Imagine juntar duas franquias divertidas e engraçadas — Blood Dragon e Trials. Agora misture-as bastante até que nenhuma das duas faça nenhum sentido, muito menos seja interessante. É mais ou menos a minha percepção sobre Trials of the Blood Dragon, um lançamento surpresa da Ubisoft durante a E3 2016 e disponível para PC, Xbox One e PlayStation 4 a partir de R$ 39,99.
Quando lançado em 2013, Far Cry 3: Blood Dragon era divertido não apenas pela ambientação absurda Neo-80’s misturada com dinossauros que soltam lasers, mas também por ter mecânicas que sustentavam isto. A base de Far Cry 3 apesar de rasa, é relativamente boa. O contrário se aplica em Trials, onde o ambiente nunca foi muito interessante, por outro lado o desafio de fazer manobras e equilibrar uma moto em cenários absurdos se mantinha constante do início ao fim.
Trials of the Blood Dragon consegue ter uma ambientação legal, história engraçada e personagens carismáticos, herança do game que o originou. Mas, aplicar isto em um Trials não deu nada certo. A franquia de moto da Ubisoft sempre soube balancear mecânicas inusitadas, fases desafiadoras e fases recompensadoras. Neste Spin-off, temos apenas frustração.
Praticamente toda fase tem alguma mecânica que parece uma “gimmick”, que está lá apenas para “fazer volume” ou “justificar algo”. Elemento que piora mais ainda quando se inclui missões a pé e com armas. Tudo bem, eu entendo, Trials é um game facilmente modificável pela comunidade e que pode incluir inúmeras mecânicas. Isto não quer dizer que isso deve ser implementado em um spin-off.
Jogar fases que não envolvem motos é basicamente como tentar controlar um avião sem um manche e com os pedais quebrados, não funciona. Pular é confuso, a câmera é confusa, os controles não respondem e com um golpe você está morto. Na medida que progride, as missões tornam-se ainda mais frequentes e expõem os pontos mais fracos da série Trials — manipulação, timing e tempo de resposta.
Boa parte dos quebra cabeças de Trials são baseados no “momentum” entre equilibrar a moto, atingir um nível de velocidade que se equivale com o ângulo e altura que deve atingir para pular de uma rampa a outra. Quando se coloca algo mais frenético como em Trials of The Blood Dragon, isto se perde.
Estilo sobre substância, temática acima da jogabilidade. A variação nas fases e nas mecânicas não resultam em uma sensação mais impactante por parte do jogador, muito pelo contrário, fogem da temática que tornou a série famosa.
Queria me sentir envolvido nas fases, queria ser desafiado à medida que variavam, ter a mesma sensação de intensidade que era mostrado no cenário: Explosões, helicópteros, tiroteio, ação. Ao invés disso, tinha a monotonia de dirigir a moto com o maior perigo ser errar um pulo ou ficar à mercê dos terríveis controles para não tomar um tiro.
Eu aplaudo a tentativa de Ubisoft de transformar a franquia Trials em algo diferente do que é, definitivamente um interessante estudo de caso entre a dissonância entre as mecânicas e a percepção do público de uma franquia.
Mas como um jogo para o consumidor final, não há como recomendá-lo a não ser para aqueles extremamente pacientes. Aqueles que não vão querer quebrar o controle ou o teclado a cada pulo errado ou cada missão “variada” que não adiciona nada de importante para a franquia.
Que tenhamos mais jogos que ao menos tentem quebrar as regras do funcionamento de uma franquia, mas Trials of The Blood Dragon não é um exemplo a ser seguido. As risadas das cinemáticas não compensam a frustração das missões. Uma pena, eu queria gostar de verdade, mas cada tentativa era uma tortura para aceitar que simplesmente não é divertido. Por hora, fique em Trials Evolution ou Trials Fusion, ainda são as melhores escolhas.
A análise foi feita com base em uma cópia para PC fornecida pela Ubisoft