Análise – Two Point Campus: Medical School

É possível sentir nostalgia por um jogo que saiu há cinco anos atrás? Até jogar “Two Point Campus: Medical School” (Steam / PlayStation / Xbox), eu acreditava que não. Agora eu não só começo a ter as minhas dúvidas, como também me perguntar se o que de fato estou sentindo nostalgia, ou apenas felicidade em reencontrar um velho amigo.

Meu relacionamento com “Two Point Hospital”, o antecessor espiritual de “Two Point Campus” foi uma de amor e ódio. Eu adoro o conceito do jogo, adoro as referências que ele faz ao clássico “Theme Hospital”, mas seu lançamento veio recheado de problemas que só cresciam à medida em que você progredia ao longo da campanha. A Two Point Studios ao longo dos anos corrigiu a maioria deles e o tornou o “básico” para “Two Point Campus”.

O outro lado da moeda é que “Two Point Campus” nunca me prendeu tanto quanto “Two Point Hospital”. O jogo carecia de dificuldade e os cursos oferecidos variam de “interessantes” para “por que isso está no jogo? Não adiciona em nada?”. “Medical School” é a cola que resolve ambos os problemas em uma tacada só.

Cada um dos três novos campus — Lake Tumble, Molten Rock e Pointy Peak — traz desafios que até então não estavam no currículo de “Two Point Campus”. De todos, Lake Tumble é o mais tradicional e meio que a porta de entrada para que os jogadores entendam que agora eles não irão só cuidar do ano letivo de uma faculdade, mas também garantir que ela não fique no vermelho e atenda os pacientes da região.

Eu estava um pouco hesitante sobre o conceito, “Será que isso não é demais para Two Point Campus?”, me perguntei desde o anúncio do DLC. Na realidade, eu acredito que é o que “Two Point Campus” devia ter sido desde o começo.

Não me leve a mal, eu gosto muito do ritmo de “Two Point Campus” para sessões mais relaxadas, mas às vezes eu queria um pouquinho mais de ação, de situações inusitadas ou eventos aleatórios. “Medical School” traz isso aos montes.

Eu não tinha ideia da saudade da sensação de caos que eu sentia após construir salas de cirurgia, enfermarias e salas de tratamento psiquiátricos. Os problemas de pathfinding de “Two Point Hospital” tinham ido embora e agora eu via os meus professores / médicos cuidando de pacientes e de tempos em tempos os meus estudantes aprendendo com eles. Digo, aprender é um termo muito forte no universo da “Two Point Studios” já que as doenças são mais bizarras do que a outra. Eu não consigo imaginar alguém usando um imã gigante para tratar uma doença …se bem que máquinas de ressonância magnética existem.

Mas o que me pegou de surpresa é o quanto carinho a “Two Point Studios” colocou nesse DLC e fez com que ele se destacasse acima de todos os outros. Pegue o primeiro campus, Lake Tumble. Por mais que eu fale que ele é “tradicional”, em nenhum ponto da minha campanha de “Two Point Campus” eu tive que tratar uma série de pacientes com doenças como “Disfunção réptil” — onde o paciente acredita que é um dragão medieval. Agora junte tal doença com um bando de universitários que nem sempre tem as qualificações necessárias para “curar” o paciente. O resultado? Catastrófico para dizer o mínimo.

Se “Two Point Hospital” te dava as ferramentas para contratar enfermeiros e médicos com as capacidades necessárias para cuidar de cada uma das doenças, “Two Point Campus” te coloca no meio do fogo e aumenta a chama em 200%. É hora dos seus estudantes aprenderem pondo a mão na massa, ou melhor, no paciente. Por sorte, o ritmo de aprendizado é bem mais “rápido” do que o antecessor espiritual, mas isso não diminui o desafio.

O que antes era “apenas” um jogo onde você tinha de cuidar do ano letivo dos seus estudantes ganhou uma nova dimensão. Acabou a história de colocar salas a “esmo” ou só achar que a nota mínima é necessária para não deixar a faculdade falir. Agora os objetivos mínimos de cada novo campus requerem um posicionamento inteligente das áreas e uma melhor divisão entre salas de aula / descanso para otimizar a eficiência. Outra vez, algo que seria impossível em “Two Point Hospital”, mas graças às incríveis melhorias de “Two Point Campus”, agora é possível.

Dessa vez eu de fato me sentia gerenciando uma faculdade. A sobreposição de prover amenidades básicas para os professores e estudantes, junto com a dezena de aparelhagens médicas e os mais tipos diferentes de doenças — visíveis ou não — me faziam parar a partida de tempos e tempos e pensar “Ah, mas seria aqui o melhor local para colocar uma sala de cirurgia? E se eu mudar para outra parte do mapa?”. Vale lembrar que você não vai estar só ensinando medicina nesses novos campuses, mas todo um ano letivo com diferentes cursos. Como disse, é um desafio e tanto.

Eu não quero estragar a surpresa dos outros dois campuses, mas o meu favorito é Molten Rock. Afinal, não há nada mais intenso do que tentar cuidar de pacientes, tentar administrar uma faculdade e ainda torcer para que um vulcão não entre em erupção. Isso sem contar os piratas que aparecem para te…. pedir uma consulta. Sim, piratas que vão ao médico. Bem, melhor isso do que ter a perna cortada como era na era das grandes navegações. Deixo apenas uma dica: coloque bastante pessoal de manutenção, pois se estudantes não estiverem pegando fogo, os professores estarão. E, é claro, não deixar de contratar caçadores de fantasmas, pois vidas serão perdidas mais cedo ou mais tarde.

Quiçá foi a primeira vez desde que eu iniciei a minha campanha de “Two Point Campus” lá no seu lançamento onde eu não vi as horas passarem. Arruma ali, ajeita acolá, ajusta daquele ou de outro jeito. Cada peça, cada estudante, cada sala crucial para garantir completar o mapa com uma estrela. Três estrelas? Pegue o bloco de anotações, pense e repense cada ação.

Só tem uma coisa que me entristece em relação a “Two Point Campus: Medical School”, o fato de que eu nunca vou sentir a mesma emoção ao voltar para os mapas anteriores do game para completar os desafios que me faltam. Eu não quero o “marasmo” de só colocar mais prédios ou atingir objetivos fáceis, eu quero que “Two Point Campus” traga conteúdo de qualidade como “Medical School” daqui para frente. Isso é possível?, só o tempo dirá.

Quanto à nostalgia, e a questão de ter reencontrado um velho amigo ou não? Bem, eu reencontrei um velho amigo em uma nova roupa. E estou muito, mas muito orgulhoso de ver o quanto ele cresceu durante a minha ausência.