Warhammer: End Times – Vermintide é brutal, é um jogo que te faz pensar duas vezes antes de adentrar um beco em um dos seus mapas, que te faz sentir receio em explorar alguma parte do cenário sem que seus amigos estejam por perto. É também um dos games cooperativos mais divertidos do ano. Ele está disponível no Steam a partir de R$55,99
Ambientado no período End Times da saga Warhammer – onde os ratos Skaven saem do subterrâneo e tomam conta de cidades inteiras – você escolhe entre cinco personagens para ser jogado nas mais de 13 fases do game.
A jogabilidade em si não traz nenhuma surpresa. Mapas lineares, cada classe com uma caraterística específica – como o Witch Hunter capaz de usar duas pistolas ou o anão com seu fiel escudo e machado – e ratos e mais ratos a serem mortos. Movimente, ataque com o botão esquerdo do mouse, use armas de curta ou longa distância, obtenha itens de cura ou que ofereçam bônus para agilidade / força espalhados pelo mapa.
O que pela superfície parece até um pouco desanimador, mostra-se interessante e complexo a medida em que completava as fases de Vermintide. O que faz ele se destacar é a imprevisibilidade de cada cenário. Com um sistema similar ao IA Director de Left 4 Dead, a posição dos inimigos é alterada toda vez que uma nova partida é iniciada. Jogar o mapa mais de uma vez era garantia de uma nova surpresa. Este resultado é bastante irônico, já que tenho severa aversão de jogar os mesmos mapas repetidamente, seja sozinho ou com amigos. Fazer isso normalmente me traz a sensação de que perco tempo, de que faço algo inútil, mas Vermintide garante que isso não será em vão.
Para um jogo cujo combate corpo-a-corpo é elemento essencial para a vitória, Vermintide consegue passa um bom “feedback” – a sensação de que acertou o inimigo – para o jogador, algo que muitos jogos tentam, mas não conseguem fazer tão bem quanto. Cada arma causa um efeito diferente ao atacar o inimigo, das rápidas adagas usadas pela WayWatcher a poderosa espada de duas mãos do Witch Hunter, que corta os ratos como se não fossem nada.
Vermintide, porém, não é um jogo que deve ou merece ser jogado sozinho. Quando apontei que é brutal, não é pela violência, mas pela dificuldade. Mesmo que o jogue no normal, ter uma boa equipe em mãos é crucial para vencer cada missão. Cada personagem tem um papel nas diversas batalhas que acontecem enquanto se navega pelas cidades de Ubersreik. Se todos decidirem atacar uma mesma posição, não verificar os flancos ou se não prestarem atenção ao que acontece à sua volta, a única coisa que verão é a tela de game over.
Tentei completar algumas das missões sozinho, com os outros três jogadores controlados pela inteligência artificial. O mínimo que posso julgar é como desastroso. Os personagens ficavam presos em partes do cenário, usavam itens de cura quando não precisavam, atacavam o que vinha pela frente. Enfim, um desastre que espero nunca mais ter que passar novamente. A partir daí usei apenas partidas privadas ou o eficaz sistema de matchmaking, que me colocava em uma partida em questão de segundos.
Momentos de tensão não são escassos em Vermintide graças ao uso inteligente de inimigos especiais, como ratos com metralhadoras ou ratos que te prendem e te arrastam para longe de seu grupo. Assim como os inimigos tradicionais, seu posicionamento do mapa varia de acordo com a rodada. Não há nada pior do que ouvir o som de raiva do gigante Rat Ogre ou a risada maléfica do Packmaster – um Skaven armado com uma garra capaz de te prender.
Para aumentar a longevidade, Vermintide oferece um sistema de loot que me deixa um tanto quanto preocupado. Não pela variedade, já que pelas diversas partidas que joguei obtive uma quantidade enorme de itens – alguns que mudam completamente o estilo de jogo do personagem – mas pela maneira que foram distribuídos. Por mais interessante ou variado que seja, o título não o incentiva a jogar mais mapas. A mesma chance de obter um item raro é idêntica tanto na primeira quanto na última fase. Acaba por não recompensar aqueles que se arriscarem em mapas complexos ou com objetivos mais difíceis.
O que é uma pena, já que o sistema de crafting e melhoria de itens é divertidíssimo. Transforme itens incomuns (verdes) em itens raros (azuis) – com habilidades passivas especiais – ou torça para que consiga um item lendário ou mítico.
Enquanto a progressão linear dos mapas é quase perfeita, Vermintide joga mais e mais barreiras em cima de você para que não consiga avançar. Um jogo com sistema de loot – como Diablo ou Destiny – provê o mínimo para que o jogador não sofra empecilhos para ao menos terminar a campanha principal, com equipamentos raros trancados atrás de dificuldades elevadas ou chefões. Vermintide pune quem for rápido ou não tem paciência com o sistema de loot. É um erro grave, concordo, mas que pode ser ajustado com atualizações futuras.
Enquanto não me estressava por não ter itens melhores ou por ter morrido pela milésima vez pelo um Rat Ogre, podia apreciar os belos cenários de Vermintide, isto é, se você tem uma máquina potente para isso. Da versão beta que joguei antes do lançamento, pouco foi feito para melhorar o desempenho, com cenas mais intensas fazendo a minha triste NVIDIA GTX 780Ti suar bastante. Felizmente ele conta com muitas opções para aqueles com PCs menos potentes.
Estou longe de ser um grande conhecedor de Warhammer para analisar se a estética está próxima do material original, mas os mapas conseguem ser variados o suficiente para dar uma ideia de que exploro a cidade e seus arredores. O destaque fica para a trilha sonora dinâmica, intensa em momentos de ação e misteriosa enquanto vasculhas as estreitas ruas de Ubersreik.
Vermintide faz quase tudo certo. Uma grande quantidade de equipamentos, mapas esteticamente variados, inimigos desafiadores, momentos de tensão e desespero. É um ótimo jogo para quem tem um grupo de amigos, mas que estejam dispostos a contornar os sérios problemas do sistema de loot e que não se importem de fazer a primeira fase vinte vezes na esperança de uma espada melhor.
A análise foi feita com base em uma cópia enviada pela Fatshark