu tenho certeza de que você já ouviu a seguinte história antes: “Crie uma empresa, gerencie os seus funcionários, estabeleça linhas de produção, fique rico”! Muitos jogos prometem isso, mas poucos conseguem o que “Big Ambitions” (Steam) atingiu no seu primeiro dia em acesso antecipado.
Venho jogando o novo jogo da equipe de “Startup Company” há alguns dias e a cada minuto e cada nova mecânica que me é apresentada eu fico boquiaberto em como tudo se integra tão bem.
Você começa a história (caso não decida pular o tutorial – altamente não recomendável) como um “zé ninguém”, com um tio que te dá um “dinheirinho” para alugar o seu primeiro apartamento, e depois te indica para um trabalho em um supermercado. Estes passos servem para acostumar o jogador com o mundo, mostrar como navegá-lo e como fazer tarefas “diárias”, por assim dizer. Essas tarefas “diárias” envolvem comprar comida, ir para o seu apartamento descansar, chegar pontualmente no trabalho e fazer o seu turno até o final. Pode soar “entediante”, mas não é.
O grande diferencial de “Big Ambitions” é que você não simplesmente teleporta de um lugar para o outro, mas sim tem que andar pela cidade, esperar o sinal fechar para atravessar uma rua. A intensidade do tráfego altera de acordo com a hora do dia e cada loja presente no game tem um horário de funcionamento. Reiterando, isso é apenas o primeiro dia de acesso antecipado, o que já é impressionante.
Mais impressionante ainda é que “Big Ambitions” não foge de temas como nepotismo e a facilidade de “obter dinheiro” quando se tem contatos. Seu personagem não é uma pessoa “talentosa”, mas sim alguém que tem um tio rico que te empresta dinheiro quando as coisas vão por água abaixo. Claro que em dado momento do jogo ele para de te ajudar financeiramente, mas a Hovgaard Games poderia ter escolhido uma rota muito mais “sanitizada” de que você conseguiu guardar dinheiro suficiente para abrir o seu próprio negócio – uma oportunidade cada vez mais rara em um mundo capitalista.
Quando se trata de abrir o seu próprio negócio é que “Big Ambitions” mostra sua verdadeira cara. A primeira loja que eu abri era especializada em vender presentes. Mas, tudo o que eu tinha no começo era apenas uma sala de 75m² sem nada. Era o meu personagem que tinha que ir atrás de comprar os móveis, colocar no carro (também “dado de presente” pelo seu tio), levar até a loja e posicioná-los da maneira que eu achasse mais atraente.
O grau de personalização de “Big Ambitions” é impressionante. Eu mudei o layout da minha loja várias vezes para acomodar novas prateleiras e aumentar a renda com presentes de melhor qualidade, e o jogo levava em conta todos esses elementos. Até mesmo itens decorativos são levados em consideração para o sucesso da loja.
E isso é apenas a ponta do iceberg quando se trata do jogo.
Por exemplo, ao decidir abrir uma segunda loja, você tem que levar em consideração quantos competidores estão presentes na região, a demanda por certos tipos de produtos e quanto eles estão custando no mercado. Às vezes vale mais a pena abrir uma cafeteria em uma área com apenas 2 competidores do que em uma região lotada delas e tentar lucrar vendendo o mais barato possível.
“Big Ambitions” fica ainda mais “complexo” com a camada avançada — tanto pessoal quanto administrativa. À medida que você avança, novos tipos de lojas ficam disponíveis, você começa a ter que lidar com empresas que entregam os produtos diretamente para as suas lojas, administrar funcionários, seus salários, horários de funcionamento. Dependendo da loja, pode ser necessário até alugar um armazém e contratar caminhões de entrega. Além disso tudo, você ainda pode personalizar seu apartamento como bem entender (com ferramentas fáceis de usar), comprar novos móveis e garantir o bem-estar do seu personagem. Afinal, ele é humano, precisa descansar e também envelhece – assim tendo menos energia ao longo do tempo.
Quando eu atingi a camada “avançada” que eu notei que algumas das ambições de “Big Ambitions”, são no momento, um pouco ambiciosas demais.
Vamos dizer que eu tenho uma loja de roupas, uma cafeteria e uma loja de presentes. Por não ser uma grande cadeia como um supermercado que recebe os produtos diretamente do fabricante, o meu personagem é que tem que repor o estoque pessoalmente. Ou seja, ir até um armazém, pegar os produtos, colocá-los em uma empilhadeira, levá-los até um caminhão e depois fazer paradas em cada uma das lojas. Os controles de veículos ainda estão muito longe de serem refinados, com isso o processo todo acaba levando muito mais tempo do que deveria, e eventualmente um deslize pode significar uma perda gigantesca no seu lucro do dia. Dependendo da quantidade de lojas, pode resultar até mesmo em falência.
Algumas pessoas poderão achar esse elemento fantástico; eu, no momento, acho maçante. Compreendo o ângulo que a Hovgaard Games está usando: “Se você quer que o seu negócio funcione, você tem que fazer a sua parte”; e eu sei que isso pode soar conflitante com o nepotismo apresentado no tutorial, mas ainda é melhor do que ignorá-lo. Todavia, no momento, acredito que essas ferramentas podem ser melhoradas ou até certo ponto automatizadas para pequenos negócios, ou para pessoas que planejam ter uma cadeia de restaurantes e não uma cadeia de supermercados.
Isso sem levar em conta o bem-estar do meu personagem, que demandava cada vez mais atenção de mim. Chegou em um ponto em que eu pensei “Se meu personagem chegar aos 40 com esse nível de stress na vida, vai ser um milagre”. Mas, bem, eu administro um site praticamente sozinho e estou quase com 35 anos e cá estou escrevendo uma matéria, então nada é impossível.
Outro ponto que precisa ser levado em consideração é a interface do jogo, que em certas áreas é fantástica, e em outras carece ainda de muita atenção. Administrar seus funcionários e o horário de funcionamento das lojas é simples e intuitivo. Fazer compras para a sua geladeira, nem tanto.
O maior problema nem é a ausência de ícones, mas sim a descrição dos itens que estão no seu carrinho. É claro que ao longo do período de acesso antecipado isso será mudado, mas é muito fácil se “perder” dentro de uma loja, ou até comprar o item errado — já que uma geladeira de um supermercado que vende produtos frescos é idêntica a geladeira que vende produtos congelados. Eu já me perco em supermercados grandes demais na vida real, gostaria de não ter que passar pelo perrengue em um jogo.
Eu não tenho sombra de dúvidas que tudo que eu listei neste artigo será corrigido mais cedo ou mais tarde. Novos negócios serão incluídos, e eu sei que a Hovgaard Games planeja expandir o loop de gameplay e trazer ainda mais conteúdo no suposto período de um ano que o jogo ficará em acesso antecipado.
Como disse no começo do texto, “Big Ambitions” segue uma linha de tantos outros jogos que prometem o mundo. Mas, dessa vez, pode ser que ele de fato entregue. São raríssimas as vezes que eu vejo um jogo em acesso antecipado começar com o pé direito como ele.
Ainda tenho muito o que desvendar sobre ele, aprender mais das suas mecânicas e ver o que mais eu consigo extrair. Isso sem contar o modo “sandbox” que te dá liberdade total de fazer o que bem entender. Esse eu nem toquei, por medo de cair em um buraco sem fim e não conseguir finalizar esse artigo. Se tudo correr como eu imagino, esse jogo vai longe, muito, mas muito longe.