Eu e o primeiro remaster de Turok não nos demos muito bem em 2015. Ambicioso nos anos 90, o game havia tomado uma forma grotesca para os tempos atuais, com ideias mal implementadas e de gosto duvidoso. Turok 2: Seeds of Evil, segue o caminho contrário e mostra que de todos é o que melhor envelheceu.
Pergunte para alguém que jogou na época do lançamento quais são as memórias favoritas e o nome Cerebral Bore vai surgir. A tão saudosa arma, que literalmente faz com que um inseto entre na cabeça e perfure o cérebro dos inimigos é apenas uma faceta que esconde o real brilhantismo de Turok 2, o aperfeiçoamento do mundo semi-aberto e não linear do anterior.
Em 1998 todos nós já havíamos recebido a nossa dosagem de Quake 2, Half-Life e outros shooters que então vinham tentando integrar uma melhor narrativa ao gênero do que apenas o uso de chaves. Turok 2 é como estar no meio dessa encruzilhada e sem uma identidade própria. Port of Adia, a primeira e talvez mais icônica fase do game, é o que melhor representa isto.
De um lado temos um design com menos jumping puzzles, menos verticalidade, uma estrutura mais coesa e objetivos melhor delineados. De outro, uma tentativa meio desesperada de injetar mais personalidade ao protagonista e ao mundo em si.
É inerente da época que não tenhamos mecanismos de narrativa tão bem elaborados como hoje em dia, o que torna a tentativa de uma história ainda mais engraçado. A primeira missão põe Turok para salvar crianças que por algum motivo bizarro foram capturadas pelos dinossauros. Cada uma delas então comemora com um feliz “Thank you Turok! ” ao ser libertada. Sob qual contexto aquelas crianças estão ali? Por que seriam alvos de dinossauros bípedes?
O quase-surrealismo do cenário reforça a ideia da falta de uma identidade. Port of Adia é estabelecida dentro de uma noção arquitetônica sedimentada na realidade, mas basta passar dela que já no final você é transportado para locais que até tenho dificuldade de descrever. Uma nave espacial alienígena, com pinceladas de HR Ginger escondidas em meio a baixas texturas e uma trilha sonora que mistura uma eletrônica com ritmos tribais.
Esta tradição de elementos bizarros cuja estética dá ainda mais espaço para interpretação é a marca dos anos 90 e a Night Dive Studios conseguiu mantê-la com pequenos toques para torna-la menos datada. Um desfoque de movimento sobre os objetos e sobre a câmera faz com que certas ações tomem um ar mais natural. O mesmo pode ser dito para a iluminação e sombras, que recebe uma boa recauchutada nesta versão.
Uma das coisas pouco creditadas ao shooter é o quão fluído é sua movimentação, reflexo de uma base criada a partir de jumping puzzles. A Acclaim consegue transpor a noção do protagonista se agachar, deslizar, pular e o peso que ele carrega em si com pequenos ajustes na câmera que dá um tão desejado toque de imersão.
É uma pena que a versão de Nintendo 64 raramente passava isto dado a mediana taxa de quadros e sem a agilidade que você tem no PC. No remaster você consegue perceber o impressionante detalhe aplicado em cada área do game; Animações de morte variadas, melhores oportunidades de se proteger de ataques inimigos com pulos e como eles se esquivam ou tentam fazer com que o jogador alterne as táticas de combate. Vale lembrar que falo de 1998 e certas minuciosidades, como uma IA que tende a esquivar, só ia ressurgir com mais força em shooters como F.E.A.R. e S.T.A.L.K.E.R., considerados por mim como referências em subverter as táticas impostas pelo jogador.
O segundo, e talvez mais importante para a época, pilar de Turok 2 estava no saudoso modo multiplayer. Quem começou nos consoles vai ter ótimas lembranças das partidas de capture the flag e os diversos modos e a opção de usar as mesmas armas da campanha no modo. Ao tirarmos os nossos óculos de nostalgia, o multiplayer de Turok 2 não é nada mais do que uma adição razoável para os tempos atuais.
A Night Dive Studios até tentou dar uma revitalizada com a inclusão de um modo King of The Hill, mas sejamos sinceros, na época tínhamos shooters online mais competentes no PC. Bate na mesma velha história de você jogar algo que gostava na infância e descobrir que não é tudo isso. Vai uma, duas partidas até perceber que bem, há coisa muito melhor e variada tanto daquela época quanto atualmente para gastar tempo online.
A realidade é que independentemente desses problemas, mais relacionados ao período do que o jogo em si, Turok 2: Seeds of Evil recebeu o tratamento de luxo, é um shooter que merece ser jogado ontem, hoje e sempre. Somos terríveis em preservar a nossa própria história, quanto mais a história de jogos e projetos como o que a Night Dive Studios faz deve ser a regra e não a exceção. Não deve se limitar aos grandes nomes, mas também aos esquecidos como Powerslave (Ou Exumed), assim teremos uma base melhor para discutirmos sobre mecânicas, e obviamente aproveitar os games do passado.
Turok 2: Seeds of Evil
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Datado em algumas áreas, Turok 2: Seeds of Evil é tão relevante quanto em 1998. A rica atenção aos detalhes e uma considerável evolução em relação ao antecessor o tornam essencial para discutir sobre shooters. Um pedaço da história dos anos 90 resgatado em sua plenitude.