A primeira coisa ao começar Yooka-Laylee foi virar para alguém e falar “Meu deus, eles estão usando aquelas vozes irritantes” e ela me responder “Ah, eu gosto delas”. Para a minha surpresa, dessa vez não foi tão incômodo quanto pensei. O que a nostalgia não faz, não é?
O sentimento é um monstro difícil de se lutar contra, principalmente para quem cresceu na geração a qual Yooka-Laylee tanto se inspira. De corpo e alma ele se entrega em ser um Collectathon, a maior ameaça àqueles que não podem deixar um item para trás.
Para o bem ou para o mal ele carrega consigo todas as vantagens e desvantagens do gênero. A história é meio sem sal, alguns personagens são levemente memoráveis, você vai em grande parte do tempo desligar o cérebro e fazer o que te der vontade. E lá vamos nós, coleta uma peninha ali, coleta uma peninha acolá, pega um poderzinho, faz um quebra-cabeça simples, pega uma página de livro para liberar uma nova área, etc.
Nos primeiros minutos a nostalgia bate forte, vem aquela sensação de “Nossa, é igual aquele jogo que eu jogava quando criança, só que com X ou Y diferente”. “Só que” é a palavra chave de Yooka-Laylee e possivelmente a que mais usei para descrevê-lo enquanto jogava.
As fases são legais? São parecidas com as do Banjo Kazooie, só que meio vazias, desconectadas e parecem que foram construídas separadamente e depois unidas. Falta uma coesão, sabe? Ah, mas as transformações alteram bastante a jogabilidade? Olha, até altera, só que eu não vi nada demais nelas, aliás eu nem lembro direito quais são. Mas, e os personagens, me conta? São divertidinhos, parecem com os do Banjoo Tooie só que sem aquele carisma todo.
Aqui que prevalece o grande problema de Yooka-Laylee, a tentativa não de resgatar o passado, mas de recriá-lo ao mesmo ritmo. Não vai ser hoje, nem este ano, que vamos parar de ter homenagens ou jogos que se inspiraram no passado para estabelecer seu design. Entretanto, grande parte deles consegue se desprender de forma ou outra de sua “musa inspiradora” e seguir a sua própria trajetória.
Com algumas horas de jogo você começa a sentir que as batidas de Yooka-Laylee são as mesmas de Banjo-Kazooie, Banjo-Tooie, Spyro, etc, só que mais fracas. É como se uma grande sombra pairasse sobre ele a todo o tempo com os dizeres: “Você nunca será tão importante quanto eu”. De fato, ele nunca será, mas ao menos ele poderia ser diferente.
Olho para a dupla de protagonistas e penso que eles poderiam ser um pouco mais carismáticos, ou não me remeterem tanto a Banjo e Kazooie. A Playtonic poderia mudar o quanto quisesse os modelos, as vozes, mas a partir do ponto em que eles decidiram que iam percorrer essa estrada do desenvolvimento com o conceito de recriar, não tem como não ficar com essa imagem na cabeça.
Poucos são os momentos que Yooka-Laylee realmente melhora algo, destaco apenas a possibilidade de pular a necessidade de nadar debaixo d’água graças a uma habilidade especial de poder usar uma bolha e ter os mesmos controles do que se estivesse em terra. Mas, se é para fazer isso, qual a razão de colocar seções subaquáticas para começo de conversa? Talvez por ter uma missão a cumprir de absorver e regurgitar todos os elementos, completamente todos, que compõem um jogo de plataforma / Collectathon.
Quem cresceu nos anos 90 ou no começo dos anos 00’s com certeza já deve ter ouvido as frases “Doom-Clone” ou “GTA-Clone”, atribuída a jogos que tentam seguir os passos dos gigantes, mas sem os ingredientes necessários para serem lembrados. São os survival/early access do passado. O mesmo poderia ser facilmente atribuído a Yooka-Laylee como um “Banjo-Clone”, isto é, se não tivéssemos um espaço de tempo de 19 anos entre um jogo e outro.
É muito fácil olhar para ele como alguém que cresceu na época e falar “Ah, mas é diferente disso, daquilo e daquilo outro” e esquecer que você tem uma faixa etária inteira que possivelmente jamais teve a possibilidade de jogar um jogo no mesmo calibre de Yooka-Laylee. Semelhantes? Sim, mas nunca que capturassem o espírito da época.
Aceite, nada vai trazer a sua infância de volta, não importa quantos projetos reapareçam no Kickstarter, quantos jogos foram anunciados, você não consegue replicar uma emoção e Yooka-Laylee sob essa ótica era fadado ao fracasso desde o momento que o primeiro rabisco do design alcançou o papel. Na mesma moeda, ele é um agradabilíssimo jogo de plataforma com fases relativamente bem trabalhadas para quem tem filhos.
Quanto mais velho a gente fica, mais desesperado ficamos para tentar voltar ao passado, isso se reflete no tipo de mídia que consumimos e almejamos. Yooka-Laylee é mais um acidente no meio do caminho para o nosso processo de aceitação de que o passado sempre vai ser passado do que um jogo mal executado.
Caso pare para prestar atenção em todos os detalhes de Yooka-Laylee, você, assim como eu, vai se sentir decepcionado. Convenhamos que seria assim desde o começo, não é mesmo? Eu prefiro o ver como um não tão memorável, porém acima da média jogo de plataforma e collectathon. Que a Playtonic continue por aí, quem sabe eles não refinam a fórmula?
Yooka-Laylee
Total - 7.5
7.5
Yooka-Laylee é mais uma vítima de um ambiente alimentado a base de nostalgia do que um projeto mal executado. É competente no que faz, mas que vai viver sempre a sombra do passado pela teimosia do ser humano em tentar recriar as emoções de sua infância.