Uma passagem da Bíblia é o que antecipa o Apocalipse na cidade de Londres, onde você, como um dos pouquíssimos sobreviventes, começa sua aventura sem saber direito qual caminho seguir para se livrar de uma ameaça imediata. Após muita correria e pensamento rápido que você tem tempo de respirar e perceber que já está imerso no universo de Zombi, o survival movido a terror e ação da Ubisoft, recém lançado para PC, Xbox One e PlayStation 4.
A jogabilidade vai se revelando aos poucos, com novas funções sendo introduzidas exatamente no momento em que as mesmas são necessárias para a progressão do jogo, através de sugestões sobre qual tecla deve ser apertada naquela situação. Assim, não há chance de argumentar quanto a dificuldade de aprendizado do jogo.
Ao se tratar das funções básicas, tudo é muito simples: Movimentação padrão que qualquer pessoa com uma semana jogando no computador já domina, uma tecla de ação que funciona para quase tudo, aos mesmos moldes de Half Life. A configuração das mesmas é agradável e a Ubisoft soube usar um layout confortável, algo que nem sempre é visto em ports de console.
Entretanto, tamanha simplicidade pode ser vista negativamente por aqueles mais exigentes. Não é possível pular ou abaixar a qualquer momento, somente em interações definidas. Sistemas de cover ou lean também não estão incluídos.
A inclusão deles, porém,não adicionaria nada a experiência. Zombi é um jogo que parece ser criado com um uma base a qual o aprendizado tem de ser rápido. A complexidade não contribuiria para esse objetivo. Portanto, o título em questão faz muito bem ao suprimir esses excessos.
O que mais vem à tona são os traços característicos da Ubisoft, como a necessidade de fazer alguma coisa para que o mini mapa seja habilitado nas redondezas, como as famosas torres já consagradas na franquia Assassin’s Creed. O mesmo foi aplicado aqui, dessa vez com mais ênfase no arsenal tecnológico que você tem ao seu lado. Seu controle de território é possível através das câmeras de segurança espalhadas pela distópica capital inglesa retratada em Zombi. Só não se esqueça de vasculhar as imediações através do radar para evitar surpresas desagradáveis, falamos por experiência própria.
Os toques de terror desse jogo são mais visíveis no combate. Os conflitos corpo a corpo são intensos na medida certa, os sustos constantes e a escassez de recursos é perturbadora. Tudo isso num ambiente propositalmente mais escuro que a média. Apenas isso já seria suficiente para verificar o que queremos dizer, mas a cereja no topo do bolo é o fato de que a morte é um conceito extremamente punitivo no título.
Caso os zumbis levem a melhor, aquele personagem se vai para sempre e você renasce como um novo sobrevivente, completamente desprovido de todos aqueles itens que viriam muito bem a calhar no momento do seu respawn, forçando o jogador a encontrar o corpo que acabou de bater as botas para reivindicar seus pertences. Isso se sua insanidade não escolheu o modo survival, onde a morte é permanente, sem as convenientes reencarnações supracitadas.
Pode soar como algo frustrante, mas Zombi sempre se mostrou relativamente misericordioso nos momentos que tinha de recuperar meu equipamento. Uma quantidade inferior de zumbis, menores chances de perder tudo. Ainda assim, a pressão psicológica do momento é o suficiente para deixar sempre em alerta.
É uma pena as mecânicas brilharem de verdade quando se está próximo ao final. As primeiras horas limitam um pouco demais o que o jogador pode ou não fazer. Há um constante impulso para seguir por caminhos “lineares” e poucas oportunidades para serem criativos. Parte disso está diretamente ligada as mecânicas de morte. De início, uma experiência menos punitiva e com maiores oportunidades de se acomodar ao estilo de jogo, para aí então a “verdadeira ação” começar.
Esta inconsistência na cadência — outro traço bem comum nos games da Ubisoft — poderia ter sido melhorada, com a fase de “adaptação” reduzida, mais cenários para que o jogador planeje táticas e consiga aplicar as suas soluções aos problemas ali apresentados.
O título peca nos quesitos técnicos, principalmente visual. Para aqueles que têm complexo de entrar no jogo pela primeira vez e achar que o botão de opções é mais importante que o de iniciar um novo save, temos uma surpresa desagradável. Não adianta procurar pois não está escondido. O menu de opções avançadas de vídeo foi deixado de fora na construção do game. Os gráficos são aquilo e não há nada que possa ser feito para muda-los.
Antes de perder a linha, vale lembrar que Zombi é lançamento, mas apenas para PC. O jogo na verdade é um port do WiiU para o computador e só a existência de uma versão jogável no Steam já é motivo para comemoração. Mesmo assim, não é como se algumas opções a mais fossem desagradar. Correções em bugs como aqueles facilmente encontráveis ao gerenciar o inventário ou nas ragdolls dos zumbis também ajudariam consideravelmente nesse quesito.
Isso se agrava quando comparados com as versões para console, que apesar de rodarem em uma taxa de quadros inferior, oferecem uma experiencia menos problemática. Torço para que a Ubisoft dê um jeito em alguns desses bugs em futuras atualizações.
Apesar de não ser o jogo mais bem polido existente, Zombi tem seu lugar no mercado. Seu papel consiste em proporcionar algumas boas horas de uma jogabilidade recheada de suspense, ação e que de quebra ainda exercita seu instinto de sobrevivência. Se você quer descontar a raiva e não se assusta tão fácil assim ou apenas quer dar um tempo daquele único jogo que fica aberto o dia inteiro, eis aí uma excelente recomendação, que está muito em conta, por sinal.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Ubisoft