Às vezes é difícil de compreender o quão “revolucionário” foi “Half-Life” no cenário dos shooters. A comunidade de PC foi rapidamente “agraciada” com jogos que davam maior ênfase em narrativa ao invés dos tradicionais “Doom-clones”. A história nos consoles foi bem diferente, com o primeiro jogo a ter um gigantesco impacto sendo “Halo”. Nesse meio tempo houve várias tentativas, dentre elas está “Turok 3: Shadow of Oblivion” para o Nintendo 64; agora remasterizado para PC, Nintendo Switch, Xbox e PlayStation. Você nunca ouviu falar em “Turok 3”? Fique tranquilo, você não está sozinho.
“Turok 3: Shadow of Oblivion” é, nos seus melhores momentos, o patinho feio da franquia. “Turok” tentou se reinventar a cada sequência. O primeiro jogo usava um sistema de hub, o segundo adicionou objetivos secundários e mais backtracking. O terceiro, lançado no final da vida do Nintendo 64 (e um dos poucos jogos a serem “melhorados” com o uso do pacote de expansão de memória) tentou seguir os passos de “Half-Life”.
A desenvolvedora Acclaim Studios foi ambiciosa, matando o protagonista principal da franquia, Joshua Fireseed e colocando os irmãos Danielle e Joseph como peças centrais da franquia. Essa é a primeira — e até então única — tentativa da franquia de desenvolver um jogo com dois personagens jogáveis.
As diferenças entre eles não são gritantes, mas são mais do que suficientes para você querer rejogar a versão remasterizada pelo menos mais de uma vez. Por que a versão remasterizada? Bem, a não ser que você tenha um Nintendo 64 em mãos e uma cópia de “Turok 3: Shadow of Oblivion”, é a única forma de jogar ele. E, sinceramente, é a melhor opção.
Eu me lembro muito bem a primeira vez que eu joguei “Turok 3: Shadow of Oblivion” no meu finado Nintendo 64. Ainda não possuía o pacote de expansão de memória e a minha experiência foi, no mínimo, sofrível. Era comum os jogos do console da Nintendo — especialmente shooters — não terem a melhor taxa de quadros possível. Mas a Acclaim Studios tentou levar o potencial do console aos seus limites, o que resultou em cenários vazios, inimigos que desapareciam do mapa e uma taxa de quadros comparável a uma apresentação de Powerpoint.
Na época, todos estavam apaixonados por “Perfect Dark” da Rare e não era à toa. Joanna Dark era uma protagonista muito mais interessante do que os irmãos Fireseed e os mapas desenvolvidos pela Rare estavam anos luz do que “Turok 3: Shadow of Oblivion” tinha a oferecer.
A remasterização, que para mim pode ser considerada quase um remake tamanha a diferença de modelos, iluminação e taxa de quadros, “Turok 3: Shadow of Oblivion” ganha um novo significado. É uma interessante peça histórica de uma desenvolvedora que estava a todo custo tentando acompanhar as constantes mudanças de mercado.
A primeira mudança notável é o ritmo das fases, que são muito mais lineares em comparação a “Turok 1” e “Turok 2”, a adição de objetivos e uma tentativa de produzir uma história coesa. Os resultados, bem, não são os melhores.
O uso de um cartucho no Nintendo 64 e, por consequência, a limitação de espaço do console ficam notáveis na remasterização. Fases curtas, objetivos que nem sempre são claros e que às vezes se sobrepõem de acordo com a ordem que você os completa, telas de carregamento à torto e a direito. Por sorte, tê-lo instalado em um SSD as fazem serem praticamente instantâneas, mas mostra o quão limitada estava a Acclaim no período.
Este também é o primeiro jogo da franquia a não começar a história com dinossauros e sim com alienígenas — incluindo um bizarro alien que se integra com uma nave voadora da polícia e vira o seu primeiro chefão. Bom, se “Half-Life” teve alienígenas, é melhor mudarmos a identidade de Turok, certo? É assim que vejo o processo de desenvolvimento do game.
Mas, apesar das mudanças bruscas na temática, ele ainda retém o que faz “Turok” para mim ser, bem, “Turok”. Eu fui atraído pela franquia primeiro por dinossauros, depois pela violência absurda e completamente desnecessária e está muito bem presente em “Shadow of Oblivion”. Há dias que eu só quero atirar nos inimigos sem pensar muito, e a franquia “Turok” sempre me proveu isso.
Se algo, a Nightdive Studios apenas reforçou o salto em termos de qualidade das animações que a Acclaim tinha produzido entre “Turok 2” e “Turok 3”. Inimigos se balançam e grunhiam de dor quando você arranca uma perna deles, ou o sangue exagerado da arma favorita de todos — a “Cerebral Bore” — quando entra no cérebro de um monstro ainda não deixa de me fazer soltar uma risada.
A Nightdive também finalmente mostra o quão incrível são os cenários desenvolvidos para o terceiro game da franquia, com algumas fases mostrando uma forte inspiração no primeiro Unreal e outras quase proféticas de que íamos ver muitas cidades em shooters a partir dos anos 2000. A empresa foi além e também trouxe uma série de correções de bugs e ajustes no ritmo de certas fases, além de adicionar áreas que não tinham sido implementadas sem fazer elas parecerem destoantes.
Para quem for jogar no PC, já adianto que o suporte a mouse e teclado (já que “Turok 3: Shadow of Oblivion” nunca foi lançado para a plataforma) está soberbo assim como o suporte a controles. Minha dica, no entanto, é desativar a “mira automática” pois deixa o jogo fácil demais.
Não posso também hesitar em apontar que tenho uma forte nostalgia pela franquia e que muito da minha crítica se baseia nessa nostalgia. É provável que alguém que não tenha intimidade alguma com ela olhe para “Turok 3: Shadow of Oblivion” e fale: “É isso que você julga algo decente ou mediano? Isso é horrível!”, e eu não discordaria dela.
“Turok 3: Shadow of Oblivion” foi, e sempre vai ser um gigantesco divisor de opiniões dentro da comunidade. Alguns vão detestar a sua linearidade, outros vão se apaixonar por ela representar algo mais próximo dos shooters dos anos 2000.
Talvez, em uma linha do tempo diferente, “Turok 3” tenha sido lançado para PlayStation 2 ao invés do terrível “Turok: Evolution”. Ou, quem sabe ele viraria uma pérola do Dreamcast. Mas a vida não segue um caminho reto e dentro dos limites a Acclaim fez um trabalho fantástico no Nintendo 64. Trabalho este, que agora é apresentado para o mundo de uma forma mais atraente e com dezenas de pequenas correções pelo trabalho incrível da Nightdive Studios.
Uma coisa eu acho certa. Se você tem o menor interesse na história de shooters e a evolução dos mesmos, você tem que jogar “Turok 3: Shadow of Oblivion”. Como falei, ele pode ser o patinho feio, mas ainda mostra muito bem o que foi a evolução dos shooters em uma indústria volátil. Bom, uma coisa esses 23 anos não mudaram, a indústria de jogos continua tão volátil quanto. A Acclaim não existe mais, e 2023 também acabou com a vida de outras tantas desenvolvedoras.
Bem, ao menos posso reviver um pouco do passado com “Shadow of Oblivion”.
Turok 3: Shadow of Oblivion Remastered
Total - 8
8
“Turok 3: Shadow of Oblivion” pode ter perdido o encanto dos mapas interconectados dos seus antecessores em favor de linearidade. Todavia o trabalho da Nightdive Studios mostra o quão incrível o jogo foi para a sua época, agora com visuais e correções de bugs, merece uma nova chance. Quem sabe você não se surpreenda?