Você não tem ideia o tamanho do meu asco por jogos de zumbi. Zumbis em jogos são, na minha cabeça, correlacionados com tédio. Você mata hordas sem pensar muito, tem algum desafio quando se tem mais de três jogadores mas ainda fica aquele gosto de “poderia ser um tanto mais”. A trilogia Zombie Army entra nessa categoria com facilidade. Isso até Zombie Army 4: Dead War (PC / Xbox One / PlayStation 4) me apresentar a uma Rebellion muito diferente da que vi nos últimos anos.
Para mim, tanto essa franquia como Sniper Elite 4 estavam “mortas”. Falta de inovação, mecânicas defasadas e uma sensação de que eu fazia ações repetitivas sem uma clara motivação. Zombie Army 4 quebra esse ciclo ao pegar ideias de um título pouco comentado da Rebellion – Strange Brigade. Apesar do fracasso crítico e comercial, a mudança temática para aventuras dos anos 30 fez com que a Rebellion revisse o uso de armas de curto e médio alcance — que causavam mais impacto e menos coice — e o dinamismo dos mapas para abordar diferentes estilos de jogadores, uso de armadilhas e de dano baseado em elementos como fogo e eletricidade. Zombie Army 4 ainda tem parte do seu DNA intacto, mas a diferença que Strange Brigade fez no seu processo de desenvolvimento é notável.
Até o terceiro Zombie Army o jogador era “obrigado” a usar o rifle de franco-atirador. Outras armas, como submetralhadoras e pistolas, serviam como um “último recurso”. Eram imprecisas, irritantes de se usar e causavam pouco dano nos inimigos. Os mapas eram claustrofóbicos e com pouca diversidade de objetivos.
Tendo esse pré-conceito tão inserido na minha personalidade, eu esperava o mesmo de Zombie Army 4, só que mais bonito. Afinal, essa tende a ser a progressão de jogos “AA” ou “AAA” nessa indústria. Fiquei boquiaberto ao ver que o rifle ainda era útil, mas eu não precisava mais usar a mira telescópica ou sequer usá-lo de maneira geral. Houve missões em que eu me senti mais à vontade em usar rifles; já em outras dependia mais da minha submetralhadora, ou até arriscava o uso da pistola como um desafio pessoal para ver se era capaz de completar a missão sem morrer.
O ato de matar zumbis permanece o mesmo, e para alguns vai ser entediante independente de como eles surgirem. Mas a Rebellion expande o “arsenal” do oponente com zumbis especiais que quebram o molde que até então muitas empresas vinham copiando de Left 4 Dead. Você ainda tem os seus “tanks” ou suas “witches”, mas a desenvolvedora vai além com zumbis-generais capazes de aumentar a velocidade de seus companheiros, outros que te envenenam, zumbis com lança-chamas, zumbis franco-atiradores — e a lista vai longe, muito mais longe do que sequer pensei possível.
Para comportar tamanhas modificações, as missões ficam mais amplas e verticalizadas. Quem quiser jogar sozinho – como fiz por boa parte da campanha – precisará ter uma ótima noção de posicionamento para preparar armadilhas no calor do momento. Uma das minhas fases preferidas foi “Meat Locker”, uma região bem aberta — e bem parecida com os mapas que vi em Strange Brigade — que conta com halftracks e tanques zumbis (eu sei, soa absurdo, mas acredita, funciona) onde eu corria de um lado para o outro na tentativa de não ser encurralado por zumbis.
Nessa missão eu me escorei bastante na minha Nagant com munições explosivas; quando a quantidade de zumbis triplicou, eu me desesperei e troquei para a minha STG-44 e seu poder devastador. Os momentos finais culminaram em uma batalha contra um tanque-zumbi onde tinha à minha disposição lança-mísseis e artilharia pesada. Chego a ficar ansioso só de pensar os quão baixos os meus pontos de vida estavam naquele momento. Se eu não tivesse executado um inimigo – habilidade especial que recupera parte da vida – eu teria virado picadinho. Mas essa não seria a última vez que eu enfrentaria o tanque-zumbi de Meat Locker.
Uma das maiores adições em Zombie Army 4 é um novo sistema de meta progressão, habilidades passivas e perks. Eu odeio tais sistemas em shooters – eles têm a tendência de serem desnecessários e agregar pouco para a visão geral do jogo. A Rebellion, no entanto, as implementa tão bem que subir de nível ou completar desafios é algo natural. Cada personagem tem seus prós e contras; Shola têm maior afinidade com armadilhas enquanto Karl – o famoso protagonista de Sniper Elite – se dá melhor com rifles. Entretanto, Shola toma mais dano de metralhadoras enquanto a regeneração de vida de Karl praticamente não existe.
Com eles dois sendo os meus personagens favoritos, eu usei pistolas e ganhei perk para carregar mais munições. Kits de upgrades transformaram meus rifles em máquinas de destruição com disparos incendiários, elétricos ou explosivos. Aumentei a minha stamina para poder correr dos zumbis ou carregar armas pesadas – como metralhadoras ou lança-mísseis — que encontrava no mapa.
Foi por conta desses sistemas que refiz a Meat Locker na dificuldade média, depois difícil, depois difícil mas com a quantidade de zumbis configurada para 2 jogadores, depois 3 jogadores, depois quatro jogadores. A última foi uma suadeira só, nem sei como consegui. O que importa é que eu ganhei uma singela medalha de ouro pela minha pontuação alta, precisão, e o multiplicador de combo que alcancei.
Eu adoro sistemas de pontuação, adoro mesmo. Céus, eu já falei inúmeras vezes que Nex Machina ainda está instalado no meu PC pois um dia — um dia — eu vou bater a pontuação daquela maldita pessoa que está na minha frente e finalmente chegar no top 500. Até a esteira da minha academia tem uma tabela de pontuação por aluno e eu tenho treinado para correr por mais tempo e aumentar a minha resistência (calma, eu tenho acompanhamento médico e de um profissional de educação física). Não é à toa que o sistema de combos de Zombie Army 4 ressoou tão bem comigo. Cause danos críticos e você aumenta a sua pontuação, saiba como e quando usar certos tipos de armadilhas e você continuará a criar combos e mais combos — alimentando não só o seu ego, mas a pontuação que é gerada em cada missão.
Completar as missões trazia aquela sensação de dever cumprido, de que eu tinha tirado uma medalha de ouro pela minha perspicácia e posicionamento no mapa. Isso sem contar naquele afago que dá ao ver o seu nível de experiência subir. E se você por algum momento pensou que eu tive ajuda de outras pessoas, pode tirar o cavalinho da chuva; eu joguei Zombie Army 4 sozinho e ainda foi fantástico. Em parte pela Rebellion não enfiar IA nas missões e – como mencionei acima – permitir que eu ajuste a dificuldade para um ou quatro jogadores. Se World War Z tivesse feito o mesmo eu teria gostado muito mais do jogo. Por mais opções de dificuldades para jogadores solo, por favor.
No momento em que termino essa análise, já tenho quatro “loadouts” específicas que são usadas em mapas específicos e ainda tenho muitos planos para mudá-las e refiná-las. Novas missões devem sair pelo passe de temporada e eu tenho certeza de que vou cair de cabeça nelas.
O que eu não vou cair de cabeça é no modo horda. A adição vista pela primeira vez em Sniper Elite Trilogy ainda luta para justificar a sua existência. É uma das poucas áreas de Zombie Army 4 em que eu vejo resquícios da antiga Rebellion. Os mapas são claustrofóbicos demais para o meu gosto, e mais parecem uma extensão medíocre da campanha. Você troca toda a tática e posicionamento para matança desenfreada, naquela pegada que me fez desgostar tanto tempo de jogos de zumbis. Queria que ao menos ela investisse um pouco mais para criar nem que fosse um sistema de construção a là Gears of War.
Mas quando olho para o panorama geral, isso é uma gota (de sangue) perto das incríveis melhorias em Zombie Army 4. Por curiosidade eu reinstalei a trilogia Zombie Army só para ver qual seria a minha reação. A melhor forma de descrever foi uma mistura de susto com “é sério que eu perdi tempo com isso? Não é possível, eu devia estar muito entediado”.
Zombie Army 4 não me deixou entediado, ele me deixou com ainda mais vontade de jogá-lo. Quero ver até que ponto eu consigo elevar a minha pontuação, estourar cabeças de zumbis, e até cogito procurar todos os colecionáveis que faltam. Quem diria, eu, alguém que não se importa com colecionáveis, indo atrás deles! Esse foi tamanho o impacto que Zombie Army 4 teve em mim. Acho melhor começar a repensar a minha ideia sobre jogos de zumbis.
Zombie Army 4 - Dead War
Total - 9
9
Zombie Army 4 Dead War revitaliza uma série que estava morta (sem trocadilhos) para mim com novas mecânicas, fases mais bem estruturadas e um sistema de meta progressão que é implementado com naturalidade. A Rebellion pode ter demorado três jogos, mas com uma bela de uma ajuda da sua experiência com Strange Brigade, começou a se soltar das amarras que prendiam a matança de zumbis às mecânicas de Sniper Elite. Se continuar assim, mal posso esperar para ver o que vem em seguida.